Em uma só tarde, dois casos de crianças mortas: cinco por uma mãe, três por outra. Outros casos de abandono e morte de menores foram manchete nos últimos meses. É uma casualidade ou algo está errado na sociedade alemã?

No dia 5 de dezembro, a Alemanha anoiteceu com dois casos tétricos: no total, oito crianças foram mortas pelas próprias mães. Três filhos num caso e cinco no outro. A organização Kinderhilfe (Ajuda à Infância) acompanha com assombro as tragédias infantis descobertas em Plauen, no Leste alemão, e em Darry, norte da Alemanha.

Em um caso, a mãe de 31 anos teria assassinado cinco crianças entre 3 e 9 anos de idade; no outro, a mãe, de 28, teria matado três bebês pouco depois de nascerem. “Não se trata de fatos isolados”, observa o presidente da organização, Georg Ehrmann.

Estes e outros casos de crianças vítimas da crueldade e da negligência de seus pais, levam Ehrmann a assegurar que a Alemanha passa por uma crise estrutural. “Os filhos são considerados um incômodo e desprezados”, declara, destacando que estes tipos de casos se detectam quase exclusivamente na classe social mais baixa. Segundo ele, as entidades encarregadas pelos menores se fazem de desentendidas. Quem tem a mesma opinião é Paula Honkanen-Schoberth, diretora da Liga Alemã de Proteção à Criança, terapeuta familiar e autora do livro Filhos fortes requerem pais fortes. Um curso para pais.

Em entrevista à DW-WORLD.DE ela disse que mesmo não dispondo ainda de dados estatísticos de 2007, “temos a impressão de que aumenta a quantidade destes casos tristes. Nos últimos anos, foram registrados cerca de três infanticídios por semana”.

O fato de filhos serem assassinados por seus pais ou menores morrerem de fome apesar de existirem entidades estatais de amparo ao menor se deve, segundo a especialista, à mudança da “estrutura tradicional alemã, em que a mãe cuidava dos filhos em casa durante os primeiros anos de vida”.

Mudanças na Constituição

Mesmo que tenham sido impulsionadas, nos últimos anos, reformas importantes para fortalecer as estruturas familiares, “a situação das famílias mais pobres não está em foco”, disse Honkanen-Schoberth, ressaltando que 2,6 milhões de crianças vivem na pobreza, o que corresponde a um terço da população infantil alemã.

“As reformas têm enfocado a compatibilidade de trabalho e família, o que sem dúvida é importante, mas mas não a necessidade de incluir os filhos nos sistemas de assistência desde a tenra infância”, constata.

O direito da criança a uma educação sem uso de violência é garantido pela legislação alemã desde o ano 2000. Isto contribuiu para melhorar a consciência entre os pais de que a violência não é um bom método pedagógico.

“Efetivamente, os pais agora dão menos surras e palmadas em seus filhos do que era comum em décadas anteriores”, explica a especialista, acrescentando: “Nós, no entanto, insistimos para que os direitos das crianças sejam incluídos na Constituição, para que a médio e longo prazo seus direitos e necessidades possam ser levados melhor em conta politicamente”.

Apesar de todos os anúncios políticos e das reformas, a situação social das famílias alemãs tem piorado a olhos vistos nos últimos anos, afirma a representante da rede, que possui mais de 400 escritórios em toda a Alemanha e trabalha tanto politicamente como com assistência individual.

“É importante que chegue em tempo hábil aos pais a mensagem de que não é vergonhoso buscar ajuda”, aconselha Honenken-Schoberth, que está convencida de que é o desespero e a pobreza que levam a esses casos tristes”.

Fonte: DW World

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