A doutrina da prosperidade, proclamada por igrejas neopentecostais, supervaloriza o cumprimento do dízimo, faz da bênção um direito do crente, exalta de modo indevido a prosperidade material, é individualista, não-profética e politicamente conservadora.

Ela “não procura ver as raízes estruturais da pobreza e do desemprego, muito menos os interesses gananciosos por detrás da concentração de renda”, aponta pronunciamento da presidência da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) a respeito da doutrina da prosperidade.

O documento admite que a prosperidade na Bíblia é uma promessa divina, externada de diversas maneiras e em diferentes épocas da vida do povo de Deus. Essa promessa não se limita, contudo, à prosperidade material, abrange todas as esferas da vida, também a dimensão espiritual.

A Bíblia dá conta da existência de pessoas prósperas, mas cuja abundância não provém do temor e da obediência a Deus. Trata-se, informa o documento da IECLB, da prosperidade dos perversos e dos ímpios, que vem associada, muitas vezes, à violência e opressão.

Assim, há limites para a prosperidade material. O limite está dado “quando não serve mais às necessidades reais, mas, em função do acúmulo, cria sempre novas e diferentes ‘necessidades’ adicionais”.

Textos bíblicos confirmam dois importantes princípios. O primeiro, que a natureza última da prosperidade é coletiva. “Deus a deseja para todo o seu povo, mesmo que (Ele) seja sensível a petições individuais”. O segundo, que ela leva à prática do bem. “A partilha dos bens, a sua distribuição mais eqüitativa, é a finalidade última das bênçãos advindas da prosperidade material”, afirma o documento da IECLB.

A doutrina da prosperidade entende que todas as pessoas crentes devem e podem prosperar, desde que “se tornem plenamente cientes dos seus direitos de prosperidade, assegurados pelo próprio Deus em sua Palavra”, “saibam exigir e reivindicar junto a Deus a validade e o cumprimento desses direitos ‘em nome de Jesus’, isso porque ‘direito não reclamado é direito não existente’”.

Tal compreensão contraria frontalmente a justificação por graça e ignora as diferenças entre Deus, Criador, e os seres humanos, criaturas. Só a Deus cabe, em última análise, o governo do mundo. “Também não cabe a uma criatura tirar de Deus a liberdade para decidir a hora e o lugar para derramar as suas bênçãos”, sustenta o documento.

O crente também não pode vacilar do cumprimento da promessa de Deus e deve estar liberto de influências ou possessões demoníacas. Na análise da IECLB, a doutrina da prosperidade combate o mal da pobreza apelando “para uma mágica transformadora de palavras ditas com determinação, ao invés de se empenhar pela correção de estruturas de injustiça e das leis que a facultam”.

O documento foi preparado pelo professor Uwe Wegner, da Escola Superior de Teologia (EST), e assumido pelo pastor presidente da IECLB, Walter Altmann. O parágrafo final do documento alerta:

– Não devemos permitir que os interesses econômico-financeiros que hoje determinam o processo de globalização sujeitem também a nossa fé a uma visão estreita de prosperidade individual e material.

Fonte: ALC

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