Uma cruz gigante comanda atualmente o campo onde os primeiros tiros do Grande Terror de Joseph Stalin ecoaram 70 anos atrás. Foi erguida na quarta-feira com pompas religiosas, mas pouco reconhecimento de um governo que tende a camuflar uma das épocas mais negras da Rússia.

A cruz foi transportada por mais de 1300km por barco de um ex-campo de prisioneiros soviético no Mar Branco através do Canal de Belomor – construído na década de 30 com mão-de-obra escrava – até Moscou, em uma procissão religiosa ligando locais importantes de uma época de violência e sanções do Estado.

A procissão e cerimônia realizadas na quarta-feira foram uma tentativa rara de endereçar a brutalidade soviética durante o regime Stalin, uma questão, dizem grupos de direitos humanos, muitas vezes encoberta pela mitológica interpretação de glória soviética promovida pelo líder atual da Rússia, Vladimir Putin.

Milhões morreraram por guerras, fome e crueldade do governo em quase 30 anos do regime stalinista, embora os assassinatos sistemáticos de “inimigos do povo” tenham alcançado seu apogeu durante o período entre agosto de 1937 e outubro de 1938. Durante aquela época, a polícia secreta soviética, ou NKVD, prendeu mais de 1 milhão de pessoas e executou mais de 700 mil.

Cerca de 20 mil pessoas que morreram foram assassinados no antigo alvo para tiros de Butovo ao sul da Rússia, onde a cruz está localizada.

A cruz de 12 metros feita de cedro siberiano iniciou sua jornada com as bênçãos da Igreja Ortodoxa Russa no dia 25 de julho, do monastério Solovetsky, um dia um brutal campo de prisioneiros descrito pelo escritor soviético Aleksandr I. Solzhenitsyn como primeira instalação no arquipélago gulag.

A procissão acabou na terça-feira em Moscou, onde, amarrada à um caminhão, a cruz foi transportada em volta do anel rodoviário da cidade. Foi levada ao campo de Butovo para uma pequena cerimônia na manhã de quarta-feira, comparecida por alguns milhares de pessoas, incluindo jornalistas da TV estatal, porém sem muitos oficiais políticos.

Apesar da violência dos anos de Stalin, muitos russos o enxergam como o homem que trouxe estabilidade à União Soviética e combateu os nazistas na Segunda Guerra Mundial.

O Kremlin criou um mito de grandiosidade soviética com o objetivo de melhorar a credibilidade do forte e centralizado governo de Putin, disse Yan Z. Rachinsky, co-diretor do Memorial, centro de direitos humanos em Moscou. O Kremlin tende a negligenciar as repressões da era soviética pois “encobrem” os sucessos da mesma, disse Rachinsky.

Fonte: Último Segundo

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