O papa Bento 16 irá se encontrar no Vaticano, no próximo dia 21 de novembro, com o chefe da Igreja Anglicana, o arcebispo da Cantuária, Rowan Williams, pela primeira vez desde que decidiu facilitar a conversão de fiéis anglicanos descontentes em católicos.

O arcebispo participará, também, de celebrações organizadas pela Universidade Gregoriana para o 100º aniversário do nascimento do cardeal Johannes Willebrands, que foi pioneiro do ecumenismo católico, morto em 2006.

Na semana passada, Bento 16 anunciou uma nova estrutura que torna mais fácil para os anglicanos –inclusive sacerdotes casados–, voltar para o seio da Igreja Católica, respeitando algumas tradições. Foi talvez o passo mais claro e ousado do Vaticano em receber anglicanos descontentes desde que o rei Henrique 8º, da Inglaterra, rompeu com o papa e se proclamou chefe da Igreja Anglicana, no século 16.

Essa nova estrutura prevê a ordenação de clérigos anglicanos não casados como bispos que supervisionarão comunidades de ex-anglicanos convertidos católicos que reconhecem o papa como líder. Já os clérigos anglicanos casados poderão ser ordenados sacerdotes católicos e permanecer casados, mas jamais poderão ser bispos.

No passado, exceções deste tipo foram concedidas apenas pontualmente, em alguns países. Agora, todo anglicano do mundo pode integrar a estrutura católica, se quiser.

Desde 2003, quando a Igreja Episcopal –nome da Igreja Anglicana nos Estados Unidos– ordenou bispo um homossexual, a comunidade, que reúne 77 milhões de fiéis, começou a apresentar rachas. A divisão cresceu com a benção do casamento homossexual e com a ordenação de mulheres ao episcopado.

Na ocasião do anúncio, o arcebispo da Cantuária disse que a decisão vaticana não implica em “um ato de proselitismo ou agressão” e que não é uma resposta para problemas internos da comunidade anglicana.

Outros discordam. O vaticanista Vittorio Messori afirma que a Igreja anglicana “foi incapaz de resistir à ideologia hegemônica de correção política, que vai contra a Bíblia”, como afirmou ao jornal italiano “Il Sole 24 Ore”. “A Igreja Anglicana está se fragmentando, mas mesmo que meio milhão de pessoas a abandonem, isso não vai afetar a tendência, que é irreversível.”

No entanto, o anúncio papal foi descrito como “um desenvolvimento potencialmente explosivo nas relações anglicana-católicas desde a Reforma”, chegou a afirmar o jornal “The Times” na época. “Bispos desesperados convidaram Roma a estacionar os seus tanques no gramado do Arcebispado”, afirma a matéria.

A decisão de Bento 16 foi anunciada, além disso, poucos dias antes de uma reunião crucial com dirigentes do movimento ultraconservador católico lefebvrista, com os quais o papa tenta há anos se reconciliar após cisma de 1988, apesar de alguns de seus líderes questionarem o Holocausto nazista.

“Com esta estrutura jurídica se abre o caminho para a integração de outros grupos, como os lefebvristas e vários movimentos protestantes e ortodoxos”, explicou o vaticanista do jornal “La Repubblica”, Marco Politi. “Todos os passos que o Vaticano está tomando estão dirigidos para a tradição”, enfatizou, por sua parte, Sandro Magister, vaticanista da revista “L’Espresso”.

Fonte: Folha Online

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