Mulheres usando véu, rabinos radicais e segregação dos sexos: Israel está enfrentando um aumento na influência dos judeus ultraortodoxos.

Seus esforços para impor sua visão de mundo estritamente conservadora provocaram tensões crescentes junto à sociedade secular do país.

A resolução desse conflito é vital para o futuro de Israel.

Do lado de fora, há campos e o mar morto à distância. Naomi Machfud está sentada dentro da casa que construiu, sonhando em fazer o mundo desaparecer. Ela quer cobrir seu rosto com um véu, diz ela; quer cobrir a boca, o nariz e os olhos. Um véu preto, sem nem mesmo uma abertura para a visão, que engula cada olhar e submerja o mundo na escuridão. O véu é o ápice do “zniut”, ou modéstia, o mais perto que uma pessoa pode chegar a Deus. Mas, diz ela, com um suspiro, “infelizmente ainda não cheguei lá”.

Machfud é uma mulher de 30 anos, com seis filhos, que já criou uma camada para isolar-se do mundo exterior. Ela veste um robe de lã, um avental, uma blusa, saia de veludo até o tornozelo, uma camisa preta e calças. Além disso, um pedaço de lã preta envolve sua cabeça.

Debaixo dele, ela usa um véu apertado preto e ainda outro cor-de-rosa pálido. Não se vê um único fio de cabelo. Ela veste um par de brincos, mas os retira quando sai de casa.

Machfud é uma mulher judia casada com um homem judeu. Eles moram em um assentamento na Cisjordânia, mas ela se veste como se morasse no Afeganistão. Em Israel, as mulheres de véu são chamadas de “talebans”, mas referem-se a si mesmas como mulheres de xale.

Machfud alega que há milhares de mulheres como ela, mas é mais provável que sejam centenas. Em geral, são vistas no bairro ultraortodoxo de Jerusalém de Me’ah She’arim. Figuras negras, sem forma, que seguram as mãos das filhas, que parecem versões em miniatura das mães.

Alguns podem considerar essas mulheres loucas. Outros podem vê-las como um produto de uma comunidade religiosa que está se tornando cada vez mais extremista.

[b]A separação dos sexos em público
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Os ultrarreligiosos estão ganhando poder no Oriente Médio, inclusive em Israel, onde os rabinos radicais estão expandindo sua influência.

Isso é especialmente claro no que concerne às mulheres. Ironicamente, é em Israel, um país que foi dirigido por uma mulher, Golda Meir, já nos anos 70, e onde as mulheres são pilotos de caças, que os fundamentalistas judeus estão tentando provocar a separação dos sexos em público -nas eleições, nos ônibus e nas ruas- tudo em nome de uma moralidade que supostamente é agradável a Deus. Até agora, essa tendência tem sido mais notável em Jerusalém, em Beit Shemesh e em Bnei Brak, perto de Tel Aviv, redutos ultraortodoxos do país. Cada vez mais, porém, está se tornando aparente em lugares onde moram os israelenses seculares.

Até mesmo um ex-diretor da Mossad, a agência de inteligência e exterior de Israel, agora está advertindo que os ultraortodoxos são uma ameaça maior ao país do que o programa nuclear iraniano. A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, disse recentemente que as condições em Jerusalém a fazem lembrar o Irã.

A estranha coexistência de religião e democracia no Estado judeu por muito tempo não foi problemática. Agora, contudo, as consequências estão se tornando claras, sinais de fadiga de um país estressado, um país que é tanto uma democracia quanto um poder de ocupação, uma nação de alta tecnologia na qual a parte da população ainda vive como se estivesse no século 19, e um país que aceita imigrantes de todo mundo, desde que sejam judeus, enquanto ao mesmo tempo deporta refugiados impiedosamente. Assim, os colonos estão cada vez mais exibindo um nacionalismo messiânico enquanto, por sua vez, os ultraortodoxos perseguem um fundamentalismo o hostil ao Estado.

