O “deus-mercado” é a maior manifestação diabólica dos tempos atuais, aponta o documento final da Consulta Teológica sobre o Direito à Vida Plena, reunida pelo Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI)-Brasil, dias 25 a 28 de outubro, em Londrina, Paraná.

Esse deus não tem qualquer interesse pelos pobres, que “são tratados como se não existissem”. A Consulta recolheu a reflexão iniciada nos Fóruns Teológicos, realizados em junho em Londrina, Recife e São Leopoldo. As conclusões da Consulta serão levadas à V Assembléia Geral do CLAI, agendada para Buenos Aires, em fevereiro de 2007.

O documento final da Consulta reconhece que os esquemas de poder e dominação hoje são sutis. “Eles estão ocultos, não são facilmente reconhecidos, escondem-se por trás de grandes corporações, assim como de sistemas políticos e econômicos e, principalmente, atrás de discursos forjados na comunicação de massa e na ideologia do consumo e do mercado”, arrola o texto.

Nem mesmo as igrejas estão imunes à tentação do deus-mercado. Em alguns modelos, elas criam e sustentam desigualdades e exclusões, desrespeitando de modo flagrante os direitos humanos “na medida em que garantem apenas a algumas pessoas o direito de falar, fazer e decidir, e não levantam a sua voz contra aqueles que são opressores”.

A Consulta denuncia, ainda, modelos ideológicos que se confundem com teologias. Ideologias de mercado, cada vez mais em moda nos meios evangélicos, sacralizam o modelo e o sistema vigente à medida que introduzem como linguagem teológica conceitos que exigem graça, cobram promessas e buscam recompensas.

As igrejas representadas na Consulta do CLAI-Brasil reconhecem, pois, a necessidade de reflexão contínua sobre a graça de Deus, para evitar a tentação de aliar-se “aos poderes deste mundo que prometem sucesso e prosperidade a qualquer preço”.

O documento tirado do encontro lembra às igrejas a necessidade de “redescobrir o profundo sentido da dignidade humana”, de aprofundar a formação cidadã do povo na América Latina e no Caribe, de atuar em redes de defesa da vida, e de construir uma cultura de paz e de direitos a partir do Evangelho como sinais da presença da Igreja no mundo.

A Consulta recomendou maior investimento na formação ecumênica e o fortalecimento do compromisso das igrejas com o meio ambiente, considerando a água um bem público, garantindo o seu acesso a todos os seres humanos e opondo-se a toda iniciativa de privatização dos recursos hídricos.

Após a Consulta, delegados de igrejas filiadas ao CLAI reuniram-se em Pré-Assembléia, quando avaliaram o trabalho desenvolvido pelo organismo ecumênico continental e a secretaria do Brasil.

Fonte: ALC

Comentários