O vocalista da banda U2, Bono, foi criticado neste domingo porque teria apoiado uma música que incentiva a morte de fazendeiros brancos na África do Sul.

Bono comparou a música às canções que apoiavam o IRA (Exército Republicano Irlandês), dizendo que elas tiveram sua importância.

“Kill de Boer, Kill the Farmer” (“Mate os bôeres, Mate os fazendeiros”) é uma música antiga, cantada nos tempos da luta contra o apartheid, que pode ser proibida no país pois autoridades consideraram que ela pode incitar o ódio racial.

“Bôer” significa fazendeiro no idioma africâner, usado por descendentes de holandeses na África do Sul, mas a palavra muitas vezes é usada como sinônimo de branco entre a comunidade negra do país.

“DISCURSO DE ÓDIO”

Após a declaração de Bono, muitos sul-africanos disseram que, em protesto, rasgaram seus ingressos para os shows que o U2 vai fazer no país.

“Esse é um discurso de ódio. Eles não conhecem a nossa história”, disse um sul-africano, que participou de um programa na rádio local.

Em uma entrevista para o jornal sul-africano “Sunday Times”, Bono comparou a música a outras ligadas ao IRA.

“Quando eu era criança, eu cantava músicas que ouvia meus tios cantarem. Canções rebeldes sobre o início do IRA”

“Cantávamos essas músicas e pode-se dizer eu eram canções folclóricas”, afirmou, acrescentando que esse tipo de música não deve ser cantado no contexto errado.

“É uma questão de onde e quanto essas músicas são cantadas.”

Segundo o analista de questões africanas da BBC Martin Plaut, Bono aparentemente não tinha noção da polêmica que envolve essa canção no país.

A Suprema Corte sul-africana está atualmente considerando se a música deve ser proibida, por violar o direito dos brancos.

Há pouco menos de um ano, após o assassinato do líder do movimento segregacionista branco Eugene Terreblanche, muitos acusaram o jovem líder político Julius Malema, do governista CNA (Congresso Nacional Africano) de incitar o crime por costumar cantar Kill de Boer.

Em seguida, a Justiça o proibiu Malema de cantar a canção.

Desde o fim do apartheid em 1994, mais de 3.000 fazendeiros foram mortos no país. Uma comissão determinou em 2003 que apenas 2% desses ataques tinham motivação política ou racial. Críticos afirmam, porém, que a estimativa não condiz com a realidade.

[b]Fonte: Folha Online[/b]

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