Igrejas, casas, escolas e até lojas de cristãos foram destruídas em várias partes do Egito. Papa copta apoiou golpe contra membro da Irmandade Muçulmana.

Vítima de constantes perseguições na história recente do Egito, a minoria cristã do país passou a sofrer com ataques ainda mais frequentes após a queda de Mohamed Mursi.

Acusados de apoiar o golpe militar contra o ex-presidente, os cristãos se tornaram um dos principais alvos dos radicais islâmicos. A intolerância se intensificou a partir da última semana, quando forças de segurança fizeram uma operação para desocupar duas praças tomadas por manifestantes pró-Mursi no Cairo, deixando centenas de mortos.

Em represália pela carnificina, os islamitas voltaram sua fúria contra alvos cristãos: igrejas foram incendiadas, casas, lojas e escolas foram destruídas, além de clubes de jovens e pelo menos um orfanato. Estabelecimentos de propriedade de cristãos foram marcados com um “x”.

A princípio, líderes da Irmandade Muçulmana incentivaram ou toleraram a perseguição contra os cristãos, mas depois passaram a condenar os ataques. O governo interino, apoiado pelos militares, que pouco fez para proteger a minoria religiosa, agora tenta capitalizar com a imagem de igrejas incendiadas para chamar os membros da Irmandade de terroristas, ressaltou o jornal The New York Times.

[b]Números[/b]

Os cristãos coptas correspondem a quase 10% dos 85 milhões de egípcios – uma minoria que engloba uma multidão de mais de 8 milhões de pessoas. Outros grupos cristãos formam apenas 1%. A maior parte da população egípcia, mais de 80%, é formada por muçulmanos sunitas. Os coptas se consideram descendentes dos habitantes originais do Egito antigo, que começaram a adotar a nascente religião cristã por obra de São Marcos. Com a posterior ascensão de uma religião concorrente, a muçulmana, trazida por tribos árabes, os coptas tornaram-se uma minoria discriminada. Os confrontos ocorrem periodicamente, em especial no sul, região mais pobre, mas os ataques registrados nos últimos dias são os piores em anos.

A União Juvenil Maspero, movimento da juventude copta, denuncia uma represália contra a minoria desde que o papa dos coptas, Tawadros II, apoiou o golpe militar. “Os coptas são alvos de ataques em nove províncias apenas porque são cristãos”, afirmou o grupo, que conta seis mortes e quase quarenta igrejas destruídas nos últimos dias.

O bispo-geral Macarius, líder copta ortodoxo em Minya – cidade que fica 270 quilômetros ao sul do Cairo e que teve uma igreja incendiada –, diz que os ataques contra as igrejas ocorrem há décadas. “Os coptas sempre pagam a conta: no tempo de Gamal Abdel Nasser, no tempo de (Anwar) Sadat, no tempo de (Hosni) Mubarak, no tempo do regime militar, no tempo de Mursi e depois de Mursi”, disse, listando os governos do Egito desde que o golpe coordenado por Nasser em 1952 contra o rei Farouk pôs fim à monarquia.

No início desta semana, um porta-voz da Irmandade Muçulmana rejeitou qualquer ligação do grupo fundamentalista com os ataques e disse que as forças de segurança falharam na tentativa de evitá-los, sugerindo uma possível conspiração. Os argumentos não tiveram eco entre os coptas. Algumas lideranças cristãs continuam firmes no apoio aos militares, assumindo o discurso de que o Egito está combatendo o “terrorismo”.

Na semana passada, o governo interino instalado pelo exército disse que os ataques contra os cristãos egípcios representam uma “linha vermelha” e afirmou que as autoridades “responderão energicamente” a qualquer provocação. Pouco depois, o ministro da Defesa, o general Abdel Fatah al-Sissi, chefe das forças armadas que liderou o golpe, disse que o Exército pagará a reconstrução das igrejas destruídas.

[b]Fonte: MT Agora[/b]

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