“Não levantarás falso testemunho”. O não cumprimento do oitavo mandamento da lei de Deus pode ter sido a causa do desaparecimento de Mirela Amparo da Conceição, 19 anos, uma jovem evangélica da Assembléia de Deus, no Alto da Bela Vista, em Itamaracá, que teria sido vítima de boatos sobre a sua conduta moral.

Desaparecida desde a quarta-feira de cinzas, Mirela passou os últimos dias antes de seu sumiço vivendo o drama de ter sua vida privada exposta diante dos membros da sua congregação. A acusação era de que ela estaria tendo relações sexuais com o namorado, o que é totalmente inaceitável pela igreja fora do casamento. O caso está sendo investigado pela delegacia de Casa Amarela, onde ela foi vista pela última vez.

Mirela mora em Itamaracá com os pais adotivos e na terça-feira de carnaval veio para Recife visitar a mãe biológica, Maria Amparo da Conceição, que mora em Casa Amarela. Segundo a mãe, no dia seguinte ela pegou o ônibus de volta para Itamaracá. Mas até ontem não havia chegado a seu destino.

Somente no domingo após o carnaval, cinco dias após, a família percebeu que ela havia sumido. “Eu pensava que ela estava em Itamaracá e a mãe adotiva dela achava que ela estava comigo”, contou Maria da Conceição. De acordo com a família, os últimos acontecimentos explicam o desaparecimento dela. “Mirela sempre foi uma menina muito alegre e atuante na igreja. Por causa desses boatos ela andava triste. A gente teme que isso tudo tenha mexido com a cabeça dela”, comentou o primo Ezequiel Augusto da Silva, 35 anos.

Mães

Mirela tem o raro privilégio de ter duas mães. Juntas na dor, elas tentam superar a ausência e não perdem a esperança de tê-la de volta. A mãe adotiva, Edna Melo, se apega à bíblia deixada por ela na gaveta. “Eu tenho muito fé que Mirela vai voltar. Espalhei fotos pela sala toda para ficar olhando para ela”, contou. A outra, a biológica, parece sentir a dor lá no ventre. Desde que soube do desaparecimento não consegue mais trabalhar. Pediu férias e desde o dia 10 de fevereiro, quando prestou queixa, cumpre uma rotina diária na delegacia em busca de notícias. “Eu não consigo dormir ou comer direito. Não sei mais o que fazer para encontrar minha filha. Às vezes penso que se ela tivesse ficado comigo isto não teria acontecido”, relatou.

Pistas

O delegado que investiga o caso, Joaquim Donato, disse que já ouviu os depoimentos dos parentes, do namorado e dos membros da igreja. “Não há como precisar o motivo do desaparecimento. Estamos investigando todas as pistas”, afirmou. Vários cartazes com a foto de Mirela foram espalhados pela família no centro do Recife. Três ligações anônimas deram informações do paradeiro dela no Cais de Santa Rita e em Itamaracá. “Checamos todas as denúncias e nada até agora foi descoberto”, revelou o delegado.

Uma das principais pistas da polícia é o celular. De acordo com a mãe biológica, ela saiu de casa com o celular descarregado. “Eu coloquei R$ 20 de crédito e ela queria chegar logo em casa para carregar e ganhar o bônus”, disse. A polícia vai tentar rastrear as ligações. “Estamos solicitando ao Grupo de Operações Especiais (GOE) que ajude nas investigações em relação ao rastreamento das ligações, pois tem uma estrutura melhor do que a nossa”, adiantou Donato.

Fonte: Pernambuco.com

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