Os tremores que atingiram o país em janeiro matando cerca de 225 mil pessoas e 1,5 milhão desabrigadas trouxeram, além da devastação, que destruiu até o palácio presidencial, também preocupações de segurança.

O Haiti terá de contar com a ajuda da ONU (Organização das Nações Unidas) ainda “por um bom tempo” e a redução do efetivo militar da entidade dependerá da evolução institucional no país, inclusive com as eleições presidencial e legislativa marcadas para o fim de novembro deste ano, segundo o comandante militar da missão de paz da ONU.

O general Luiz Guilherme Paul Cruz, que comanda os cerca de 7.800 militares –a maioria brasileiros–, que compõem as tropas da Minustah (sigla para Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti), disse em entrevista nesta quinta-feira que os haitianos retornam pouco a pouco à normalidade, cerca de seis meses após um devastador terremoto que matou cerca de 225 mil pessoas e deixou 1,5 milhão desabrigadas.

“Eu vejo sim esse desenvolvimento em todo o país, vejo uma melhoria a toda a hora, mas o país vem de uma base bastante frágil. Em função disso, a missão das Nações Unidas, vai permanecer aqui por um bom tempo”, disse Paul Cruz, que assumiu o comando militar da Minustah em abril, mas já havia comandado o batalhão brasileiro no Haiti.

“Eu não estou falando sobre a questão de segurança e estabilidade, porque assim que forem atingidos novos patamares, o perfil da missão vai sendo alterado”, acrescentou.

De acordo com o general, assim que a Polícia Nacional do Haiti atingir um efetivo de 14 mil homens, ela passará a ter controle da segurança do país. “Eles estão com por volta de 9 mil, caíram um pouquinho agora, mas estão nessa fase”, contou.

“Aí, tudo depende do entendimento político… da liderança do país poder conduzir o país dentro do jogo democrático”, avaliou para, em seguida, acrescentar que uma eventual redução no número de militares boinas azuis no país “não tem data”.

[b]SEGURANÇA [/b]

Além da devastação, que destruiu até o palácio presidencial, os tremores que atingiram o país em janeiro também trouxeram preocupações de segurança. Líderes de gangues armadas que estavam presos fugiram da principal prisão de Porto Príncipe, destruída pelo terremoto, e os relatos de violência nos acampamentos improvisados para os refugiados aumentaram.

“Hoje nós estamos numa situação de estabilidade que permite o desencadeamento dos trabalhos da reconstrução do Haiti e do governo do Haiti, e o desencadeamento do processo eleitoral, que vai ocorrer no final do ano para a passagem do governo no próximo ano”, disse.

“Há criminalidade e questões de segurança pública, como em qualquer grande cidade do mundo. Mas não há nenhum grupo capaz de desafiar as forças existentes.”

O comandante da Minustah acrescentou que, dos cerca de 4 mil detentos que teriam fugido da Prisão Nacional, mais de mil já foram presos. Isso graças à realização frequente de operações para recapturar os fugitivos e às denúncias da população.

Existem preocupações, no entanto, com a chegada da temporada de furacões do Atlântico, que pode agravar ainda mais a já precária situação dos desabrigados e aumentar a devastação, reconheceu o general. O período de furacões iniciou-se em 1o de junho e se estenderá até 30 de novembro.

[b]ATRASO NA AJUDA [/b]

País mais pobre das Américas, tomado pela instabilidade política em 2004 que levou à criação da Minustah e abalado nos últimos anos por furacões e pelo terremoto de janeiro, o Haiti é altamente dependente da ajuda internacional.

Mas o ritmo da chegada de ajuda tem desagradado autoridades, e segundo dados do governo haitiano, somente 2 por cento dos 10 bilhões de dólares prometidos pela comunidade internacional ao país após o terremoto de janeiro chegou efetivamente.

Questionado sobre as reclamações no atraso da ajuda internacional, o general evitou polêmicas e preferiu se limitar a comentar as doações realizadas pelo governo brasileiro, que se comprometeu com 375 milhões de reais para o país caribenho, além de ter enviado alimentos e hospitais de campanha após o tremor.

“Toda a ajuda brasileira não se constitui só em dinheiro. O nosso país vai construir uma hidrelétrica aqui para o Haiti, não muito grande, mas a energia aqui é crucial”, disse o general.

O Brasil comanda as tropas da Minustah desde sua instalação em 2004, após uma onda de violência que levou à destituição do então presidente haitiano Jean Bertrand-Aristide.

[b]Fonte: Folha Online[/b]

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