“Obrigado por fumar”

Sabe aquele tipo de filme que ninguém presta muita atenção quando é lançado no cinema, mas depois que chega em DVD descobre-se que é muito melhor do que aparentava? Pois é exatamente nessa categoria que podemos incluir o bom “Obrigado por Fumar”.

Talvez por conta de toda a agitação das indicações e premiações do Oscar, pouca gente se deu ao trabalho de assistir a esse filme. E ainda que tenha sido até discretamente festejado pela critica especializada, jamais chegou a causar grande impacto nas bilheterias. Eu mesmo preferi assistir a outros filmes mais badalados na época e só fui dar uma chance a “Obrigado por Fumar” quando sua versão em DVD foi lançada no mercado.

Politicamente incorretíssimo, o filme conta a trajetória de um lobista que trabalha como testa-de-ferro da industria do tabaco, como diretor de uma pra lá de suspeita organização que procura colocar por terra todos os estudos que denunciam os malefícios do fumo. O tal personagem tem uma lábia daquelas de derrubar avião e vai sem o menor pudor a programas de televisão, debates com políticos, e até mesmo a escola de seu filho para defender o uso do cigarro e ridicularizar os oponentes e detratores da industria tabagista.

O ator, Aaron Eckhart , está absolutamente perfeito no papel e empresta não só a necessária cara-de-pau ao personagem, mas também coloca em sua atuação uma sensibilidade reprimida que descortina nuances inesperadas no personagem, especialmente nas cenas em que contracena com seu filho de dez anos. Os atores coadjuvantes também estão sensacionais, com destaque para William H. Macy na pele de um senador que usa a campanha contra o fumo como ferramenta de autopromoção. Os debates entre os dois citados personagens são imperdíveis e engraçadíssimos. Maria Bello e J. K. Simmons também tem participação de destaque como colegas lobistas da indústria farmacêutica e de armamentos respectivamente que juntos com Aaron formam um triunvirato do mal que se reúne regularmente no “happy hour” para comentar suas respectivas artimanhas e estratégias.

Mas além da diversão, o filme retrata uma faceta da sociedade contemporânea que assusta, mas é bastante real; a face espúria do capitalismo onde a ganância e a idolatria ao dinheiro e ao poder justificam todos os meios, até mesmo a morte de inocentes. O diretor Jason Reitman conseguiu conduzir a trama sem cair no emocionalismo barato e no maniqueísmo, e construir personagens de carne e osso, com dualidades, emoções e contradições, assim como na vida real, onde ninguém é totalmente bom ou totalmente mau. E muito bonito, por exemplo, a amizade que surge, em meio a estratagemas e pilantragens, entre os três lobistas, e também as sutis mudanças que vão se desenrolando no personagem principal à partir da relação com seu filho.

“Obrigado por Fumar”, é decididamente um filme fora dos padrões americanos. E digo isso como elogio.

Um abraço,

Leon Neto

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