Dois fósseis de espécies ancestrais do ser humano encontrados no Quênia estão colocando em xeque a teoria sobre a evolução do homem.

Trata-se de um osso do maxilar superior que teria sido de um representante da espécie Homo habilis e um crânio intacto, atribuído à espécie Homo erectus, descobertos na região do Vale de Turkana.

Até agora, acreditava-se que o Homo habilis teria evoluído para o Homo erectus que, por sua vez, teria originado o Homo sapiens, a espécie humana atual.

Mas os fósseis indicam que o habilis e o erectus podem ter coexistido durante um período de 500 mil anos na região do vale.

“A coexistência das duas espécies torna improvável a hipótese de o Homo erectus ter evoluído a partir do Homo habilis”, diz o professor Meave Leakey, paleontologista e co-diretor do projeto de pesquisa.

Se o Homo erectus e o habilis viveram juntos na mesma área, é possível que as duas espécies tenham competido diretamente pelos mesmos recursos.

Isso, porém, não é um consenso entre os cientistas. “O fato de o Homo erectus e habilis terem permanecido duas espécies individuais por um longo período sugere que cada um tinha seu próprio nicho ecológico, evitando, assim, uma competição direta”, afirmou Leakey.

Para o professor Chris Stringer, chefe do departamento de origens humanas do Museu de História Natural de Londres, “aparentemente ambos faziam ferramentas a partir de pedras”.

“Mas uma possibilidade é a de que a espécie erectus, que era maior e talvez tivesse mais mobilidade, fosse composta de caçadores ativos. Enquanto o habilis deveria se dedicar a presas pequenas”, disse.

Os cientistas acreditam relação ancestral-descendente entre as duas espécies não pode ser descartada totalmente.

Fred Spoor, professor de biologia desenvolvida do University College de Londres e co-autor da pesquisa, disse à BBC que “é possível que o Homo habilis tenha vivido, vamos dizer, 2,5 milhões de anos atrás. Então, em outra parte da África, longe do Vale de Turkana, uma população isolada evolui para o Homo erectus”.

Depois de um período de tempo suficiente para as duas espécies desenvolverem diferentes adaptações e estilos de vida, o Homo erectus pode ter, então, encontrado o caminho do Vale de Turkana.

Com nichos ecológicos separados, ambas as espécies poderiam coexistir sem uma competição direta por recursos.

“Mas esta é uma hipótese muito mais complexa”, disse Spoor. “A maneira mais fácil de interpretar estes fósseis é a hipótese de que tenha existido uma espécie ancestral que originou as duas em alguma época entre dois e três milhões de anos atrás.”

Fonte: Folha Online

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