Evandro Prado, artista que encontrou o seu auge com a mostra Religião do Consumo (também chamada de Habemus cocam), em que dava teor sagrado a um refrigerante, agora volta a fazer da arte um forte instrumento de agressão à Igreja Católica através de duas mostras.

Em “Estandartes”, Prado coloca figuras santas, como São Jorge, em alguns momentos como vítimas da violência, e em outros como parte dela. Em uma das imagens, um santo segura um fuzil. “Antes de serem santos, eu coloco eles como homens. Eles eram homens antes de serem santos”, afirma Prado.

Feitas de bordado em tecido, as obras retratam o paradoxo da sociedade cristã em um cotidiano de violência. “Eu não culpo a Igreja, mas coloco a responsabilidade nela. Coloco a questão da Igreja ter usado de crueldade e matar infiéis”, afirma o campo-grandense. Ele se refere à Inquisição – a peseguição feita pela Igreja Católica em épocas remotas.

Dos 23 assemblages (objetos) de “Estandartes”; três ficarão expostas no 27º Salão Arte Pará em Belém, no Pará. Prado está no seleto time de 44 artistas brasileiros selecionados para participar do evento, que acontece de 9 de outubro e 30 de novembro.

Em uma mostra ainda mais recente, “Alegrias Proféticas”, Prado reconta o Livro do Apocalipse através de imagens e frases, sem deixar a crítica de lado. A Besta do Apocalipse é representada pela Papa Bento XVI.

São 17 objetos, em cada uma delas uma frase e uma imagem. É uma provocação declarada. “A intenção é essa mesmo, de provocar”, diz. A exposição acontece no Centro Cultural José Otávio Guizzo, em Campo Grande, até o próximo dia 14 de setembro.

Habemus cocam

Em maio de 2006, Evandro Prado ganhou fama graças a reação da Igreja Católica e de fiéis. O vereador Paulo Siufi (na época do PRTB, hoje no PMDB) fez uma moção de repúdio à exposição Habemus Cocam, que estava exposta no Marco (Museu de Arte Contemporânea), em Campo Grande.

E o arcebispo de Campo Grande, Dom Vitório Pavanello, chegou a entrar na Justiça contra a exposição alegando que ela estaria “causando impacto moral e emocional negativo na comunidade local, especialmente na religiosa católica”.

Não era por menos. Em 21 pinturas e 13 objetos (montagens de materiais), Evandro usou da religião para criticar o consumismo, dando caráter santo ao refrigerante coca-cola, chegando a substituir o sagrado coração de Jesus por uma latinha do refrigerante.

Desde então, Prado tem apresentado seu trabalho por todo o país. Foram 20 exposições fora de Mato Grosso do Sul. Ele foi o único sul-mato-grossense a ser selecionado para o prêmio Rumos Itaú Cultural de Artes Visuais – o mais importante prêmio da arte contemporânea emergente do Brasil.

Fonte: Campo Grande News

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