A meta do governo federal de erradicar o analfabetismo entre as pessoas com 15 anos ou mais de idade, prorrogada na semana passada, não teria mesmo como ser cumprida até o ano que vem. Ainda existem 15 milhões de brasileiros que não sabem ler e escrever.

Embora seja comum a todas as regiões e atinja 10,2% da população com 10 anos ou mais de idade, a falta de instrução primária é mais acentuada no Nordeste, onde a proporção chega a 20% – no Sul, é de 5,4%.

Considerando os últimos dez anos, o IBGE registrou evolução na educação: subiu a média de anos de estudo, aumentou o ingresso na escola e caiu a taxa de analfabetismo, reduzida de 14,7% para 10,1% – os dados excluem a população do Norte rural.

Apesar da melhoria, grande no Nordeste, onde o porcentual dos que não tinham acesso à rede de ensino, no grupo de 7 a 14 anos, caiu de 20,3% para 3,5%, ainda existem 3,7 milhões nessa faixa etária fora da escola.

‘Houve queda na taxa de analfabetismo, mas ela ainda é muito alta. Além disso, há grande quantidade de analfabetos funcionais’, diz o presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes, referindo-se às pessoas com menos de quatro anos de estudo – que, no ano passado, totalizavam 38 milhões, consideradas as pessoas com 10 anos ou mais de idade.

Para o pesquisador Pablo Gentili, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o aumento da escolarização é apenas metade do caminho rumo à superação da desigualdade. ‘O que vemos ainda é uma ‘inclusão exclusiva’, já que os mais pobres entram na escola, mas permanecem sem acesso à educação de qualidade’.

Segundo o Ministério da Educação, os dados confirmam a necessidade de reestruturar o programa Brasil Alfabetizado e atingir o analfabeto absoluto.

Falta de registro civil impede crianças de ir à escola

A falta de registro civil de Sirlei Monteiro dos Santos e dos dois filhos menores impede que a vendedora de tapetes de 44 anos matricule as crianças na escola.

Ela reconhece que foi negligente em não ter ainda providenciado o registro de Jéferson Ricardo, de 11 anos, e Paulo Henrique, de 7, mas tenta se justificar. ‘Sou sozinha, meu companheiro me abandonou e não tenho a quem recorrer.’

Sirlei conta que por diversas vezes foi a um cartório de Belém para legalizar a situação das crianças. Não conseguiu. ‘Um funcionário olhou pra mim e perguntou pela minha certidão de nascimento. Respondi que não tinha e ele disse que não poderia fazer nada por mim.’ Com sete filhos para criar – os outros cinco estão matriculados – e vivendo de uma renda com a venda de tapetes que não chega a R$ 200 por mês, ela chora ao lembrar das cobranças que recebe de Jéferson e Paulo.

‘Eles olham para os outros, vêem todos estudando e perguntam por que estão fora da escola. Sinto vergonha e tristeza de dizer que é tudo por causa do registro civil.’ As vizinhas de Sirlei dizem que na rua onde ela mora há outras crianças que não estão matriculadas na rede de ensino municipal. Isso fez com que várias mães perdessem o direito ao programa Bolsa-Família e a outros benefícios do governo federal.

O garoto Jéferson disse que seu sonho é escrever o próprio nome e ler um livro. ‘Eu quero ir para a escola de qualquer jeito’, pediu o menino. Paulo pensa grande: ‘Quero ser doutor.’

Fonte: Estadão

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