O provável candidato republicano John McCain enfrenta um cenário complicado diante dos evangélicos, grupo de eleitores tradicionalmente republicanos que alavancou a votação do partido nas eleições passadas. Alguns grupos de batistas, maior denominação evangélica do país, sentem-se relutantes em apoiar um candidato tão “liberal” quanto McCain.

“É basicamente uma escolha entre um liberal e um ultra-liberal”, disse Jodie Sanders, freqüentador da igreja batista no Texas, um reduto republicano, sobre McCain e o provável candidato democrata Barack Obama.

A opinião, dividida por vários membros de igrejas batistas em todo o sudeste do país, revela um desafio para McCain, que precisa conquistar estes eleitores cristãos conservadores para garantir um bom resultado nas urnas de 4 de novembro. Os protestantes evangélicos representam um em cada quatro adultos norte-americanos, são uma base eleitoral chave para os republicanos e poucos analistas vêem uma vitória de McCain sem seu apoio em massa.

Mas McCain é visto com suspeitas nos círculos evangélicos conservadores por causa de seu passado de apoio à medidas consideradas muito liberais, como apoio a pesquisas com células tronco, apoio a uma reforma na legislação de imigração e seu fracasso em apoiar uma proibição federal do casamento gay.

“Eu acredito que a maioria dos batistas do sudeste apoiarão McCain, embora eu saiba que há alguns assuntos pendentes entre o senador e os evangélicos mais conservadores”, disse Frank Page, presidente do Congresso de batistas do Sudeste, que realiza seu encontro anual nesta terça-feira, em Indiana.

McCain frequenta uma igreja afiliada ao Congresso, em Phoenix, mas seus laços com a religião parecem não tê-lo ajudado a se conectar com o eleitorado em assuntos que eles consideram importantes.

“Eu acredito que a maioria dos batistas gostariam que ele falasse mais sobre assuntos evangélicos, mas nós estamos aceitando cautelosamente”, disse John Mann, pastor de Springtown, Texas.

McCain adotou uma postura mais reservada quanto à suas crenças religiosas que seus rivais democratas. Durante a campanha pelas primárias democratas, Obama e a ex-pré-candidata Hillary Clinton reiteraram inúmeras vezes suas crenças religiosas e suas políticas sobre temas considerados importantes para o grupo.

Eles participaram inclusive de um fórum religioso acompanhado de perto por milhares de eleitores no começo de abril. Tanto Hillary quanto Obama responderam a questões sobre fé e religião tanto na sua vida particular quanto no seu discurso político e em um possível mandato presidencial.

O Fórum da Fé na Vida Pública no Messiah College, perto de Harrisburg, Pensilvânia, foi transmitido pela TV norte-americana. McCain recusou o convite para ir ao fórum e sua ausência foi motivo de estranhamento entre os eleitores republicanos.

Opção

Dan Yoder, pastor de uma pequena igreja em Springfield, Tennessee, disse que terá que “tampar o nariz” quando for votar em McCain, mas que a outra opção é pior já que Obama é um “socialista convicto”.

Obama, que frequenta a igreja batista de Chicago, é um candidato com pouco apelo entre a linha conservadora dos evangélicos. Senador por Illinois, ele tem um registro de votação liberal, de oposição à guerra do Iraque e apoio aos direitos de aborto.

Os evangélicos também desconfiam de Obama pelos comentários controversos de seu ex-pastor, Jeremiah Wright, que afirmou que os ataques terroristas de 11 de Setembro foram uma retribuição à política externa dos EUA.

O democrata rompeu laços com o pastor e com a igreja, após o surgimento de mais controversas vindas de um outro pastor, seu amigo, sobre a insistência de Hillary em permanecer na corrida pela nomeação.

Mas se Obama afasta os conservadores mais radicais, sua fé e seu discurso sobre religião devem atrair os evangélicos jovens e mais moderados. De qualquer forma, ele não precisaria destes votos cristãos, já que eles tradicionalmente não entram na conta democrata dos votos nacionais.

Chapa republicana

A direita cristã tem até seus preferidos para a escolha do vice-presidente republicano. Yoder disse esperar que McCain escolha o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney.

Ele era o favorito de alguns conservadores quando disputava a corrida pela nomeação republicana, mas muitos evangélicos ficam receosos por sua fé mórmon e seu passado de aprovação do direito ao aborto.

Em Louisiana, o governador conservador Bobby Jindal desponta como uma boa escolha para McCain já que é um católico fervoroso, o que agrada este importante eleitorado.

Os políticos locais dizem estar certos de que Jindal balancearia a chapa republicana. A direita cristã também aposta em Jindal, que afirmou recentemente que em sua fé “você dá 100% de si próprio a Deus”, segundo reportagem do jornal norte-americano “The New York Times”.

“Ele tem tudo que falta em McCain”, disse o deputado republicano John LaBruzzo. “Ele é visto como um verdadeiro conservador, diferentemente de McCain”, disse.

Dentro da Casa dos Representantes (Câmara dos Deputados), muitos legisladores apoiaram a posição defendida pelo Fórum da Família de Louisiana, um grupo religioso, antiaborto que está afilado a grupos extremamente conservadores. Segundo o “NYT”, Jindal é um dos mais ativos membros do grupo.

“Eu acredito que há alguns princípios políticos que nós dividimos, que naturalmente nos colocam mais juntos, Nós valorizamos a vida humana e o governo limitado”, disse Gene Mills, diretor-executivo do Fórum.

Em uma atitude importante para a equipe de McCain, Jindal mantém uma postura cautelosa sobre temas polêmicos. Assim Jindal, prefere se manter longe de discussões como a do Ato de Educação Científica de Louisiana, que promove “uma discussão aberta e objetiva” nas escolas sobre “a evolução, origens da vida, aquecimento global e clonagem de seres humanos”.

Gary Ledbetter, porta-voz da convenção batista do Texas, disse que McCain parece o candidato “mais forte em assuntos familiares”, como o aborto.

“Nós podemos debater a guerra e a economia, mas há algumas coisas que nós sentimos que Deus já falou e não deve haver debate”, afirma.

Fonte: Folha Online

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