O cientista britânico Richard Dawkins não se deu por satisfeito em vender mais de 1 milhão de exemplares de um livro contra a crença em seres divinos, com sua obra Deus – um Delírio, promovida a best-seller em vários países e recém-lançada no Brasil pela editora Companhia das Letras.

Ele agora aponta sua artilharia contra o que considera superstições e pseudo-ciência: de astrologia a mediunidade, de homeopatia a cartas tarot.

O novo ataque do conceituado biólogo da Universidade de Oxford começou nesta segunda-feira, na televisão britânica, com o seriado The Enemies of Reason (Os Inimigos da Razão) , que Dawkins apresentará durante várias semanas no Canal 4, parte de um esforço (que muitos acham inútil) de desmontar as crenças e superstições que ele considera totalmente desprovidas de fundamento e provas, mas que convencem o público em vários países.

Como a homeopatia, uma prática de medicina alternativa que atrai seguidores fiéis, inclusive entre muitos médicos no Reino Unido, no Brasil e em outros países.

Londres, por exemplo, tem um vasto hospital homeopático, renovado há pouco tempo com 20 milhões de libras (cerca de R$ 80 milhões) de verba pública – com apoio e considerável pressão do Príncipe Charles, um aficionado desse tratamento pouco ortodoxo (o príncipe é também conhecido por conversar com as plantas de seu jardim, conforme ele mesmo revelou).

Dawkins rechaça a teoria de que os remédios homeopatas funcionam porque seguem o princípio das vacinas, de combater “o mesmo com o mesmo”.

Biólogo por formação, ele explica que as vacinas usam uma forma enfraquecida mas real do germe causador da doença e assim estimulam o sistema imunológico do organismo a criar anticorpos para combater a doença real.

A homeopatia, por outro lado, baseia-se no uso de uma dose tão diluída da molécula causadora do problema, que só teria uma suposta “lembrança” da doença. E quanto mais diluída, mais eficaz, uma lógica que Dawkins considera contraditória e absurda.

Em entrevistas sucessivas à mídia britânica nos últimos dias para promover a nova série de TV, Dawkins esclarece que sua principal implicância com a homeopatia é a recusa dos seus promotores de submetê-la a testes padrões de qualidade, obrigatórios para remédios comuns.

“Costumo dizer aos médicos que usam homeopatia: se vocês conseguirem provar a teoria da lembrança da molécula ser mais eficaz quanto mais diluída for a fórmula do remédio, terão descoberto uma nova força na Física. Ou a homeopatia não tem nenhum efeito – e neste caso vocês não deveriam cobrar consulta nem remédio – ou então tem efeito – e neste caso vocês devem provar e ganhar o Prêmio Nobel”, disse Dawnkins em entrevista à imprensa britânica.

Dawkins reconhece o benefício do chamado “efeito placebo”. Ou seja, diante da atenção do médico e da recomendação para tomar uma substância água-com-açúcar que lhe é passada como remédio eficaz, o paciente se deixa levar pela sugestão e, em muitos casos, pode até se sentir melhor.

É o fator psicológico, cada vez mais difícil de se obter em consultórios médicos regulares, onde as consultas são rápidas e os médicos são proibidos de receitar pílulas placebo. Mas curar doenças sérias com homeopatia, diz ele, é uma pretensão sem base na realidade. Em outras palavras, charlatanice.

Gurus

Na mesma categoria de enganação dos mais suscetíveis, Dawkins encaixa gurus que revestem suas crenças místicas de um palavreado pseudo-científico, seja para alegar que pirâmides ou cristais emitem “energia positiva” ou, como no caso do indiano Deepak Chopra, promover uma tal de “Cura Quantum”, que sugere ligação entre espiritualidade e tecnologia avançada.

“Muita coisa na teoria quantum pode até soar quase mística – como o Princípio da Incerteza, de Heisenberg (no plano subatômico, a observação de um elemento afeta sua localização). Mas isso é só porque ainda se desconhece muito no setor, há muito mistério, os cientistas continuam pesquisando. Mas as leis básicas da mecânica quântica estão aí e passam por testes. Nada têm de místicas.”

Astrologia é outro tema que irrita Dawkins em vários níveis. Em primeiro lugar, diz ele, porque não se sustenta em nenhuma base científica. Segundo, porque o termo confunde o público e afeta a reputação da verdadeira ciência no setor, Astronomia.

E em terceiro lugar, como implicância pessoal de quem, como ele, dedica a vida a divulgar ciência, incomoda ver horóscopos ocuparem mais espaço na mídia do que assuntos científicos.

Mediunidade é outra prática que Dawkins considera enganação de ingênuos, que muitas vezes embarcam na ilusão porque sentem falta de um ente querido que já morreu e caem na armadilha dos que alegam poder fazer contato com os mortos.

Mas e se os médiuns não são aproveitadores e, de fato, acreditam no que fazem?

Dawkins, ferrenho seguidor do também cientista britânico Charles Darwin, que desvendou o mecanismo da evolução das espécies, lembra o que foi dito do paleontólogo jesuíta Teilhard de Chardin, que promovia teorias peculiares sobre a evolução:

“Ele só pode ser desculpado pela desonestidade porque, antes de enganar os outros, ele se esforçou muito para enganar a si próprio.”

Fonte: BBC Brasil

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