Depois da recente eleição do bispo da Igreja Anglicana do Panamá, Julio Muray, como presidente do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), agora é outro líder religioso do Caribe, o pastor e dirigente da União Batista da Jamaica, Neville Callam, que poderá desempenhar um cargo à frente de uma organização religiosa internacional. Ele foi indicado para suceder Denton Lotz na secretaria geral da Aliança Batista Mundial (ABM).

Se eleito, o que é considerado certo, pois foi o único candidato indicado pela cúpula da ABM, Callam será o primeiro chefe executivo não-branco da organização batista, que representa 110 milhões de crentes no mundo. Também será o primeiro secretário-geral não procedente dos Estados Unidos nem da Europa anglo-saxã em 102 anos de história da ABM.

Com a designação de Callam, apresentado como “uma pessoa do Sul do mundo”, a direção da organização batista reconhece o crescimento da Igreja nesse hemisfério. Seis de cada dez cristãos vivem em países do segundo e do terceiro mundo.

No caso do pastor Callam, conflui para a indicação uma série de fatores. Ele é afrodescendente, teólogo formado em Harvard e especializado em ética cristã, batista ecumênico, gestor, docente e autor.

Pessoa vinculada aos meios de comunicação, Neville Callam é presidente do Conselho da Radiotelevisão Pública da Jamaica. O futuro secretário executivo da ABM ocupou diversos cargos na cúpula da organização: foi vice-presidente e atualmente é coordenador do grupo de trabalho de Implementação, que se ocupa em estudar a reestruturação da organização para o futuro.

Ele é um dos teólogos de referência no Conselho Mundial de Igrejas (CMI). Na Comissão Plenária de Fé e Constituição, reunida em Kuala Lumpur, Malásia, em 2004, Callam apresentou uma conferência sobre o tema de estudo no que é reconhecido como uma autoridade no mundo ecumênico: o reconhecimento mútuo do batismo.

Não são pequenos os desafios que esperam o novo “chefe executivo” do mundo batista. Por um lado, terá o desafio de construir pontes ou ao menos restabelecer a comunicação com a ultraconservadora Convenção dos Batistas do Sul dos Estados Unidos, que abandonou a ABM em 2004, com seus 16 milhões de membros.

De outro lado, articular o improrrogável pronunciamento da ABM frente aos ventos de mudança nas próprias fileiras, leia-se abertura ao diálogo inter-religioso portas afora e, portas adentro, democratização interna. Em definitivo, demonstrar aos próprios e aos estranhos que “há vida além da crescente” onda de “culto espetáculo” de matiz carismática na areia da arena litúrgica, e no terreno organizativo, que há “vida além da” da rota britânica.

A celebração da Convenção do Novo Pacto Batista que vem apoiada, entre outros, pelos ex-presidentes dos Estados Unidos e crentes batistas Jimmy Carter e Bill Clinton, anunciada para janeiro de 2008, será o primeiro cenário no qual Callam terá de comparecer depois de receber a tarefa das mãos de Lotz, em dezembro próximo.

A Igreja do século XXI abre-se para o Sul, concretamente para o lado africano, e o mundo batista não podia ser uma exceção. A África consolida-se como a sementeira de grandes líderes cristãos do tempo atual: Ismael Noko, do Zimbábwe, secretário-geral da Federação Luterana Mundial (1994); Setri Nyomi, de Gana, secretário-geral da Aliança Reformada Mundial (2000); e Samuel Kobia, do Quênia, secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas (2004). Agora é a vez dos afrodescendentes: depois de Julio Murray vem Neville Callam.

“O fato é que a fé cristã se moveu ao Hemisfério Sul”, sustenta o secretário-geral da ABM, Denton Lotz. “Neville”, prossegue, “representa essa tradição da cristandade africana que está ganhando o mundo”. E conclui: “É possível que nós, no Ocidente, estejamos precisando ser re-missionados e re-evangelizados pelo Sul global”.

Fonte: ALC

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