A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) aprovou por unanimidade, durante a 47ª Assembleia Geral da entidade, em Indaiatuba (SP), um documento sobre as diretrizes para a formação de novos padres no qual reforça o celibato como uma condição para a continuidade do sacerdócio.

O texto final do documento, intitulado “Diretrizes para a Formação dos Presbíteros”, ainda terá de passar pela aprovação do papa Bento 16. A direção da CNBB determinou que o texto -que já teve quatro versões- não seja divulgado enquanto não houver a aprovação da Santa Sé, que pode mudá-lo.

Além de citar o celibato, os bispos chegaram a abordar o tema da homossexualidade, mas a questão foi retirada da versão final, segundo bispos ouvidos pela Folha de São Paulo.

Na terceira versão, os bispos afirmavam que, “no campo da sexualidade, há possíveis distúrbios incompatíveis com o sacerdócio”, sem especificar.

“Os vocacionados, de modo geral, encontram-se na fase de construção de sua personalidade, que abarca a sexualidade. Eles podem apresentar uma identidade sexual desintegrada que fragmenta a sua personalidade e a sua vida psíquica como sujeito humano, seja ele hetero ou homossexual, religioso ou não”, diz trecho do documento retirado da última versão.

Questionado sobre a questão da homossexualidade ter sido removida, o presidente da comissão que debateu o tema, bispo de Teresina d. Sérgio da Rocha, disse que não poderia dar detalhes. Sobre o celibato, afirmou “que o fato de ser ter notícias de dificuldades com o celibato leva a igreja a ter uma atenção maior” sobre o tema.

“Claro que o celibato, como renúncia ao casamento, exige uma atenção maior. O celibato tem que ser olhado não só sobre o ponto de vista humano-afetivo mas também como formação espiritual. O texto contempla o celibato porque ele é parte integrante da vida presbiteral. No texto que está sendo feito existem, sim, várias referências ao celibato.”

O bispo de São Félix (MT) d. Leonardo Ulrich Steiner disse que o texto final prega um maior “equilíbrio sexual e afetivo” dos padres. “O texto não se refere ao homossexualismo porque já existem normas sobre esse tema já publicadas dentro da igreja.”

Para teólogos, é positivo discutir sobre afetividade

Para teólogos, o principal avanço do documento aprovado pela CNBB ontem é demonstrar que os bispos estão preocupados com a formação de padres, em especial na “dimensão afetiva”.

“Há uma constatação de que o jovem, na sociedade atual, está sujeito a uma desorientação maior. (…) Muitos são jovens não afetivamente maduros”, diz o coordenador de projetos do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, Francisco Borba Neto.

Sobre o tema da sexualidade, Borba reforça que a insistência do texto no celibato segue diretrizes da igreja.

Reforçar sua obrigatoriedade é suficiente para indicar que alguns comportamentos não são compatíveis com o sacerdócio -segundo ele, tanto a homossexualidade como a impossibilidade de manter-se celibatário.

Reitor do Seminário de Teologia Bom Pastor, cônego José Miguel de Oliveira vê como positiva a preocupação dos bispos com a formação de padres. Para ele, os jovens hoje têm dificuldade em assumir compromissos, como o celibato. Apesar disso, diz ele, há nos seminários mais liberdade para se discutir temas como sexualidade.

Fonte: Folha de São Paulo

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