Dados de 2006 do Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris), órgão da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), mostram que a proporção de padres no Brasil é a mais baixa do mundo entre os países católicos e é insuficiente para atender todos os católicos do país.

Enquanto no Brasil há 18.685 padres, uma média de um sacerdote para mais de 10 mil habitantes, na Itália, existe um padre para mil habitantes.

A proporção do Brasil fica atrás mesmo quando comparada com a de países que não são oficialmente católicos como os Estados Unidos (um padre para 6,35 mil habitantes) e a Alemanha (um padre para cada 4,5 mil).

Numa tentativa de enfrentar a situação das paróquias sem sacerdotes, impedidas de celebrar a Eucaristia, o papa Bento 16 recomendou a renovação da pastoral de vocações e a melhor distribuição do clero no mundo. A idéia de ordenar homens casados foi rejeitada, reafirmando o valor do celibato sacerdotal.

Situação dolorosa

“Não tem nada para redistribuir. Faltam padres no Brasil, no terceiro mundo e também no primeiro”, assinala o vaticanista Marco Politi. “Os bispos discutiram este assunto. Mas não tiveram a coragem de aprovar a ordenação de homens casados de virtude reconhecida, que estariam dispostos a ter a ordem sacerdotal e amenizariam o problema da falta de vocação.”

No documento Sacramentum Caritatis, assinado pelo papa Bento 16 e divulgado pelo Vaticano nesta terça-feira, a escassez de padres é considerada “situação dolorosa”.

“Isto acontece não só em algumas zonas de primeira evangelização, mas também em muitos países de tradição cristã”, diz o documento.

O papa recomenda que os padres tenham maior disponibilidade para se deslocar à paróquias com problemas de escassez e o envolvimento das famílias, educando e incentivando os filhos à vocação sacerdotal.

Bento 16 sugere também um esforço dos fiéis, para que se desloquem a uma das igrejas da diocese onde está garantida a presença do sacerdote.

Mesmo na América Latina, o problema enfrentado pelo Brasil fica evidente nos números. A Argentina tem um sacerdote para cada 6,8 mil e a Colômbia, um para cada 5,6 mil. A média do México, o segundo maior país católico do mundo, apesar de superior, é a que mais se aproxima da do Brasil: um sacerdote para cada 9,7 mil habitantes.

Segundo especialistas, a Igreja no País não sofre apenas com a escassez de padres, mas também com a baixa formação educacional dos novos seminaristas.

Celibato

Segundo o especialista em religiões Aldo Natale Terrin, professor de Antropologia e História das Religiões da Universidade Católica de Milão, mais homens se dedicariam ao sacerdócio se tivessem permissão para se casar.

“Enquanto o Vaticano insistir que é possível manter o celibato, o número do clero permanecerá insuficiente e os crimes sexuais envolvendo padres seguirão acontecendo”, disse Terrini à BBC Brasil.

“Sabe-se que 50% dos sacerdotes brasileiros têm amantes. Esta prática sul-americana de não cumprir o voto de castidade está se espalhando pela Europa e pelos Estados Unidos”, afirmou Terrin. “A igreja não faz nada”.

Uma pesquisa divulgada em 2004 pelo Ceris sobre o perfil dos padres brasileiros já apontava a dimensão do problema: 41% deles confirmaram ter tido “envolvimento afetivo com mulheres”.

Qualidade

Apesar de a Igreja sofrer com a falta de vocações sacerdotais no maior país católico do mundo, em números absolutos, a quantidade de padres no Brasil tem aumentado nos últimos anos.

Em 2004, de acordo com o Anuário do Vaticano, eram 16.853 sacerdotes. Quatro anos antes, 13.824.

Mas para chegar ao mesmo patamar da Itália, o Brasil precisaria de pelo menos 200 mil padres.

“Além dos números, é importante pensar em qualidade”, diz Luiz Felipe Pondé, professor do departamento de teologia da PUC-SP. “Tenho notado um grande número de jovens inexperientes nos seminários, com formação educacional e intelectual insuficiente para quem entra num curso de filosofia ou teologia”.

De acordo com ele, muitos têm problemas psicológicos, de convivência e desconhecimento da realidade.

Segundo Pondé, a diferença é que a Igreja conseguia arregimentar pessoas com um nível intelectual mais alto em outras épocas. Hoje, tem dificuldades de constituir um alto clero mais significativo.

Conforme aponta o perfil traçado pelo Ceris, a maioria dos padres brasileiros vem do sudeste (45%) e do sul (25%), tem media de 51 anos, e 56% nasceram na zona rural.

Fonte: BBC Brasil

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