Afastado pela Igreja Universal em 2004, no auge das denúncias de envolvimento no caso Waldomiro Diniz, o ex-bispo e ex-deputado federal Carlos Rodrigues está de volta às atividades da Universal. De uma sala modesta na TV Record, no Rio, dirige há oito meses a Rádio Nova AM, do grupo de comunicações ligado à igreja que ajudou a fundar –e que lhe deu e lhe tirou o título de “bispo”.

Cabelo cortado à máquina, em estilo moderno, camisa polo vermelha, calça jeans, mochila esportiva e lentes de contato em vez dos óculos dos tempos de bispo da Universal, Rodrigues aparenta menos idade e mais agilidade do que quando era deputado federal.

Aos 50 anos, atribui a jovialidade à qualidade de vida fora da política. Talvez sejam a academia e as caminhadas na praia da Barra da Tijuca, agora que tem “tempo para almoçar e jantar”.

Mas não é um homem feliz. “Meu sonho é Jesus me chamar para a glória dele, a libertação. Ir embora deste mundo. Não vou morrer por suicídio, mas todos têm uma missão e já fiz tudo o que tinha de fazer: acertei algumas coisas, errei outras. Estou esperando, só isso”, diz, entre passos ansiosos de um lado para o outro.

Investigado em três dos maiores escândalos de corrupção do governo Luiz Inácio Lula da Silva (caso Waldomiro, Mensalão e Máfia dos Sanguessugas), Rodrigues, desde 2004, perdeu o cargo na igreja, o mandato e a mulher –as coisas que mais apreciava. Atribui tudo à política.

É por isso que “seu Rodrigues”, como é hoje chamado pelos funcionários — proíbo que me chamem de bispo”–, diz não querer mais saber de política, onde “desgraçadamente” passou quase dez anos e à qual atribui a perda de sua “santidade e alegria”.

Comandou com mão-de-ferro a área na Universal, desde antes de ser deputado federal, em 1999. Escolhia candidatos em todo o Brasil e dava o tom das campanhas da Universal. Era o líder político da igreja, que em 2002 elegeu 54 deputados federais e estaduais.

“Perdi a pureza de coração. Era um homem muito diferente, crédulo total. Levei 15 anos sem ouvir um palavrão. A política mostra a crueza do que é o ser humano. Não há honradez, palavra, honestidade. Perdi minha vida, o que tinha de mais importante: minha santidade, a vida pura, limpa. Perdi a alegria”, diz, roendo o sabugo do polegar esquerdo.

Antes, ao ouvir que o tema da entrevista era política, levantou-se bruscamente da cadeira, onde acabara de sentar, e encaminhou o repórter à saída. “Jovem, não falo de política, não sou político, não dou entrevista. Não sou candidato a nada. Não leve a mal”, interrompeu, ríspido. Mudou de atitude, ao ouvir que o repórter era da Folha e não da ‘Folha Universal’, da igreja.

Conta que vive hoje um “conflito grande” e tenta recomeçar a vida, tornar-se um novo homem e entender quem é. “Não sou mais bispo, nem deputado. Tenho de recomeçar a vida, esquecer tudo o que fui, ser um novo homem, só que cheio de problemas do passado.”

Réu na Justiça, Rodrigues não sabe se vai preso, mas está “preparado para tudo”. Relatou que nos 32 dias de prisão que passou em Brasília e em Cuiabá (MT), em 2006, na Operação Sanguessuga, orou com Fernandinho Beira-Mar e batizou sob o chuveiro um assassino dos fiscais do trabalho em Unaí (MG). Na cadeia, viu “gente comer fezes”, falando em suícídio, mas voltou “às origens”, fazendo dois cultos diários e consolando presos.

Waldomiro foi ‘pretexto’

Quatro anos e meio após sair da Universal e perder o título de bispo, Rodrigues disse ter sido afastado porque “pecou contra o casamento”, e que o caso Waldomiro foi um pretexto, pois aconteceu ao mesmo tempo.

“Sempre amei a igreja [Universal]. Amo-a, embora esteja afastado das coisas da igreja, que é santa e bem dirigida por homens puros. Errei. Saí porque errei, tenho de dar a mão à palmatória. Errei na minha vida pessoal, pequei contra o casamento.”

Afirma não sentir falta da política nem do poder do mandato. “Poder é ser bispo! O resto é lixo!”, diz, e solta uma gargalhada nervosa. “É porcaria!”

Embora ex-bispo, a religiosidade continua presente no discurso. Mantém o hábito de chamar a todos de “irmão” e “irmã”, concorda com as pessoas dizendo “amém” e se despede com um “fica com Deus”. Apesar de comandar a rádio Nova e de ser dono de quatro emissoras hoje arrendadas no Nordeste e de um jornal em Minas, Rodrigues lamenta o ocaso na igreja. “Não sou mais bispo. Eu era general, hoje sou cabo raso.”

Fonte: Folha Online

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