Pentecostalismo, espiritualidade 171 e Avenida Brasil

Existem muitos modos de “ver” as coisas que concernem a “Deus” [conceito] e à “espiritualidade” [prática do conceito espiritual no qual se crê].

Nem de longe é meu objetivo discorrer sobre as principais vertentes dessas espiritualidades; afinal, teria que ser um imenso de um livro o projeto que sequer pretendesse arranhar as multi-gamas dessas variáveis de olhar espiritual entre os humanos.

Atenho-me ao nosso meio imediato: o mundo cristão evangélico!

Ora, no ambiente chamado “evangélico” [que cobre hoje todos os grupos não católicos de confissão bíblica no país] — foi o Pentecostalismo [de todos os matizes] o introdutor de um pressuposto devastador para a produção de uma consciência carregada de caráter e honestidade nas práticas da vida.

O Pentecostalismo, em linhas gerais, não é predestinista-divino da segurança da salvação [como são os Reformados], embora seja predestinista-humano do inferno, quando pela certeza de que “fora dos cultos e das frequências e filiação à igreja local não há salvação”, com imensa facilidade danam toda a humanidade não igrejada no fogo…; sim, e isso por um tempo de duração eterna.

Assim nasce a ufania de que o crente pentecostal tem um poder espiritual maior do que todos os demais, pela certeza de que se houver observância aos ditames morais e aos costumes espirituais da “igreja” a pessoa se torna santa, e, portanto, superior a todos os demais humanos no planeta [caso não faça nenhuma irregularidade bíblico comportamental e jamais deixe de obedecer ao seu pastor ou líder].

Além disso, se ensina também [sem a frase explicita, mas nas entrelinhas] que “Deus é Pentecostal”, depois “evangélico”, e, depois de tudo…, quem sabe…, talvez… Deus seja “cristão” no sentido lato do termo. Mas apenas muito “quem sabe”…

Quando falo de “Igreja Pentecostal” me refiro mais ao conceito e práticas do que ao um nome ou placa. Que fique entendido; até porque a “igreja evangélica” que não é publicamente pentecostal, na prática das coisas, todavia, o é quase que na sua totalidade.

A crença é a seguinte: “Deus” tem um borogodó que os pentecostais que não tem com mais ninguém!

A eles “Deus” deu muitos poderes, especialmente aos seus líderes…

Sim, deu-lhes o poder de falar em línguas, de profetizar, de curar, de repreender o diabo, de comandar anjos, de condenar homens ao inferno, de separar o joio do trigo, de dizer o que é certo e errado para os outros todos, de intervir nos governos, de enquadrar as minorias, de acusar os que não são “evangélicos” de serem “o mundo”; e mais: deu-lhes o poder de darem ordens a “Deus”, de ordenar-Lhe o que “fé/desejo/capricho/nosso”. Sim, deu-lhes o poder de determinar [caso a pessoa não esteja devendo nada à “igreja”].

Porém, mais do que tudo, “Deus” os tornou os “Seus” representantes autorizados no planeta; assim…, eles também têm o poder de amaldiçoar, de abençoar conforme o interesse, de cobrar e receber dinheiro de “Deus”, de criarem “campos de força espiritual” [a cobertura]; além de que são eles que decidem o que Deus liga nos céus ou desliga na terra, conforme a determinação deles.

Ah, o “Eterno” também deu a eles o poder de “lavar o dinheiro de Deus”.

O dinheiro pode ser roubado, mas se devidamente dizimado na “igreja”, está lavado.

O dinheiro pode ser de drogas, mas, dedicado à igreja, se torna santo.

O dinheiro pode ser da máfia, porém, se for tirado o dizimo do bruto, tudo está legalizado por “Deus”.

Ora, como o Pentecostalismo é revelacionista existencial… [embora creia no livro Bíblia e dele faça suas doutrinas; [adorando o livro como um ente sagrado], ainda que se dizendo uma fé bíblica, de fato, a qualquer momento, por causa do modo intimo e diferenciado que “Deus” trata os “Seus herdeiros pentecostais”, o que a Bíblia diz pode se tornar uma Lei Para Todos, mas não para o ente revelacionista existencial pentecostal; posto que para ele “Deus” dê novas “revelações”, as quais podem “abrir para o crente pentecostal somente” […] uma porta especial e inigualável; a qual, para os demais homens “sem revelação” está vetado o entrar, mas para o “ungido” está legalizado pelo Senhor.

E tem mais: se o que estiver em jogo for a prosperidade da causa do “Evangelho ou da Igreja”, vale tudo!

Sim; vale tudo!

Querem que eu cite histórias aos milhares para demonstrar que é assim que é?

Desse modo, até a oração é “adianto indevido” pro lado do “crente”.

O sujeito não estuda, não trabalha, não se esforça, não aprende, diz que tudo coisa do “mundo”, e diz: “Eu determino que sou cabeça e não cauda, e, portanto, saiam os ímpios do meu caminho porque sou filho do Rei!”

Sendo assim, ser filho de “Deus” é ser um playboy filho de mafioso culpado e que realiza todos os caprichos de seu filho bandido e arrogante.

Ora, esse conceito se espraia para todas as dimensões da vida… Sim, literalmente altera tudo no olhar do individuo e mata o seu caráter e a sua humanidade fundamental, roubando-lhe a benção da consciência justa, e, assim, dando a tal individuo a espiritualidade 171 dos estelionatários.

Na verdade o homem se torna o que ele confessa como espiritualidade. Tudo nele passa a ser a imagem e semelhança de sua confissão e entendimento.

Desse modo, me diga; sim, sendo assim, me diga:

TENDO ESSE “DEUS” E DESENVOLVENDO ESSA “ESPIRITUALIDADE”… COMO É POSSÍVEL VIVER EM HUMILDADE, SERVIÇO, COMPAIXÃO, ENTREGA, SOLIDARIDADE INSDISCRIMINADA, HONESTIDADE, BONDADE, TRANSPARENCIA E REVERENCIA PARA COM TUDO E TODAS AS COISAS NA EXISTÊNCIA, QUANDO TUDO O MAIS É PARA SER USADO PELOS NOSSOS CAPRICHOS BREGAS, SEMELHANTES AOS DESEJOS COTIDIANOS EXPRESSOS NA CIDADE RELIGIOSA CHAMADA DE DIVINO NA NOVELA AVENIDA BRASIL?

Assim, digo: a coisa ficou tão 171 em tudo que não titubeio em afirmar que o personagem Tufão da novela Avenida Brasil é muito mais gente de caráter do que a maioria dos pastores 171 que em nome de “Deus” fazem do povo os “bichos do jogo”.

Com tal espiritualidade não é possível viver com lucidez, sobriedade, simplicidade, humanidade, solidariedade indiscriminada e caráter de Cristo em nós.

Entenda: falei não de pessoas e nem de uma sigla, mas apenas de um espirito que permeia quase toda a espiritualidade “evangélica”.

Sem medo de ser julgado, pois Nele falo com sinceridade,

Caio

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