A Conferência Episcopal da Argentina (CEA) reiterou nesta quinta-feira suas críticas ao clientelismo e à troca de favores, e exigiu transparência na eleição presidencial de outubro no país, em um duro documento no qual denunciou a fragmentação da sociedade.

“A transcendência do ato eleitoral exige grande transparência, de modo a afastá-lo de práticas demagógicas e pressões indevidas, como o clientelismo e a troca de favores”, diz o texto assinado por bispos católicos.

O documento de nove pontos divulgado por ocasião da 147ª reunião da Comissão Permanente da CEA insta os cidadãos “a se informarem devidamente da probidade dos candidatos e da dimensão ética de suas propostas” antes da votação.

A entidade é presidida pelo cardeal primaz e ex-papável Jorge Bergoglio, um crítico do governo que vem apoiando bispos e outros membros da Igreja cada vez mais comprometidos com um papel de oposição.

Nesta semana, Bergoglio apoiou o politizado bispo Juan Carlos Romanín, de Río Gallegos, capital da província de Santa Cruz (sul), terra natal de Kirchner.

Romanín liderou uma marcha cidadã em repúdio a um ex-ministro kirchnerista, que na sexta-feira arremessou sua caminhonete contra uma manifestação, deixando 20 feridos, entre eles uma professora que continua hospitalizada.

A primeira-dama e senadora Cristina Fernández é a candidata do governo à sucessão do presidente Néstor Kirchner no próximo 28 de outubro, e as pesquisas de opinião a apontam como favorita.

No documento, os bispos advertiram sobre “a fragmentação e os confrontos dos quais sofre ainda a Argentina” e destacaram que essas divisões “se manifestam tanto em impunidade, como em desencontros e ressentimentos”.

“Está pendente a dívida da reconciliação”, diz o texto, em alusão aos processos judiciais por violações dos direitos humanos cometidas durante a última ditadura (1976-83), impulsionados pelo governo Kirchner.

A Igreja também vem defendendo a “reconciliação” e que “se fechem as feridas do passado, em um pedido implícito para que se freiem os julgamentos contra os acusados de crimes de lesa-humanidade da ditadura (1976-83), estimulados pelo governo Kirchner. Os organismos humanitários rejeitam uma eventual “reconciliação”.

O ex-capelão da polícia argentina Christian Von Wernich está sendo julgado por homicídios e torturas durante a ditadura, regime que deixou 30.000 desaparecidos, de acordo com os organismos humanitários. As autoridades da Igreja têm se mantido em silêncio sobre o caso Von Wernich.

Sem mencionar o governo, o documento eclesiástico reivindicou “autonomia real e autêntica dos três poderes do Estado”, assim como “o fortalecimento institucional das províncias com sua necessária e justa autonomia do poder central”.

O texto reiterou sua posição contrária ao aborto e em favor da vida desde o momento da concepção, além de destacar a importância da família, “fundada no casamento entre homem e mulher como célula básica da sociedade”.

Os atritos entre Igreja e Governo começaram em 2005, quando Kirchner deixou em suspenso a função de capelão militar exercida por Antonio Baseotto. Ele foi acusado pelo governo de incitar a violência por declarar que o ministro da Saúde, Ginés González García, deveria ser “jogado no mar” por facilitar o uso do preservativo e defender a legalização parcial do aborto.

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