A Polícia Civil de Presidente Prudente (565 km de SP) procura um homem suspeito de aliciar adolescentes de classe média alta para uma seita que prometia imortalidade e riqueza com a transformação de seus integrantes em “vampiros”.

Quatro famílias denunciaram o caso à polícia. Os pais contaram que um homem se identificava como Vlad Hacamia, “vampiro”, “anjo” ou “guardião de cemitérios”, reunia às quintas-feiras, numa praça da cidade, um grupo de 15 adolescentes de 13 a 17 anos, de ambos os sexos, com objetivo de propagar a seita Legião de Salvadores do Mundo.

A introdução à seita era feita pelo suspeito com mordidas no pescoço e cortes nos punhos dos adolescentes.

“A gente já desconfiava de comportamentos estranhos dos meninos, mas, quando chegaram em casa com marcas, vimos que algo grave estava ocorrendo”, disse à Folha a mãe de dois garotos -de 13 e 15 anos-, que não quis se identificar.

Segundo ela, os filhos se recusavam a contar o que ocorria. “Investigamos por conta própria e flagramos esse homem na praça conversando com as crianças. Quando o abordamos, ele fugiu”, disse.

A polícia começou a ouvir ontem pais e garotos. Segundo o delegado Dirceu Gravina, os jovens negam ter sofrido abuso sexual. “Todos foram unânimes em negar a prática, mas disseram que, além de morder o pescoço, o suspeito chupava o sangue das crianças.”
Os adolescentes serão submetidos a exames de corpo de delito. Os resultados devem sair até o final de semana.
O suspeito foi identificado pela polícia como Vandeir Máximo da Silva, 27, que não foi encontrado na cidade desde o início da apuração.

De acordo com relatos dos pais à polícia, os adolescentes eram abordados em shoppings e em frente de colégios. Após algumas reuniões na praça das Cerejeiras, no bairro Jardim Icaray, teria havido “treinamento espiritual” em um sítio.

Nas sessões, informou uma mãe, as crianças passavam pelo “ritual de iniciação”, com mordidas, cortes e a promessa de imortalidade aos jovens.

Outra mãe contou ter encontrado anotações da filha de 15 anos sobre a seita. Segundo ela, o passo seguinte seria levar os garotos para o “templo” da seita, perto de Santos (SP). “A viagem estava marcada para o fim de semana passado. Ele disse que não era para ninguém avisar aos pais que iriam viajar. Minha filha tentou fugir da escola para ir. Graças a Deus não a liberaram”, disse à Folha.

“Nossa missão era salvar o mundo”, diz adolescente

Uma das vítimas de Vlad, um jovem de 15 anos, morador de Presidente Prudente, afirmou ontem à Folha que foi levado à seita por um colega. Disse que foi mordido no pescoço e que tinha como missão salvar o mundo. J, como pediu para ser identificado, deve depor nesta semana. Ele disse que acreditava que ia se tornar um vampiro e que, se Vlad fugiu, é porque estava fazendo “alguma coisa errada”.

Como você foi apresentado a Vlad?
Um colega me chamou.

Sobre o que falavam nas sessões?
Sobre a nossa missão.

Qual era a missão?
Era fazer o bem, salvar o mundo.

Participou do “treinamento espiritual”? Como foi?
Sim. Ele mordeu o meu pescoço e parecia que era uma agulhada. Senti o meu sangue ser puxado.

Você acreditou que ia se transformar em vampiro? Por quê?
Acreditei. Todos acreditavam nele.

Você ainda acredita no Vlad?
Não. Se ele fugiu, ele sabia que estava fazendo alguma coisa errada.

Por que acreditava nas promessas dele?
Não sei. Acho que é influência de amigos, de filmes. Sei lá.

Fonte: Folha de São Paulo

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