Priscila Coelho é líder do Movimento Cores, um projeto evangelístico que trabalha com LGBTs de Belo Horizonte.
Priscila Coelho é líder do Movimento Cores, um projeto evangelístico que trabalha com LGBTs de Belo Horizonte.

Priscila Coelho abandonou as práticas homossexuais para se dedicar totalmente ao evangelismo e discipulado de vidas. Antes, ela sonhava em ser missionária na África, mas depois entendeu seu chamado, cuidar dos LGBTs. Em entrevista exclusiva para o Portal Guia-me, a líder do Movimento Cores conta como iniciou o projeto, que hoje funciona na Lagoinha Savassi.

“Nós começamos o Movimento Cores em 2015, mas desde 2012 que me questiono. As pessoas perguntavam como eu conseguia conciliar a sexualidade com Cristo. Eu sempre disse que vim do contexto LGBT, não tenho a prática, mas meu desejo é homoafetivo. Então, as pessoas achavam diferente o fato de eu assumir isso, porque geralmente eles ouvem o testemunho de quem é ex-gay, ex-travesti, mas não é o meu caso”, contou Priscila.

“Então, eu comecei a ter esse questionamento: ‘Porque Deus estava trazendo tanta gente querendo saber sobre meu testemunho? Sobre como eu conseguia caminhar com Deus tendo essas dificuldades?’ Então eu comecei a falar com Deus, questionando se eu precisava fazer algo específico com essa galera, mas isso nunca havia passado pela minha cabeça”, ressalta.

Priscila afirma que inicialmente seu sonho era fazer missões na África. “Sempre quis trabalhar com missões, ir para a África. E o que eu menos queria era mexer com LGBTs, porque era a minha área de fraqueza. Mas Deus estava falando demais ao meu coração. Então orei e busquei a Deus. Fui falar com meu pastor e disse: ‘Pastor Márcio (Valadão), estou me sentindo confrontada por Deus para ministrar a essa galera do LGBT’. Ele disse: ‘Filha, Deus tem uma isca para cada tipo de peixe. Se essa é a sua isca, então vá’”, lembrou.

Priscila explica que achou por bem não deixar a ideia muito “evangeliquês” para não afastar de cara o público alvo. “Eu tive a ideia de colocar o nome de Movimento Cores, para ser uma coisa que os LGBTs se identifiquem. E a gente começou a botar a mão no arado. Isso já vai fazer quatro anos no final deste ano. E com muita guerra, porque é uma coisa nova. Um lugar onde se trabalha com o fato de sair do armário para conseguir ajudar. Uma pessoa enrrustida não consegue trabalhar quem ela é. Então, a galera acha muito liberal ou inovador, mas Deus mandou eu conduzir dessa forma”, salienta.

Frutos de um árduo trabalho

Questionada sobre os frutos do Movimento Cores, a líder ressalta que o processo é lento e que muitas igrejas não sabem esperar o tempo das pessoas. “Falar de frutos para o LGBT é um pouco complicado. A salvação é um milagre. A gente pode ver na igreja, é muita gente, mas conversão mesmo é raro. O ‘Cores’ é um espaço diferente para o LGBT, porque a pessoa, para ela abandonar a prática, ela precisa ter Cristo”, coloca.

“Então, eu preciso de conversão aqui e não de comoção. Os frutos são poucos, mas você percebe transformações de verdade. A gente percebe que as pessoas que se entregam a Cristo se tornam cristãos sensacionais. Muitas pessoas que passam por aqui são transformadas e retornam para suas igrejas. A gente não tem intenção de lotar a Lagoinha Savassi ou a própria Lagoinha. É extremamente evangelístico”, diz ela.

“Nosso objetivo é que o LGBT tenha acesso a Deus. Então os frutos são esses. São pessoas detonadas que acham que não podem ter acesso a Deus por conta da sua orientação sexual. E se ele sair daqui acreditando que tem isso, mas que pode caminhar com Deus, para mim isso já é um fruto. E é um processo longo. Nós estamos falando de travestis, de transgêneros que muitas vezes nem entendem o que são. Então, ver essas pessoas caminharem com Cristo, ver um LGBT lendo a Bíblia e orando já é um grande fruto”, pontua.

Como lidam as igrejas com o LGBT

Priscila explica que há uma pressa em ver as mudanças na vida de um LGBT que se converteu. Mas, essas mudanças são diferentes para cada pessoa. “Andar com Cristo é muito difícil, por isso que a gente precisa do Espírito Santo do nosso lado. O cristianismo pede o radicalismo, mas na minha opinião a maioria das igrejas não sabe lidar com o LGBT. Se chega hoje uma menina masculinizada e lésbica, amanhã já querem que ela termine o relacionamento, que ela pare de usar droga, que use saia”, diz.

“Transformação não é isso. A transformação é Deus lavando por dentro, e uma hora ela vai ser transformada. Infelizmente a igreja não compreende de uma forma geral o pecador. Qualquer pessoa que entra na igreja e se assuma como pecador, a igreja não consegue lidar. A igreja está preparada para lidar com falsos santos, mas para lidar com o pecador que a Bíblia pede, eu não percebo essa habilidade não”, coloca.

“Quantos aos LGBTs, não dá para fingir, porque eles são muito verdadeiros. Então, um pastor geralmente tradicional não consegue lidar com isso e o processo é Deus com passar do tempo, entrando na vida da pessoa. A igreja não respeita o tempo do outro, então é tudo muito rápido. Mas para aquele que está exigindo a rapidez do outro, ele não quer que seja rápido com ele. Nós somos hipócritas”, finalizou. O Movimento Cores tem reuniões toda segunda e quarta na igreja Lagoinha Savassi, às 20h.

Fonte: Guia-me

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