Um amplo projeto de turismo no Oriente Médio liderado pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, será financiado por muçulmanos, judeus e cristãos do setor privado brasileiro. Trata-se do Caminho de Abraão, patriarca comum, percorrerá 1,2 mil km no Oriente Médio.

Caminho de Abraão, trajeto inspirado no Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, quer ser uma espécie de ponto comum de desenvolvimento entre as três religiões em pelo menos seis países.

O caminho vai percorrer os lugares por onde passou, há 4 mil anos, Abraão, personagem comum às três crenças e considerado o pai das religiões monoteístas. “Não se trata nem de um projeto religioso, nem político, mas da criação de um pólo de turismo. Precisamos de uma visão nova para o Oriente Médio. A região tem dois caminhos: o terrorismo ou o turismo”, afirma o idealizador do projeto, William Ury, professor de Harvard, que estará no Brasil nos próximos dias para arrecadar recursos.

Segundo dados da ONU, a economia de vários locais em conflito, como a Palestina, está à beira do colapso e o desemprego chega a 40%.

O acadêmico fez estudos de viabilidade econômica e infra-estrutura e iniciou consultas com políticos e religiosos do Oriente Médio. O projeto não enfrenta oposição dos governos da Síria, Líbano e Israel. Também conta com o aval da ONU, da Liga dos Países Árabes e de personalidades como o ex-presidente americano Jimmy Carter e o Dalai Lama. Foi escolhido como um dos cinco programas no mundo que a ONU decidiu apoiar para promover o diálogo entre civilizações.

O grupo criado em Harvard elaborou um caminho de 1,2 mil quilômetros simbolizando o trajeto feito por Abraão. As ruínas de Harran, no sul da Turquia, servem de ponto de partida. Lá o profeta teria recebido o chamado de Deus. O caminho segue pela Síria, Jordânia, Israel, Palestina e Líbano, terminando na cidade de Hebron, onde está o túmulo de Abraão. Cidades como Aleppo, Damasco, Belém e Jerusalém fazem parte do roteiro.

No futuro, devem ser incluídas rotas pelo Iraque, Egito e Arábia Saudita para os muçulmanos, ainda que os obstáculos de segurança sejam significativos. O idealizador admite que a questão pode ser um obstáculo para a criação da rota. Mas aponta que, na maior parte do caminho, esse não seria um problema.

Angariando adeptos

Em sua visita ao País, o professor Ury tentará convencer empresários das diferentes comunidades religiosas a financiar o projeto, que já conta com cerca de R$ 2 milhões em compromissos de empresas brasileiras. O custo total é calculado em US$ 50 milhões.

Segundo José Fernando Latorre, coordenador executivo no Brasil, alguns empresários já confirmaram participação, entre eles o grupo Suzano e a Construtora Shahim. Nesta semana, um evento reunirá banqueiros e empresários para apresentar a idéia. No exterior, é negociada a participação do mexicano de origem libanesa Carlos Slim, maior fortuna do mundo. Por enquanto, a idéia recebe recursos da própria Harvard, do Fundo Rockefeller e de príncipes sauditas.

“O processo de paz precisa de algo novo e inesperado e esse fator pode ser o Brasil. Ao contrário dos Estados Unidos e da Europa, o País é respeitado no Oriente Médio. Além disso, é um exemplo de como as comunidades podem conviver”, diz Ury. Em novembro de 2006, a Universidade Harvard reuniu especialistas, entre eles um rabino do Rio e um professor da Universidade de São Paulo (USP) de origem árabe para percorrer parte do caminho.

O primeiro trajeto será inaugurado neste ano, no território da Turquia. Em 2008, outros 120 quilômetros na Jordânia serão abertos, trabalho que está envolvendo o mapeamento com ferramentas como o Google Earth. Até 2010, 600 quilômetros devem estar identificados, com infra-estrutura estabelecida e aberta a turistas. Para isso, um percurso terá de ser inaugurado a cada seis meses, guias terão de ser treinados e uma campanha com agências de viagens feita em várias partes do mundo.

“O turismo é fonte de renda, de crescimento econômico, além de criar condições para o diálogo e a preservação de monumentos”, afirma Ury. Em sua avaliação, países que até pouco tempo eram considerados marginais na economia européia, como a Espanha, hoje acumulam lucros com o turismo. “O país agora supera a França em número de turistas por ano”, completa, sugerindo que o mesmo poderia ocorrer com o Oriente Médio.

Fonte: Estadão

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