Pesquisa Datafolha mostra que Bento 16 chega na quarta-feira a um país com proporção muito menor de católicos do que aquele visitado há dez anos por seu antecessor. Hoje, 64% dos brasileiros acima de 16 anos se declaram católicos. Em dezembro de 1996, o último levantamento feito antes da vinda de João Paulo 2º colocava esse número em 74%.

Nesse período, a participação dos evangélicos pentecostais passou de 11% para 17%. As pesquisas feitas nesse intervalo mostram que o encolhimento do primeiro grupo e o crescimento do segundo perdeu velocidade no início desta década.

O catolicismo continua a perder fiéis, especialmente para os protestantes pentecostais, porém a religiosidade do brasileiro permanece altíssima, resultado em grande parte do trabalho de séculos de evangelização empreendido pela Igreja Católica no país.

Pesquisa Datafolha sobre “os brasileiros e a religião” revela que, em 2007, 64% dos entrevistados se declaram católicos, contra 70% em 2002, 72% em 1998 e 74% em 1996. O papa Bento 16, que chega nesta semana a São Paulo, encontrará um país com uma fatia menor de católicos do que aquelas que acolheram seu antecessor, João Paulo 2º, em três visitas ao Brasil (1980, 1991 e 1997).

O levantamento revela, no entanto, que a velocidade de queda da fração de católicos na população brasileira tem diminuído. De acordo com Mauro Paulino, diretor do Datafolha, houve uma queda mais acentuada nos anos 90 na proporção de católicos (de um patamar de 75%, em 94, para outro de 70%, no final do decênio).

No início da década atual, ele diz, a fatia de católicos se estabiliza em torno de 70%. Entre 2003 e 2007, o patamar volta a cair, mas, desta vez, para algo em torno de 66%. “Houve nova queda, mas não tão acentuada quanto a detectada na década anterior”, afirma Paulino.

De acordo com o Censo 2000, 74% dos brasileiros eram católicos. Enquanto o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) inclui indivíduos de todas as idades em sua contagem, o Datafolha realiza entrevistas apenas com pessoas maiores de 16 anos.

De acordo com a pesquisa Datafolha de março deste ano, 17% dos brasileiros dizem hoje pertencer a uma religião “evangélica pentecostal”, 5% a “evangélica não-pentecostal”, 3% se declaram espíritas kardecistas, 1% diz pertencer à umbanda, e 7% declaram não ter religião.

Alta religiosidade

Ao mesmo tempo, 97% dos entrevistados dizem acreditar totalmente que Deus existe. Do total, 86% acredita totalmente que “Maria deu a luz a Jesus, sendo virgem” (o índice é de 88% entre os católicos). E 93% de todos os entrevistados (95% dos que se dizem católicos) disseram crer que “Jesus ressuscitou após morrer na cruz”.

“Os dados revelam que, no Brasil, o povo conserva um forte espírito religioso, não acompanhando a secularização radical de outros países”, afirma d. Geraldo Majella, arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, que encerra agora quatro anos à frente da presidência da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

“Isso significa que a primeira evangelização, realizada nos cinco séculos de nossa história, penetrou profundamente na cultura do povo, deixando marcas significativas na identidade das pessoas, na identidade do povo. Permanece um substrato católico no fundo do coração da grande maioria dos brasileiros”, afirma ele.

Ocorre que esse “substrato católico” é responsável ao mesmo tempo pela força e pela fraqueza da igreja no país, diz Antônio Flávio Pierucci, sociólogo da USP especializado em religiões (leia texto à pág. 4).

O catolicismo, diz ele, religião tradicional, exige pouco dos fiéis e é “compassivo” com os maus ou pouco praticantes. Esse espírito “materno” do catolicismo, afirma Pierucci, “lhe desguarnece os flancos quando a concorrência aumenta”.

Para d. Geraldo, a perda de fiéis se relaciona de algum modo com o “espírito do tempo”. “Na cultura moderna, o foco de interesse se desloca para o futuro, enquanto o passado tende a ser desvalorizado. Tudo deve ser novo, inclusive a religião, o que se realiza quando a pessoa passa por um processo de recusa ou de conversão.”

De toda forma, o Brasil segue sendo o maior país católico do mundo, em número absoluto de fiéis. Um dos seus traços distintivos é a devoção aos santos. Os pentecostais, por seu turno, se distinguem pela crença da presença do Espírito Santo na vida do fiel, manifestado em “dons” como curas, milagres e mudanças de estilo de vida.

Confirmando a linha de raciocínio de Pierucci, os católicos são os que menos afirmam ter mudado hábitos por causa de sua religião -apenas 9%. São 54% entre os pentecostais e 45% entre os evangélicos não-pentecostais os que declaram já terem mudado algum hábito por causa da fé.

Por outro lado, a pesquisa revela que mais pessoas dizem ir com freqüência à missa ou a serviços religiosos do que se supõe. Entre os católicos, 79% dizem ir à missa pelo menos uma vez por mês; 51% do total pelo menos uma vez por semana.

Para d. Geraldo, esse dado testemunha um “crescimento notável” da “qualidade da adesão” dos católicos à religião no país. “Nos tempos passados, era comum que a grande maioria dos batizados se declarasse católico, mesmo não sendo praticante”, ele diz. “Os dados da Folha correspondem à percepção que temos de uma crescente mobilização”, afirma o bispo, referindo-se à declaração de maior freqüência nas missas.

Para ele, essa é uma resposta dos católicos ao avanço dos protestantes. “O proselitismo dos pentecostais, especialmente de algumas seitas cujos membros devem dedicar diversas horas semanais para visitar casas à procura de novos fiéis, mudou profundamente a maneira de entender o que significa ser praticante, inclusive para os católicos.”

Fonte: Folha de São Paulo

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