Uma funcionária da filial do supermercado Super Reede, na Rua Carobinha, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio, teria agredido Jéssica Oliveira, 24 anos, sem nenhum motivo anterior. A jovem afirma que ouviu gritos preconceituosos e foi segurada e sacudida com força pela recepcionista do supermercado. “Que demônio você serve?”, de acordo com Jéssica, foi uma das frases escabrosas dirigidas a ela pela mulher.

O caso aconteceu na última segunda-feira, dia 14. A reportagem do DIA procurou ao longo de toda a tarde destas quinta-feira a empresa Super Rede, mas nenhum responsável foi encontrado nos telefones que constam no site para se pronunciar. Ao saber da agressão, a mãe de santo da casa onde Jéssica pratica a religião, Márcia Marçal, acampanhou a jovem na delegacia. Indignadas, elas pretendem acionar o supermercado na Justiça por intolerância religiosa.

Jéssica guarda na memória o ocorrido. “Eu tinha acabado de fazer as minhas compras normalmente quando, na saída, essa funcionária, que eu nunca vi antes, me segurou pelo braço e começou a me sacudir. Disse que eu iria para o inferno. Perguntou para mim: Qual demônio você serve?”, contou a jovem. Jéssica conta que afastou a mulher e foi embora não sem antes pedir respeito. “Eu me senti muito ofendida. A única coisa que eu fiz foi afastar ela com o braço e falar para ela respeitar a minha religião porque todas as religiões devem ser respeitadas”.

A mãe de santo Márcia Marçal ficou indignada com o relato da filha de santo. Há 27 anos no candomblé, ela pretende levar o caso até as últimas instâncias judicais para evitar que casos de preconceito por motivo religioso aconteçam. “Nós somos candomblecistas. Não somos arruaceiros. Não atacamos ninguém. Nossa religião é amor. Não é nossa intenção tirar dinheiro de ninguém. A gente quer apenas respeito. Enquanto a lei não for cumprida com um, todos os outros vão se sentir com liberdade para fazer isso”.

O caso foi registrado na 35ª DP (Campo Grande) como intolerância, injúria por motivo religioso e agressão. De acordo com a distrital, uma equipe deve ir nos próximos dias ao supermercado para ouvir a funcionária e buscar por testemunhas, além de solicitar as imagens das câmeras de segurança.

Após o registro na delegacia. Jéssica e Márcia voltaram ao supermercado para levar o caso à gerência da filial. no entanto, segundo elas, houve um pedido de desculpas constrangido por parte da funcionária, segundo elas, para abafar o caso. “Tenho certeza que ela foi obrigada a pedir desculpas”, disse Márcia.

“De início, os funcionários disseram que a gerente não estava, mas quando perceberam a gravidade da situação, a pessoa apareceu. A gerente ouviu o que eu tinha para falar e foi chamar a recepcionista. Ela tentou abraçar a Jéssica, mas eu avisei que não podia porque ela estava de resguardo, não podia ser tocada. Nós dissemos a ela que não aceitávamos o pedido de desculpa, porque estava claro para a gente que aquilo não era de coração e que daqui para a frente o caso seria tratado na delegacia e na Justiça”, abordou.

Nascida em um lar evangélico, Jéssica se converteu ao candomblé neste ano e conta estar vivendo o melhor momento da vida dela. “Eu tomava remédios antidepressivos, o candomblé foi a melhor coisa na minha vida. Me senti abraçada, como numa família”. Um episódio como da última segunda-feira, ela espera nunca mais viver. “Jamais imaginei passar por algo assim. Quando era evangélica, nunca agi dessa forma com alguém. O que eu vivo agora é um renascimento e quero continuar no candomblé, me sinto muito bem aqui”.

[b]Fonte: O Dia Rio[/b]

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