O juiz Rao Abdel Jabar concordou em presidir a audiência contra Martha Bibi Masih na capital do distrito de Kasur. A informação foi dada pelo advogado de defesa Ezra Shujat.

Ele disse à agência de notícias Compass que o julgamento havia sido transferido de Chunian, perto da vila de Martha, por causa do caráter delicado do caso.

A polícia prendeu Martha na manhã de 23 de janeiro, depois de um grupo violento ter atacado a casa dela na vila de Kot Nanka Singh, segundo informou o Centro para Ajuda Legal e Assentamento.

Afirmações de que Martha havia insultado o fundador do islamismo deram origem ao confronto, disse o marido de Martha em uma entrevista dada ao Centro no dia da prisão de sua esposa.

O advogado de defesa contou ao Compass que Martha continua presa na cadeia de Kasur, enquanto seu marido e seus cinco filhos se esconderam para evitar uma retaliação.

“Estamos com medo e preocupados agora”, disse Ezra, que também é ativista da Aliança Geral das Minorias do Paquistão. “Eles não podem trabalhar em lugar nenhum aqui.”

Acusações de blasfêmia são delicadas no Paquistão, onde o Artigo 295-C do código penal prevê morte para qualquer um acusado de difamar Maomé. As sentenças de morte sempre são refutadas pelas instâncias superiores, mas 23 pessoas acusadas de blasfêmia já foram assassinadas.

Uma vez que os ânimos ainda não se acalmaram na cidade de Martha, a polícia exigiu que o caso dela fosse transferido para Kasur para evitar uma situação de ameaça à “lei e a ordem”, disse o jornal Dawn no dia 8 de fevereiro. Em um artigo de 4 de fevereiro, um polícia disse a agência de notícias Reuters que a polícia havia levado Martha para Kasur porque as pessoas da área dela estavam “bastante furiosas”.

O marido de Martha disse que as acusações contra sua esposa eram falsas e eram fruto de uma discussão com uma vizinha muçulmana. Na entrevista que deu ao Centro para Ajuda, Boota Masih explicou como sua esposa havia ido ao canteiro de obras de uma mesquita em 22 de janeiro para pegar de volta materiais que ela havia alugado aos construtores.

“Ela pediu às pessoas que estavam lá para entrarem [na mesquita] e pegarem as suas varas de bambu”, disse Boota. “Mas ninguém a ajudou.”

Como cristã, ela não pode entrar na mesquita, explicou seu advogado de defesa.

Quando Martha pediu para uma lojista ajudá-la a pegar seus materiais, a mulher se recusou, e as duas discutiram.

Mais tarde, a lojista contou o ocorrido ao seu marido, Muhammad Ramzan, dizendo que Martha havia amaldiçoado o profeta do islamismo durante a discussão. Muhammad espalhou entre os vizinhos que a cristã havia blasfemado. Ele reuniu um grupo para marchar até a casa de Martha às 22 horas.

Boota disse que pediram ao seu vizinho Muhammad Rashid Mughal, para nos esconder na casa dele, e ele concordou. O grupo revistou a casa de Boota por duas horas, mas se dispersou depois de não encontrar a suposta blasfemadora.

Queixa de ausência

Quando Martha finalmente deixou a casa de seu vizinho na manhã de 23 de janeiro, a polícia a prendeu e a levou para a cidade de Changa Manga.

Um amigo de Muhammad Ramzan, Muhammad Dilbar, fez um boletim de ocorrência contra Martha, acusando-a segundo o artigo 295-C.

“É importante notar que Dilbar, que fez a queixa, nem estava na cena do incidente”, ressaltou o advogado de defesa. Segundo ele, o superintendente de polícia do distrito carimbou o boletim de ocorrência sem investigar pessoalmente o caso.

“Ele preencheu os papéis porque [oficialmente] apenas um superintendente pode investigar um caso de blasfêmia. Mas acredito que ele não investigou”, disse Ezra.

A polícia local concluiu a investigação na semana seguinte à sua prisão, dizendo aos jornais paquistaneses que a cristã era culpada de blasfêmia.

“Não podemos deixar que as pessoas profanem o nome do Santo Profeta. A queixa feita contra ela era verdadeira”, o policial Reza Shah, do quartel de Changa Manga, disse ao jornal “Dawn”, no dia 2 de fevereiro.

Os policiais do quartel de Changa Manga, procurados pelo Compass, não puderam confirmar a exatidão dessa afirmativa.

Um comentário foi colocado no site de notícias Paktribune em 9 de fevereiro. Nele, um morador da cidade de Lahore pedia à Suprema Corte para cancelar o “caso horrível contra Martha Bibi”.

“Até o cristão mais ingênuo não se atreveria a dizer algo que pudesse se parecer com uma blasfêmia no Paquistão a não ser que ele quisesse encontrar uma forma mais demorada de cometer suicídio”, escreveu o professor Wasif Khan.

No mês passado, um senador paquistanês, falando em Paris sobre a condição das minorias religiosas no Paquistão, disse que o governo espera fazer emendas às leis de blasfêmia.

“Inshallah [se Deus quiser], depois das eleições” no fim desse ano, respondeu o senador Mushahid Hussain Sayed quando perguntado de o país iria mudar a lei, relatou a Reuters.

Líderes do governo fizeram a mesma declaração. A mais recente, dada pelo ministro do Estado Tariq Azim em dezembro, disse às minorias que eles teriam “boas notícias em relação a emendas na lei de blasfêmia” naquele Natal, relatou o jornal “Daily Times”.

Mudanças concretas ainda não se aconteceram.

Fonte: Portas Abertas

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