[img align=left width=300]http://www.brasil247.com/images/cache/1000×357/crop_0_528_4094_1991/images%7Ccms-image-000420817.jpg[/img]

Líderes evangélicos não têm um discurso unificado em relação à acusação feita pela Procuradoria Geral da República contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), de possuir na Suíça contas ilegais e com US$ 5 milhões, sob sua titularidade e de seus familiares. Religiosos próximos a Cunha dividiram-se entre o silêncio e um tímido apoio ao parlamentar. No estante do campo evangélico, há cobrança por uma atuação mais crítica da bancada ligada às igrejas em relação às denúncias que envolvem o deputado.

Desde que Cunha foi denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF) em agosto, o pastor Abner Ferreira, presidente da Igreja Assembleia de Deus em Madureira, no Rio, não atende a pedidos de entrevista. Em fevereiro, Cunha chegou a participar de um culto de mais de duas horas em comemoração a sua eleição para a Presidência da Câmara junto com outros políticos na congregação. Na ocasião, declarou ter deixado a Igreja Sara Nossa Terra. Na denúncia ao STF, o lobista Júlio Camargo disse que pagou parte da propina de Cunha em forma de doação à filial paulista da Assembleia, cujo dirigente é Samuel Ferreira, irmão de Abner.

O bispo Francisco Almeida, coordenador da Sarah Nossa Terra no Rio, disse ao Estado que conheceu Cunha entre 1997 e 1998. Segundo ele, o deputado teria chegado sozinho à igreja, que naquela época ficava no Teatro da Barra. Almeida diz que Cunha frequentou os cultos somente até 2000. Para o bispo, o deputado é um homem inteligente, mas, diferente do que anuncia, está distante da congregação há bastante tempo. “Ele botava no perfil que era (da Sarah), e eu brigava. Aí ele dizia que frequentava em Brasília, mas também não ia. As pessoas lá na igreja nem conhecem o deputado”, afirmou Almeida.

Sobre as contas no exterior, o bispo diz que não quer “jogar a primeira pedra”. “Ele sempre foi um homem de negócios. Agora, depois disso não posso falar mais nada. Uma pessoa pública está sujeita a todo tipo de coisas. O MP encontrou, então vai ter de provar. Vamos ver o que acontece. De toda forma, estamos tristes com o andamento disso tudo”, completou.

O pastor Everaldo Dias, presidente do PSC e antigo apoiador de Cunha, diz que prefere acreditar no deputado até a comprovação da existência das contas.

“Outro dia também falaram que o (senador) Romário tinha conta na Suíça e uma semana depois disseram que não tinha mais. Por enquanto, prefiro acreditar na palavra do deputado Eduardo Cunha. Se ele diz que não tem, vou acreditar nele até provar o contrário”, disse.

O discurso do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, é semelhante. Ele diz que apoiou o deputado apenas na eleição para a Presidência da Câmara. Para Malafaia, Cunha pode perder apoio de votos na comunidade evangélica, “se as contas forem comprovadas”.

“Se deve, paga. Aqui não tem refresco para ninguém. Para mim a Justiça é para todo mundo. Se for comprovado que ele tem contas no exterior sem declarar, se for comprovado que perca o cargo, que seja processado”, afirma Malafaia.

[img align=left width=300]http://brasil.estadao.com.br/blogs/estadao-rio/wp-content/uploads/sites/204/2015/09/arcoverde2.jpg[/img]Entre os líderes evangélicos distantes de Cunha, há crítica também à bancada que segue dando apoio ao deputado. O pastor Ed René Kivitz, da Igreja Batista de Água Branca, afirma que atualmente é mais fácil encontrar vozes evangélicas críticas fora da atuação político-partidária.

“Existem evangélicos que apoiam a atuação do deputado. Mas existe um considerável contingente de evangélicos – entre os quais me incluo – que deplora sua história e trajetória política, desde suas participações nos governos Fernando Collor e Anthony Garotinho”, disse Kivitz, por email.

O pastor batista Henrique Vieira, vereador pelo Psol em Niterói, avalia que há uma crise na identidade evangélica no Brasil. Vieira sustenta que o setor ao qual Cunha pertence monopoliza a imagem do que é ser evangélico com o uso dos meios de comunicação, e isso se traduz na defesa de um projeto político extremamente conservador.

“O projeto deles não é laico e não respeita os direitos humanos. Não me surpreende a possível corrupção associada à figura do Cunha. E essas lideranças evangélicas que sustentam o poder de Eduardo Cunha o fazem porque estão sustentando o próprio poder”, disse Vieira.

Para Marcos Gladstone, pastor da Igreja Cristã Contemporânea, a bancada que o sustenta também demonstra estar comprometida. “Se eles são tão moralistas assim, se eles brigam tanto pela família e pela moral, como em um escândalo de corrupção desses eles não tomam nenhuma providência? ”, critica Gladstone.

[b]Fonte: Estadão[/b]

Comentários