Caminhos da Índia

Não sei se você também recebeu aquele e-mail anônimo que está circulando na internet sobre um missionário que vive há alguns anos na Índia e está chocado por ver uma novela propagando a religião hinduísta na televisão brasileira.

Segundo o missionário, a rede Globo está promovendo um “proselitismo explícito” do hinduísmo em nossas casas e invadindo milhões de lares com esta “maldição”. Por fim, o e-mail propõe um boicote do publico evangélico à novela “Caminhos da Índia” como única forma possível de fazer com que ela se torne um fracasso e assim saia do ar o quanto antes.

Em determinado momento, o e-mail faz a seguinte afirmação: “não é hora de sermos hipócritas! Os evangélicos brasileiros são noveleiros SIM! … no fundo sabemos que o povo evangélico é um dos grandes responsáveis pelo sucesso que as novelas globais fazem no país”. Bem, eu só queria saber quem é que desconhecia esse fato; é só ficar prestando atenção nas conversas no ensaio do coral da Igreja para ver que todo mundo fala sobre a novela das oito…

A minha parte favorita é quando o missionário afirma que “nós somos um dos principais consumidores desse lixo que é vendido em nossos televisores 6 vezes por semana”. Nesse caso não poderia concordar mais, principalmente, com o uso da palavra “lixo”.

Bem, mas vamos aos fatos e à novela em si. Quem lê a coluna sabe do meu profundo desprezo pelas novelas brasileiras; portanto nem preciso dizer que não assisto a nenhuma das milhares que a citada emissora coloca diariamente em sua grade de programação. Por isso, não posso nem opinar sobre se “Caminhos da Índia” é uma boa novela ou não; porém, pela linha editorial da Globo e a qualidade de seus atores, diretores e escritores, imagino que deve ser tão ruim e piegas quanto as outras.

Mas a qualidade da novela nem está em questão aqui, mas sim o teor de sua trama. Acho que dizer que “Caminhos da Índia” faz “proselitismo explícito” é algo bastante complicado de se afirmar. Seria o mesmo que dizer que o filme “Operação Valquíria”, de Tom Cruise, faz apologia ao Nazismo. Agora, que a Globo tem simpatia por religiões esotéricas e espiritualistas, isso é bem notório. Assim como é visível um certo favorecimento ao catolicismo (religião da maioria da população brasileira) e ao espiritismo (religião de boa parte da classe artística). Mas essa tendenciosidade está presente em praticamente todos os programas da Globo e não só nas novelas.

Apesar de conseguir entender a boa intenção do missionário, normalmente sou sempre contra esse negócio de promover boicotes; acho que não leva à lugar nenhum , a não ser gerar antipatia ao povo evangélico. A meu ver a Bíblia nos desafia a desenvolver uma mente crítica e buscar discernimento para selecionar aquilo que deve fazer parte de nossas vidas e o que deve ser deixado de lado. Em outras palavras, examinar de tudo e reter o que é bom. Isso sem engessamentos morais ou costumes padronizados do tipo “crente não assiste novela” ou “crente não vai ao cinema”. Cristianismo é uma religião pessoal, onde o relacionamento com Deus se dá de forma direta sem intermediadores, e ninguém tem o direito de colocar etiquetas de “puro”e “impuro” em coisa nenhuma. O povo evangélico precisa ser desafiado a fazer melhores escolhas não só sobre assistir ou não a uma novela, mas em todas as dimensões de sua vida, por exemplo, como gasta seu dinheiro, quanto tempo passa na frente do computador, que prioridade dá para sua família.

E não me canso de dizer que gostaria de ver o povo de Deus se mobilizando por coisas mais nobres como a luta contra a miséria, contra a AIDS, contra a corrupção na política, e não por conta de uma novela idiota e sem importância.

Não vejo nada de mal em se conhecer a cultura da Índia, e o próprio missionário teve que fazer isso antes de ir morar naquele país. Para nós Cristãos é importante saber de outras crenças e tomar conhecimento do contexto cultural e religioso de outros países. Eu particularmente sou fascinado pela musica Indiana. Espero que o povo evangélico deixe de assistir a “Caminhos da Índia”, não por conta de sua temática, mas por se tratar de uma obra popularesca e sem valor artístico nenhum. Se você quiser assistir a algo mais autêntico e tecnicamente superior, sugiro que procure filmes como “Gandhi”, “Passagem para a Índia”, “Cidade da Esperança” e o grande vencedor do Oscar 2008, “Quem quer ser um Milionário”.

Um abraço,

Leon Neto

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