Branco para protestar. Na manhã desta sexta-feira, 19, militantes em favor da liberdade religiosa e adeptos dos cultos de matriz africana usaram a cor de Oxalá não apenas nos trajes. Vestiram a cidade toda, da Praça da Sé à Lagoa do Abaeté, com os tecidos brancos utilizados nos rituais de candomblé, os ojás.

O objetivo foi exigir respeito e combater a intolerância religiosa, não apenas na cidade, mas em todo o Brasil. Por volta das 9h, o Coletivo de Entidades Negras (Cenbrasil), começou a Alvorada dos Ojás na Praça Municipal, junto à cajazeira centenária que fica ao lado do Memorial das Baianas e ao monumento da Cruz Caída, de Mário Cravo Júnior.

O grupo realizou um ato litúrgico no local. Baianas dançaram e músicos tocaram instrumentos típicos. “Viemos fazer um pedido aos nossos ancestrais, de força para resisitir e lutar pela liberdade de religião, deixando nossas energias na cajazeira”, explicou Marcos Rezende, coordenador do Cenbrasil, conselheiro da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos e ogã do terreiro Ilê Axé Oxumaré.

Também foi lido um manifesto contra a intolerância e pela liberdade de culto, assinado por mais de mil terreiros de Salvador e outros 40 municípios do estado. O documento relembra o caso de Mãe Gilda, sacerdotisa que adoeceu e morreu após a publicação de uma foto sua no jornal Folha Universal, da Igreja Universal do Reino de Deus, em matéria que a tratava, segundo os militantes, como praticante de charlatanismo.

A demolição do terreiro Oyá Unipó Neto, no bairro do Imbuí, em fevereiro passado, foi outro caso de agressão ao povo-de-santo citado pelo manifesto. Marcos Rezende, que fez greve de fome em protesto na ocasião, disse que esse tipo de ataque precisa ser combatido não apenas na época de eleição, mas sempre: “Agora todo mundo fala em respeitar as diferenças entre as religiões, mas, quando a disputa por votos acaba, todo mundo se esquece das promessas. Não houve nenhuma ação concreta em defesa dos adeptos de religiões de matrizes africanas em Salvador. O mapeamento dos terreiros de candomblé, por exemplo, deveria ser acompanhado da regularização fundiária dos locais, prometida pela prefeitura em regime de urgência, mas até hoje o projeto está parado na Câmara de Vereadores”.

O manifesto trata também de assuntos de outros estados. No Rio Grande do Sul, há a discussão de uma lei em defesa dos animais que, segundo o coletivo, inviabilizaria a liturgia dos cultos afro-brasileiros. Em São Paulo, um terreiro com mais de 25 anos foi lacrado pela Prefeitura sob a alegação de mudança de zoneamento urbano e de que o barulho dos atabaques incomoda a vizinhança. No Rio de Janeiro, uma mulher adepta de cultos africanos chegou a perder a guarda do filho, porque a presença de imagens religiosas afetaria o desenvolvimento da criança.

A Alvorada dos Ajós também marcou o lançamento da quarta Caminhada Pela Vida e Liberdade Religiosa, que será realizada em 23 de novembro, saindo do busto de Mãe Runhô, no Engenho Velho da Federação, até o Dique do Tororó.

Fonte: A Tarde Online

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