“Por que precisamos de Deus? Nós o vimos? A Bíblia demorou 2000 anos para ser escrita e foi redigida por homens”, disse o escritor José Saramago, 86 anos. Para ele, a Bíblia é um “desastre”, cheia de “maus conselhos, como incestos e matanças”.

O único prêmio Nobel da literatura em língua portuguesa, José Saramago, 86, iniciou a sabatina nesta sexta-feira no teatro Folha sob aplausos. O evento faz parte das comemorações dos 50 anos do caderno “Ilustrada” da Folha de São Paulo.

Durante a sabatina, ao ser questionado se a doença mudou a sua percepção de Deus, o escritor perguntou “por que mudaria?”, acrescentando que foram os médicos e a sua mulher que o salvaram.

“Por que precisamos de Deus? Nós o vimos? A Bíblia demorou 2000 anos para ser escrita e foi redigida por homens”, disse o escritor. Para ele, a Bíblia é um “desastre”, cheia de “maus conselhos, como incestos, matanças”.

Saramago também afirmou que foi o homem quem inventou Deus, o Diabo e o purgatório, que “hoje está desqualificado”.

Ele ainda voltou a criticar a Igreja, afirmando que ela inventou o pecado para controlar o corpo humano. “O sonho da Igreja é transformar todos em eunucos, quer dizer, os homens, porque as mulheres não podem ser eunucas”.

Comunista “hormonal” e a linha do cristianismo

José Saramago disse que é um comunista hormonal e comparou a ideologia ao cristianismo.

Saramago disse que a explicação “hormonal” ocorreu quando ele refletia a perguntas sobre como ele ainda é um comunista na atualidade.

O escritor afirmou que a pergunta era comparável a questionar alguém o fato de como era ser cristão depois da Inquisição.

“Eu sou o que se poderia dizer um comunista hormonal”, afirmou o escritor, ao dizer que “acredita” ter uma produção de “hormônio do comunismo”.

“Ser comunista é um estado de espírito”, disse o escritor. Ele também afirmou que isto mostra que Karl Marx está cada vez mais atual. “Sinto, pelo menos na Europa, onde se reeditam seus livros, que as obras de Marx são bastante vendidas”, afirmou Saramago.

“O homem não morreu, ao contrário do que foi dito muitas vezes”, afirmou Saramago ainda sobre o assunto.

“Há muita gente que há três, quatro anos, podia dizer que estava na classe média. Agora não está mais, está na classe média, na pobre”, disse o escritor sobre os efeitos da crise na vida das pessoas.

Fonte: Folha Online

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