No filme, cena simula a destruição da réplica do templo de Salomão que está sendo construído pela Igreja Universal do Reino de Deus.

A artista israelense Yael Bartana, 43, atraiu a atenção da mídia por causa de sua mais nova produção. Trata-se do filme “Inferno”, que ela acaba de rodar e participará de mostras internacionais.

Rodado no Brasil, trata-se de uma ficção onde o tema principal é o Templo de Salomão. Não o original, nem o que foi reconstruído pelos romanos. Ela preferiu ver em chamas a réplica edificada pela Igreja Universal do Reino de Deus em São Paulo.

Embora só fique pronto no ano que vem, a artista que é judeu sabe muito bem como será o seu interior. Ela visitou as obras do templo, e decidiu recriar em um galpão de escola de samba um portal dourado, além das peças douradas que a Universal reproduzirá segundo o relato bíblico.

“Não pude deixar de pensar que isso tinha de ser destruído. É mais um projeto utópico para marcar uma identidade, só que para toda utopia existe uma distopia. Toda construção carrega a sua destruição”, disse Bartana à Folha.

[img align=left width=300]http://f.i.uol.com.br/folha/ilustrada/images/13224372.jpeg[/img]Acostumada a falar sobre religião em suas obras, ela ficou famosa com uma produção que fazia uma leitura política e religiosa do Holocausto, bem como de outros episódios de antissemitismo pelo mundo.

Enquanto o custo da obra da Universal ficará perto de R$ 700 milhões, Bartana investiu cerca de R$ 1 milhão para destruí-lo na ficção. As cenas dessa destruição pelo fogo foram inspiradas numa pintura do italiano Francesco Hayez (de 1867) onde se veem pessoas se jogando de um templo em chamas. “Caos e anarquia” são os elementos centrais, explicou a artista.

No final, o filme mostra as ruínas do templo, recriando o Muro das Lamentações, semelhante ao que existe em Israel. Para a cineasta, trata-se de uma reação aos movimentos de grupos fundamentalistas judeus que desejam construir o Terceiro Templo no lugar onde hoje está a mesquita de Al-Aqsa, no Domo da Rocha.

Sua obra, contudo, não se trata meramente de religião. “Não é uma crítica aos evangélicos, nem tenho a intenção de criticar nada. O filme é sobre a estética da destruição e como devem ser os lugares sagrados… Não sou brasileira nem evangélica, mas sou israelense. Gosto de analisar essa mitologia do retorno a Israel. Não acredito em fazer arte contra algo. Tento só refletir as condições em que vivemos”.

Procurada pela reportagem da Folha de São Paulo para comentar o filme “Inferno”, projeto da artista israelense Yael Bartana, a Igreja Universal do Reino de Deus pediu a sinopse do filme e quis ter acesso às declarações de Bartana antes que elas fossem publicadas.

Mesmo diante dessas informações, repassadas pela reportagem, a Universal disse por meio de nota que “sem saber o teor do vídeo é impossível saber se a artista pretende criticar a construção do templo, a Universal, seus membros ou fiéis”.

Também informou, em resposta aos comentários de Bartana, que “a Universal é uma igreja para todas as pessoas, que possui membros de todas as classes sociais e trata todos de forma igual”.

Sobre o discurso do bispo Edir Macedo, líder da igreja evangélica, citado pela artista, a Universal esclareceu que durante uma “peregrinação” a Israel, o bispo quis que o povo da Universal pudesse “pisar no chão e nas pedras que um dia Jesus pisou”.

“Se eu não posso trazer todo o povo para cá, então vou levar pedaços desta terra para eles”, disse Macedo, em referência à importação das pedras de Israel para revestir partes do novo templo.

Sobre a construção, no Brás, de um templo maior que a catedral da Sé, o bispo disse que “não se trata de um projeto denominacional, muito menos pessoal, mas algo tão glorioso, do ponto de vista espiritual, que transcende a própria razão”.

[b]Fonte: Folha de São Paulo e Gospel Prime[/b]

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