A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) afirmou ser contra “discriminação por motivos religiosos” e que o “respeito às crenças ou descrenças deve ser cultivado”.

Uma professora de geografia de uma escola estadual de Minas Gerais resolveu iniciar as suas aulas rezando o pai-nosso com todos os alunos. Um deles, ateu, decidiu manter-se em silêncio.

Ao notar a reação do estudante, ela lhe disse, segundo o relato do aluno, que “um jovem que não tem Deus no coração nunca vai ser nada na vida”. O aluno se irritou, os dois discutiram, e o caso foi parar na diretoria da escola.

O Estado brasileiro é laico e a Constituição, tal como o estatuto do magistério, proíbe discriminação religiosa.

A Secretaria de Estado da Educação de Minas apura se houve infração da professora. A secretaria disse ontem tê-la orientado a não rezar mais em sala de aula.

O caso ocorreu há duas semanas na escola estadual Santo Antonio, em Miraí, cidade de 13,8 mil habitantes que fica na Zona da Mata, a 335 km de Belo Horizonte.

Uma inspetora regional responsável pela escola disse que a professora foi “mal interpretada” e que sempre tinha o “hábito” de rezar.

Quem discutiu com a docente foi Ciel Vieira, 17, ateu há dois anos. “Eu disse que o que ela fazia era impraticável segundo a Constituição. E a professora disse que essa lei não existia”. Lila Jane de Paula, a professora de Ciel, não quis falar com a reportagem.

[b]DISCUSSÃO[/b]

Ciel, cuja mãe autorizou que ele falasse com a Folha, afirmou ter pedido para a professora parar, sentindo-se humilhado. Lila o instou, diz, a levar um juiz à sala de aula.

“Ela não me pediu desculpas.” A resistência à oração o fez ser vítima de bullying de colegas, afirma -disseram que ele era “do demônio”.

O garoto gravou parte da oração e pôs no YouTube, sob o título “Bullying e Intolerância Religiosa”. No vídeo, é possível escutar o som do pai-nosso. Ao fim, ouve-se: “Livrai-nos do Ciel”, em vez de “Livrai-nos do mal”. Foram colegas de classe, diz.

Avisada, a mãe de Ciel foi à escola. Segundo ela, Lila se justificou dizendo que, ao falar que “o jovem que não tem Deus nunca vai ser nada na vida”, quis, na verdade, falar que o jovem não seria nada “espiritualmente”.

“Meu filho sempre foi um aluno ético. Até chorei quando vi o vídeo dele”, disse a mãe, que é espírita e não quis dizer o nome. Ficou acertado com a escola que a professora não daria mais a primeira aula para Ciel -assim, ele não teria que ouvir o pai-nosso. “Resolveram o meu problema e jogaram o resto para de baixo do tapete”, disse.

A ONG Ação Educativa condenou a prática. Um professor público tem de ser neutro, diz. “As orações nas escolas públicas ocorrem desde sempre, à revelia da lei”, diz Daniel Sottomaior, presidente da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos.

[b]CNBB critica pai-nosso obrigatório em escola[/b]

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) afirmou ontem ser contra “discriminação por motivos religiosos” e que a Igreja Católica entende que o “respeito às crenças ou descrenças deve ser cultivado”.

Foi uma referência ao fato de Ciel Vieira, 17, aluno de uma escola estadual de Miraí, em Minas, ter dito que uma professora o hostilizou por ele não rezar o pai-nosso na classe. O estudante é ateu e a professora, Lila Jane de Paula, católica. O caso foi relatado pela Folha ontem.

“A oração é um diálogo livre e amoroso da pessoa ou da comunidade com Deus. Não faz sentido obrigar uma pessoa a rezar, como também proibi-la”, afirmou dom Tarcísio Scaramussa, bispo do setor de universidades e ensino religioso da CNBB.

A Secretaria de Estado de Educação de Minas apura se houve infração de Lila. Ela foi “advertida” e instada a não rezar mais dentro da sala. O Estado brasileiro é laico.

Ciel Vieira e a mãe disseram que não vão processar a escola. Procurada novamente ontem, Lila não quis falar.

[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]

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