Igreja Católica defende apoio a “pessoas comprometidas com respeito incondicional à vida” Dilma Rousseff (PT), que em 2007 era a favor de descriminalização, hoje vê “violência” contra a mulher; José Serra (PSDB) adota crítica vaga, e Marina Silva (PV) apoia texto.

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) recomendou ontem aos fiéis que votem em outubro em “pessoas comprometidas com o respeito incondicional à vida”.

A “Declaração sobre o momento político atual” não faz menção explícita ao aborto. Mas sua divulgação ocorre no momento em que a Igreja Católica cobra do governo federal mudanças no PNDH 3 (Plano Nacional dos Direitos Humanos) -no qual um dos temas mais polêmicos é o aborto.

“Incentivamos a que todos participem e expressem, através do voto ético, esclarecido e consciente, a sua cidadania nas próximas eleições, superando possíveis desencantos com a política, procurando eleger pessoas comprometidas com o respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana”, diz a CNBB, na “Declaração sobre o momento político nacional”.

O documento foi produzido durante a Assembleia-Geral da CNBB, que termina hoje em Brasília. O texto também apontou “distorções inaceitáveis” no plano de direitos humanos.

O porta-voz da Assembleia-Geral da CNBB, dom Orani Tempesta, disse que a entidade não quis apontar candidatos, e sim orientar os fiéis a votar de acordo com suas convicções.

O presidente Lula recebeu ontem uma comissão da CNBB e garantiu que mudará o texto do PNDH 3. Lula afirmou que serão retirados o apoio à descriminalização do aborto e a proibição à ostentação de símbolos religiosos em prédios públicos.

Longe da polêmica

Ontem, os pré-candidatos à Presidência adotaram um discurso moderado sobre aborto, em consonância com a CNBB.

Em Porto Alegre, em entrevista a um programa da rede RBS, Dilma Rousseff (PT) disse que aborto “é uma coisa que nenhuma mulher defende”. “Ninguém fala: “Eu quero fazer aborto”. Aborto é uma violência contra as mulheres”, disse.

Para a petista, aborto não é uma “questão de foro íntimo”, e sim uma “política de saúde pública”. “Há uma legislação que prevê casos de aborto. Nestes casos que são bastante conhecidos e que dizem respeito, inclusive, a condições adversas de gravidez ou por risco de vida.”

Questionada se o aborto seria uma opção da mulher, disse que a lei “é muito clara em que condições está previsto”. “Para ser possível o aborto tem de estar previsto em lei. Tem de ser legal.” Dilma não disse se pretende mudar a lei se for eleita.

Em sabatina na Folha em 2007, Dilma defendeu a descriminalização do aborto. “Acho que tem de haver descriminalização do aborto. No Brasil, é um absurdo que não haja, até porque nós sabemos em que condições as mulheres recorrem ao aborto. Não as de classe média, mas as de classe mais pobres deste país”, disse.

Questionado ontem pela Folha sobre o que pensa a respeito do tema, José Serra (PSDB) evitou se aprofundar. Voltou a afirmar ser contra a prática e disse que uma mudança na legislação atual não dependerá de um ato seu, caso seja eleito.

“Qualquer deputado pode fazer isso [propor mudança na lei]. Como governo, eu não vou tomar essa iniciativa”, disse.

Em Natal, Marina Silva (PV) disse que o documento de ontem reflete “a posição histórica da CNBB”. “Está de acordo com a visão que eu tenho de defesa da vida. Mas isso não significa que eles estejam direcionando [o voto] a ninguém”, afirmou.

Fonte: Folha de São Paulo

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