Naomi Machfud diz que se sente bem usando lenço na cabeça e várias saias. Tão bem, de fato, que ela alega nem suar durante o verão de 45 °C. Ela se acomoda em um sofá gasto e tenta explicar como tudo começou entre ela e o véu. É uma história que consiste de fragmentos e alusões e começa com uma menina judia de Nova York, que se sentia vazia e passava seu tempo nas ruas até ir para Israel, aos 15 anos, participar de um seminário ortodoxo. Ela se torna religiosa e, estimulada pelos rabinos, começa a vestir cada vez mais roupas.

[b]”Alguns homens não gostam”
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O rabino de Machfud ia explicar exatamente porque as mulheres estão fazendo isso, mas ele cancelou a o encontro no último minuto. Por enquanto, não é aconselhável apoiar abertamente as mulheres talebans, porque alguns ultraortodoxos acabaram de impor uma nova regra sobre elas, que eles anunciaram nos jornais: “Você pode não se cobrir com roupas anormais e peculiares, inclusive véus, especialmente se seu marido for contra”.

Machfud sorriu um sorriso de Mona Lisa. “Alguns homens não gostam”, diz ela. “De repente, somos mais religiosas do que eles”. Assim, ela agora está tentando explicar sua forma de vestir para si mesma e defender seu argumento. Para tanto, ela coloca um livro velho sobre a mesa.

O título é “World of Purity” (mundo de pureza), um sucesso de vendas na comunidade ultra ortodoxa. Ela mostra as imagens das mulheres nos últimos séculos, na maior parte judias, do Iêmen, Marrocos e Grécia, mas também de mulheres amish e árabes. Elas todas têm uma coisa em comum: as veste grandes e escuras que usam, muitas vezes cobrindo o rosto com um véu. Era assim no passado, diz Machfud, e assim que deve ser hoje.

Judias ortodoxas usam blusas de manga comprida, saias longas e cobrem o cabelo. Mas isso não é suficiente para Machfud. Ela diz que ela vê muitas roupas da moda, peças apertadas demais, bonitas demais e indecentes demais. As mulheres, diz ela, atraem olhares que devem ser reservados aos maridos. Em sua opinião, isso leva ao pecado e, enquanto houver pecado, o Messias não pode aparecer.

“Você usaria um diamante no supermercado? Não, com certeza o guardaria em casa”, acrescenta Revital Shapira, 46, que tem oito filhos e está sentada ao lado de Machfud, com o corpo coberto de preto, saias longas, lenços e xales.

Shapira também encontrou a religião tardiamente. Ela estudou literatura e só se tornou uma mulher taleban após dar à luz um menino autista e uma menina com doença cardíaca.

[b]”Casa da Pradaria” com Arábia Saudita
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Por mais diferentes que sejam – Machfud suave e bonita, Shapira ideológica e combatente – as duas mulheres querem viver em um mundo no qual fazem tarefas domésticas, têm filhos e saem de casa o mínimo possível. Elas veem um mundo sem computadores e máquinas de lavar roupa, com alimentos orgânicos e roupas feitas em casa, uma mistura de “Casa da Pradaria” com Arábia Saudita.

“As mulheres devem desaparecer do público. Elas não devem sair ou falar com estranhos na rua”, disse Shapira. “Infelizmente, a maioria dos israelenses não compreende isso, e é por isso que estamos construindo um sistema paralelo”. As duas mulheres não falam com homens e deixam a sala quando um homem entra. Além disso, estão determinadas em ver suas filhas seguirem seus passos. “Estamos criando a força de vontade em nossos filhos para que queiram essas coisas também”, diz Machfud.

“Por décadas, os líderes dos ultraortodoxos não falaram de outra coisa que não a modéstia. Não importa a situação, eles sempre pregam a moralidade para as mulheres. Até as mais devotas precisam ouvir de manhã, de tarde e de noite que elas, com sua feminilidade, levam os homens ao pecado”, diz o sociólogo Tamar El Or, da Universidade Hebraica.

O comprimento das saias se tornou um padrão de ouro, e cada camada adicional de tecido era vista como uma forma de aproximar a mulher de Deus. “Algumas mulheres começaram a se exceder. É como uma anorexia”. De acordo com El Or, essa obsessão com a virtude também é uma forma de rebelião contra os maridos e rabinos, pois as mulheres agora escolhem definir seus corpos e sua fé por si mesmas.

