Rebouças, no interior do Paraná, é a primeira cidade do país a reconhecer a profissão de benzedeira; lá, elas são 133 e recebem uma carteirinha assinada pelo prefeito.

Os moradores de Rebouças, no Paraná, são os únicos do país que podem recorrer a benzedeiras “de carteirinha”.

O município de 14 mil habitantes foi o primeiro a ter uma lei que reconhece os detentores de “ofícios tradicionais” como “instrumentos complementares nas terapias de saúde pública” -e dá a eles uma carteirinha, assinada pelo prefeito.

Em fevereiro, uma lei idêntica foi aprovada na cidade vizinha São João do Triunfo, mas ainda não está em vigor.

“Hoje podemos benzer até dentro de hospital, de posto de saúde, se a família pedir”, diz Ana Maria dos Santos, 46.

“Os médicos não gostam, mas não falam nada, é a lei.”

A secretária de Saúde de Rebouças, Janete do Carmo Cirino, diz que os curadores são “parceiros” no sistema público e nega que haja estímulo à prática.

Só em Rebouças, onde a maioria dos moradores vive na área rural, há 133 benzedeiros. Em Triunfo, são 161. Eles dizem não ter pretensões de substituir os médicos, mas reconhecem certo conflito.

A tensão aumentou à medida que os postos de saúde chegaram às comunidades do interior, segundo Taísa Lewitzki, do Masa (Movimento Aprendizes da Sabedoria), ONG que congrega as benzedeiras da região.

O Masa defende que a cultura das benzedeiras seja preservada de modo complementar ao sistema de saúde. “Elas atuam como psicólogas populares, conhecem todo mundo”, afirma.

São João do Triunfo ainda resiste à ideia: o prefeito -que é médico- vetou a lei aprovada pelos vereadores, alegando “muitas brechas”.

“As crendices até funcionam, mas é difícil o município assumir a responsabilidade e dar autonomia para as pessoas fazerem isso sem controle”, diz o assessor jurídico municipal, Jorge Roiko.

Em Rebouças e em Triunfo não houve denúncia contra a atuação dos benzedeiros desde a vigência da lei, segundo o Ministério Público e o Conselho Regional de Medicina.

“Se houver um trabalho conjunto, acho maravilhoso”, afirma a pediatra Márcia Martins, que clinica há 22 anos em Rebouças. “Mas dentro dos limites científicos.”

[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]

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