Segundo diversos estudos realizados pelo IFOP, os casos ou polêmicas “chocaram”, desde o segundo semestre de 2009, esse eleitorado situado mais à direita.

Sinal de descontentamento passageiro ou manifestação de uma crise de desconfiança perene? Se for considerada a síntese das pesquisas realizadas pelo IFOP [Instituto Francês de Opinião Pública] desde 2007, e analisadas para o “Le Monde” pelo instituto, a popularidade de Nicolas Sarkozy junto aos católicos, praticantes ou não, caiu muito em um ano, desde o segundo semestre de 2009.

Segundo o termômetro estabelecido a cada mês pelo IFOP para “Le Journal du Dimanche”, a porcentagem de católicos praticantes satisfeitos com a ação do presidente da República passou de 61%, em agosto de 2009, para 47% em julho de 2010. Entre os não-praticantes, cuja opinião não estava distante da dos franceses em geral, o desinteresse é nítido desde as eleições regionais. Junto a um eleitorado mais próximo da direita, o índice de aprovação passou para abaixo da média dos franceses.

Para Jérôme Fourquet, vice-diretor do departamento de opinião da IFOP, as razões desse repúdio estão ligadas a uma série de acontecimentos e casos simbólicos que teriam “chocado” os católicos, e em particular os mais idosos, em sua maioria mulheres com mais de 55 anos que constituem, segundo o IFOP, o “retrato-falado” dos praticantes. Junto a essa minoria, até então “militantes do sarkozismo”, as polêmicas ligadas ao passado pessoal do ministro da Cultura Frédéric Mitterrand, ao projeto do presidente de nomear seu filho Jean, 23, para a direção do Estabelecimento Público de la Défense, e depois ao anúncio do acúmulo de funções e de salários de Henri Proglio, presidente da Veolia nomeado diretor-geral da EDF (empresa de energia elétrica) pelo governo, deixaram marcas.

“A França católica praticante que mantém uma visão tradicional da sociedade se mostra particularmente tensa a respeito do homossexualismo, bem como sobre os valores do trabalho e do mérito”, diz Fourquet.

Segundo ele, essa França também manteve “uma visão particular sobre o dinheiro”. As recentes revelações dos “casos” envolvendo as despesas com charutos do ex-secretário de Estado Christian Blanc, o uso de um avião particular por Alain Joyandet, também secretário de Estado, e a remuneração da ex-ministra Christine Boutin, ampliaram o distanciamento.

Em geral, os católicos entrevistados pelo IFOP não estariam insatisfeitos com o chefe do Estado pelos resultados de sua política econômica e social em matéria de emprego e de poder de compra. “Para pessoas sensíveis aos valores de solidariedade e de compartilhamento, sobretudo em período de crise, qualquer forma de esbanjamento é chocante”, explica Fourquet.

No início do mandato, o presidente da República dirigiu várias mensagens aos católicos, especialmente durante seu discurso, em março de 2008, sobre o laicismo e a evocação das raízes cristãs da França. Mas “ele se encontra desfavorecido por outros aspectos de sua política ligada à sua vida pessoal e ao dinheiro”, completa Fourquet.

A próxima avaliação IFOP-JDD esperada para o fim do mês deverá permitir que se verifiquem as consequências junto à opinião pública do caso Woerth-Bettencourt, bem como do ataque preventivo “de segurança” iniciado por Sarkozy a respeito da perda de nacionalidade e da expulsão dos ciganos.

[b]Fonte: Le Monde[/b]

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