O Conselho Mundial de Igrejas (CMI) questionou, nesta terça-feira, o sistema mundial de comércio vigente e pediu às igrejas que incentivem os governos a continuarem trabalhando por um novo mecanismo de comércio multilateral com regras “justas e democráticas”.

O Comitê Central do CMI, reunido em Genebra de 30 de agosto a 6 de setembro, disse que o fracasso das negociações da rodada de Doha, em julho, no seio da Organização Mundial do Comércio (OMC), foi propiciado pelos interesses das nações que dominam tais relações. A rodada de Doha visa diminuir as barreiras comerciais para os países em desenvolvimento, com foco no livre comércio.

“Desde seu começo, lamentavelmente, a OMC padece do abuso de poder dos países mais influentes”, arrolou o organismo ecumênico. O CMI deplorou o colapso das negociações após cinco anos de intenso diálogo, fato que qualificou como “o desafio mais recente ao multilateralismo”.

O CMI adiantou que essa ruptura desencadeará mais acordos comerciais bilaterais, e advertiu que serão os países em desenvolvimento os mais afetados, porque não estarão em condições de exercer nenhum tipo de influência e podem ser explorados.

As negociações da rodada de Doha iniciaram em 2001, quando se esperava que as nações menores, dedicadas ao fornecimento de matérias-primas, pudessem participar da prosperidade de das nações desenvolvidas.

A expectativa era que as nações em desenvolvimento pudessem sair da pobreza. Essa esperança se desfez, contudo, quando os países industrializados começaram a impor termos e condições através dos mecanismos da OMC, assinalou o organismo diretivo máximo do CMI.

As exportações dos países menos desenvolvidos diminuíram constantemente, recuando de 0,7%, em 1985, para 0,4%, em 2005. “Isso ocorre porque as condições comerciais impostas aos pobres debilitaram as vantagens que podiam ter desfrutado com a abertura do comércio”, afirmou o CMI.

O organismo ecumênico mundial alegou que as companhias transnacionais pressionam os governos para obter concessões nos impostos, uma regulamentação trabalhista favorável aos seus interesses e demora na imposição de critérios ambientais.

Na Agricultura, os pobres sofrem “dumping” e outros efeitos das regras injustas de comércio, agregou. O CMI recordou que, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), existem 800 milhões de pessoas que padecem com a escassez de alimentos, enquanto outras 42 milhões sofrem desnutrição grave.

Enquanto as exportações agrícolas mundiais apresentam valorização anual de 500 bilhões de dólares estadunidenses, 15 milhões de crianças morrem, por ano, antes de completar cinco anos de idade em decorrência da fome ou de enfermidades a ela relacionadas.

“Há comida suficiente para satisfazer as necessidades de todos, mas ela não chega aos pobres e famintos, pois não podem custeá-la por causa de modelos e práticas de comércio injusto”, criticou o CMI.

O organismo ecumênico mundial responsabilizou os “desequilíbrios” do atual sistema comercial mundial de não cumprir a promessa de crescimento econômico e erradicação da pobreza.

Fonte: ALC

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