Dezenas de milhares de cristãos sudaneses celebraram a Páscoa na capital sudanesa Cartum, no último domingo.

Alguns deles contaram à agência de notícias AFP que desde o janeiro de 2005 – quando houve um acordo de paz que interrompeu duas décadas de guerra civil entre árabes muçulmanos no norte e o sul do país majoritariamente cristão – é que eles ficaram livres para praticar a fé cristã.

Apesar disso, os cristãos contaram à AFP que ainda sofrem discriminação, por conta da implementação da lei islâmica, a sharia. Clérigos contaram que o governo baniu estudos bíblicos nas escolas, empregadores dão menos folgas aos cristãos e locais públicos impedem a entrada de mulheres que não estejam com o véu islâmico.

Também há restrições para a construção de novas igrejas. A sharia favorece os muçulmanos em questões de herança e terras.

Reflexões sobre o sofrimento de Cristo e da Igreja

“Na Páscoa, nós refletimos sobre o sofrimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Ao mesmo tempo nós também refletimos sobre o sofrimento da comunidade”, disse o reverendo Cannon Sylvester Thomas, da Catedral da Igreja Anglicana de Todos os Santos.

Em 31 de dezembro de 2006, conforme noticiado pela AFP, a polícia lançou gás lacrimogêneo na igreja e feriu seis pessoas. Na semana passada, disse o reverendo Thomas, o serviço de segurança alertou a igreja sobre ameaças de membros de tribos árabes que buscam vingança em lutas com ex-rebeldes sulistas.

Não há nenhuma tradição de ovo de Páscoa, segundo a AFP. Em vez disso há a tradição da igreja oferecer doces e outras guloseimas aos amigos visitantes, familiares e vizinhos muçulmanos.

Orações pela manutenção da paz

O clérigo Roko Taban que lidera os cultos de Páscoa na Catedral de St Matthew, contou que concentraria as comemorações desse ano em orações congregacionais para que o frágil acordo de paz seja fortalecido.

” O foco principal é que a paz seja mantida e bem implementada. Essa é a nossa esperança e o nosso desejo; que aquelas pessoas não voltem para guerra”, ele disse.

Taban afirmou ainda que pelo menos os cristãos educados estão começando a ignorar os códigos de vestimentas conservadoras. Freqüentemente já podem ser vistas meninas cristãs com mangas, blusas com decote e saias no joelho.

A luta por direitos comuns

Um bom número de pessoas está começando a lutar por seus direitos. Eles querem ser considerados iguais aos muçulmanos. Por que eles deveriam ser cidadãos de segunda classe quando eles também são sudaneses?” , questiona Taban.

“Muçulmanos linha dura freqüentemente pintam os cristãos sudaneses como patetas do Ocidente”, completou ele.

O impacto do caso do urso Maomé sobre os cristãos

Em novembro passado, uma professora britânica foi presa porque permitiu que um de seus alunos desse o nome Maomé para um ursinho de pelúcia, o que foi considerado um insulto ao islã.

Fanáticos quiseram queimar a igreja e a escola. Eles estavam gritando “morte à comunidade cristã”, contou Thomas à AFP. “Nós somos sempre sensíveis a isso. Sempre que uma coisa assim surge, nos arriscamos e ficamos quietos por causa destes fanáticos.”

Fonte: Portas Abertas

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