A CNBB, em Assembleia-Geral, evitou questões polêmicas, como o uso de anticoncepcionais.

A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em sua 49ª Assembleia-Geral, em Aparecida (a 168 km de São Paulo), elegeu nesta segunda-feira (9) o cardeal Raymundo Damasceno Assis (foto) como novo presidente da entidade. Arcebispo de Aparecida, Assis foi eleito com 196 dos 271 votos e comandará a confederação pelos próximos quatro anos. Dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, foi o segundo mais votado, com 75 votos.

A partir de hoje serão eleitos o vice-presidente, secretário-geral e os presidentes das 12 comissões pastorais. As votações para vice-presidente e secretário-geral podem se estender por até cinco escrutínios, caso nenhum dos arcebispos receba mais de dois terços dos votos nos dois primeiros escrutínios ou não vençam por maioria absoluta (50% dos votos mais um) no terceiro e quarto escrutínios.

Todos os arcebispos que chefiam dioceses –e somente eles– podem ser votados para vice-presidente. Para secretário-geral, qualquer bispo pode ser votado e eleito. Já para as 12 comissões pastorais, o eleito precisa de maioria absoluta dos votos no primeiro escrutínio. Se a condição não for cumprida, a eleição no segundo escrutínio será por maioria simples entre os dois mais votados.

[b]Polêmica são evitadas
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A assembleia da CNBB teve início na quarta-feira passada (4). De quarta até ontem, os bispos concluíram as diretrizes gerais –uma espécie de programa de governo– que irão nortear a atuação da confederação nos próximos quatro anos.

Segundo dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, a prioridade será a evangelização da população.“As diretrizes colocam como prioritária a questão da evangelização contínua, a missão permanente, com a criação de paróquias em comunidades e a busca por uma atuação em diálogo com a sociedade”, afirma.

O arcebispo disse que questões polêmicas, como o uso de anticoncepcionais, não pautaram as discussões da assembleia, apesar de o próprio papa Bento 16 ter afirmado, recentemente, que o uso de preservativos é aceitável em determinados casos. “A CNBB não está discutindo isso agora. Não tem essa preocupação, tem suas pautas próprias”, diz Tempesta.

O professor Jorge Cláudio Ribeiro, do departamento de Teologia da PUC-SP (Pontifica Universidade Católica), vê na burocratização da um dos motivos para a Igreja Católica perder fiéis e a autoridade. “Os temas prioritários são muito burocráticos. O que houve de novo na Igreja? A beatificação de João Paulo 2º, por exemplo, é o mais do mesmo requentado”, afirma.

Ribeiro responsabiliza João Paulo 2º e Bento 16 pela morosidade da Igreja. “Aqui no Brasil a Igreja era muito forte, comprometida com os rumos da América Latina. Os dois papas foram demolindo tudo isso, e os bispos e padres progressistas foram perdendo espaço e o ânimo. Eles nomearam bispos fracos intelectualmente, sem iniciativa, presos às ordens do Vaticno. São poucos os que têm uma visão mais autônoma, dinâmica, e isso gera um certo descomprometimento com a profundidade da religião”, diz.

Para Frei Betto, escritor e dominicano que ficou conhecido pelo enfrentamento à ditadura militar no Brasil, a presidência de dom Geraldo Lyrio foi “moderada”. “Falou mais profetismo. Antes a Igreja Católica era porta-voz dos que não têm voz, lutava pela reforma agrária, pelas crianças rua. Faltou essa dimensão”, afirma.
Adepto da Teologia da Libertação, Frei Betto diz que o desafio maior da Igreja no Brasil nos próximos anos é se modernizar. “Chegamos à modernidade urbana, mas a estrutura da Igreja Católica é arcaica. A divisão em paróquias indica isso. A Igreja não sabe se relacionar com as pessoas, abandonou as Comunidades Eclesiais de Base, não consegue descobrir um processo evangelizador e insiste no celibato obrigatório”, aponta.

Durante o julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) na quinta-feira passada, o advogado da CNBB foi voz dissonante na Casa ao apresentar defesa contrária ao reconhecimento da união estável para casais homossexuais, sob o argumento de que “pluralidade tem limites”. “A confederação fez o papel de uma entidade que tem dificuldades de entender a pluralidade cultural e os novos perfis sexuais de hoje. Eu sou absolutamente favorável à decisão do Supremo”, diz.

O teólogo Leonardo Boff, ícone da Teologia da Libertação, avalia que a CNBB ainda tem peso, embora tenha perdido espaço nos últimos anos. “È uma entidade que ajuda a formar a opinião pública, intervém em questões de moralidade e ainda tem seu peso. Porém, hoje esse peso é dividido porque há uma multiplicidade de igrejas, e muitas delas são mais midiáticas, que acabam tendo uma projeção maior”, afirma.

[b]Fonte: UOL[/b]

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