O Vaticano, que tenta aplacar as críticas surgidas entre a comunidade judaica após o papa Bento 16 ter se encontrado com um padre polonês acusado de dar declarações anti-semitas, afirmou nesta quinta-feira, em um comunicado, que sua postura em relação aos judeus continuava inalterada.

O comunicado sucinto da Santa Sé apareceu após o encontro de domingo entre o papa e o padre Tadeusz Rydzyk, que se desculpou publicamente no final de julho por ter acusado um “lobby judaico” de tentar arrancar milhões de dólares do governo polonês.

Grupos de defesa dos direitos judaicos criticaram a reunião e conclamaram o papa a censurar Rydzyk e a Rádio Maryja (comandada pelo padre). Esses grupos acusam o religioso e sua rádio de divulgarem declarações xenófobas e anti-semitas.

O Vaticano não respondeu a essas exigências em seu comunicado divulgado online, limitando-se a afirmar que o beijo dado por Rydzyk na mão do papa, nascido na Alemanha, não possuía maiores implicações.

“Em referência aos pedidos de esclarecimento sobre o ‘beijo’ dado por Tadeusz Rydzyk, a questão não implica qualquer mudança na conhecida postura da Santa Sé quanto às relações entre os católicos e os judeus”, afirmou o Vaticano.

O Congresso Europeu Judaico (EJC) acolheu a declaração do Vaticano sobre as relações entre católicos e judeus, mas declarou que espera mais.

“O comunicado do Vaticano de hoje é bem-vindo … Mesmo assim, esperamos ver o Vaticano condenando firmemente o anti-semitismo que continua sendo disseminado pela Rádio Maryja”, disse o vice-presidente do EJC, Richard Prasquier.

A Polônia possuía a maior população judaica da Europa até a Segunda Guerra Mundial.

Mas o assassinato de milhões de judeus durante o Holocausto, em meio à ocupação alemã, e uma campanha anti-semita realizada pelos comunistas no pós-guerra fizeram com que o número de judeus presentes no país caísse para alguns milhares.

No mês passado, o embaixador israelense em Varsóvia pediu que a Polônia e a Igreja Católica tomassem medidas contra a Rádio Maryja, já que o veículo alimentaria o anti-semitismo. Segundo o embaixador, a rádio havia insultado por diversas vezes os judeus e a cultura deles.

O encontro do papa com Rydzyk, no entanto, parecia gerar o efeito contrário ao desejado porque daria legitimidade ao padre radical, afirmaram grupos judaicos.

Alguns líderes judeus criticaram a decisão recente do papa de autorizar a realização de missas em latim, cerimônia essa que inclui uma oração na qual se pede a conversão dos judeus. O número dois do papa sugeriu que essa oração pode ser retirada da cerimônia, uma proposta recebida com satisfação pelo Centro Simon Wiesenthal.

Fonte: Reuters

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