O cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, pode ser o primeiro funcionário estrangeiro de alto escalão a se reunir com o novo presidente de Cuba, que será anunciado no próximo domingo e substituirá Fidel Castro.

Fidel anunciou anteontem sua renúncia à Presidência da ilha e à chefia das Forças Armadas de Cuba.

O secretário adjunto da Conferência de Bispos Católicos de Cuba (COCC), o cônego José Félix Pérez, informou sobre a visita do cardeal Bertone, que chegou ontem a Havana e permanecerá na ilha até à próxima terça-feira.

“Caso as especulações se confirmem, não há dúvida de que o presidente será Raúl Castro. Acredito que seu primeiro encontro com uma personalidade de nível internacional será com Bertone”, disse Pérez.

O secretário adjunto da Conferência Episcopal indicou que não sabe quando o encontro acontecerá.

No próximo domingo será instalada a Assembléia Nacional do Poder Popular, no qual os integrantes do novo Conselho de Estado (Executivo) serão designados. O presidente deste órgão, cargo atual de Fidel Castro, é chefe de Estado do país.

O anúncio da renúncia de Fidel à Presidência de Cuba, deixando o poder após quase meio século, permitirá a designação de um novo presidente, cuja identidade ainda não foi comunicada oficialmente, embora o nome mais lembrado seja o de seu irmão caçula Raúl Castro, ministro das Forças Armadas.

Pérez indicou que o anúncio do líder cubano “surpreende, embora não seja totalmente inesperado”, porque todos já conheciam “o estado de saúde do presidente nos últimos tempos”.

O cônego acrescentou que a Igreja, “por enquanto, não tem um pronunciamento sobre a nova situação”.

Sobre a viagem de Bertone, anunciada meses antes da renúncia de Fidel e que acontece dez anos após a visita do papa João Paulo II à ilha, Pérez indicou que “terá interesse em apoiar as aspirações da Igreja cubana” diante das autoridades da ilha.

Pérez também destacou a importância de que a missa celebrada por Bertone nesta sexta-feira na catedral de Havana seja transmitida pela TV cubana.

Entre outros aspectos da agenda entre a Igreja e o Estado cubano estão o acesso aos meios de comunicação, às prisões e às instituições educativas, para cumprir seus serviços religiosos.

Outro tema que poderá ser abordado é o da construção de novas igrejas, o que não acontece desde o triunfo da Revolução Cubana em 1959, e que, segundo Pérez, é necessária por causa das mudanças demográficas ocorridas desde então.

Bertone deve se encontrar amanhã com a Conferência de Bispos Católicos e celebrará uma missa na catedral de Havana.

Na sexta-feira, o cardeal chegará a Santa Clara, 300 quilômetros ao leste de Havana, e deve realizar outras missas, além de abençoar o primeiro monumento público em Cuba dedicado ao papa João Paulo II, doado pelo Vaticano.

Esta é a terceira visita de Bertone a Cuba, onde esteve em 2001, quando era secretário da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, e novamente em 2005, como cardeal arcebispo de Gênova, ocasião em que se reuniu com Fidel.

Há uma semana, ao anunciar a nova viagem do cardeal, o ministro das Relações Exteriores cubano, Felipe Pérez Roque, afirmou que seu Governo está disposto a discutir “todos os temas” com o cardeal, inclusive “pontos que podem ser divergentes”.

As relações entre a Igreja Católica e Cuba ficaram estremecidas após a chegada de Fidel ao poder em 1959.

Cuba foi um Estado oficialmente “ateu” até 1992.

Fonte: EFE

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