Bruria Keren foi um caso particularmente extremo. No final, ela estava usando 27 camadas de roupas. Conhecida em Israel como “mamãe taleban”, Keren é uma das líderes das mulheres de véu. Nascida em um kibbutz e violentada pelo pai, ela eventualmente tornou-se religiosa -uma história típica. Na medida em que foi ficando cada vez mais obcecada com a moralidade, passou a bater nos filhos, forçando-os a orar. Como punição, ela cortava seus cabelos e por isso está presa, cumprindo uma sentença de quatro anos de prisão.

[b]”Tendência extremista”
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“Começou com um casaco; depois havia três. Aí, ela acrescentou calças e uma saia por cima. No final, havia dez saias, dez casacos e luvas”, conta o filho, que prefere não revelar seu nome. “Há oito anos, ela cobriu o rosto com um véu; primeiro, usava na rua; depois, em casa e, por fim, ela usava até no chuveiro. Eu nunca mais vi o rosto dela. Ela montou uma tenda no banheiro para que nem as paredes pudessem vê-la nua”. Keren também parou de falar, só se comunicando com gestos ou por escrito.

Enquanto sua mãe se tornou cada vez mais casta, o filho estava fazendo sexo com a irmã no quarto ao lado. Ele tinha 15 anos e ela, 12.

Era uma vida destruída, conta o filho que hoje tem 30 anos e mal ousa sair em público. Ele trabalha durante o dia e corre à noite, tentando apagar seu passado. Ele se tornou um dos mais rápidos corredores de Israel.

“Se minha mãe não fosse religiosa, ela logo teria sido internada em uma instituição”, diz ele. Em vez disso, a comunidade ultra ortodoxa a protegeu e ninguém interveio. Os ultra ortodoxos preferem resolver seus problemas por si mesmos, sem o governo. “E os seguidores de minha mãe me diziam que ela era uma santa”.

Yair Nehorai, advogado que representou o filho na justiça quando ele foi acusado de abuso sexual, publicou um livro baseado na história do cliente (“Thou Shall Be My Mother, My Grave”). Nehorai não é religioso, mas um de seus ancestrais foi um rabino proeminente, o que lhe confere credibilidade. Ele representa quase todos os ultra ortodoxos que têm problemas com a autoridade do Estado. Um de seus clientes é um homem ultra ortodoxo que recentemente xingou uma soldada que estava sentada com os homens na frente do ônibus, chamando-a de “prostituta”.

Houve também o caso dos estudantes de Yeshiva, de Beit Shemesh, que chegaram às manchetes quando cuspiram nas alunas de uma escola religiosa porque suas saias só iam abaixo do joelho. Nehorai também representou o Sikrikim, a polícia moral autoproclamada que jogou fezes em uma livraria até que esta aceitasse seus ditados morais.

[b]Poucos ousam se opor a eles publicamente
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Nehorai nunca esteve tão ocupado quanto hoje. “Há uma tendência extremista na comunidade ultraortodoxa”, diz ele. “Esses radicais eram um grupo muito pequeno no passado, mas estão se tornando mais importantes”. Muitos judeus ortodoxos se opõem ao terror moral dos fanáticos, diz Nehorai, mas poucos ousam se opor a eles publicamente.

As sinagogas e escolas religiosas há muito são separadas por sexo. Mas então, a segregação dos sexos começou a vigorar nos ônibus, há poucos anos. Primeiro, somente uma linha de ônibus era “kosher”, mas logo os homens estavam sentados na frente às mulheres atrás em mais de 60 rotas. O governo nada fez, até que uma organização feminina levou caso à Suprema Corte. Esta determinou há mais de um ano que a segregação só é permitida se for voluntária. É uma determinação que revela a indisposição dos magistrados em tomar uma posição clara no conflito entre os segmentos religiosos e seculares da sociedade.

Cada vez mais, as filas dos supermercados, as salas de espera de hospitais e as celebrações de casamento estão segregadas nos bairros ortodoxos. Isso é voluntário, mas também é a norma. A segregação dos sexos está começando a se espalhar para além dos bairros onde moram os “haredins”, ou tementes a Deus. As mulheres desapareceram das propagandas em Jerusalém. As piscinas das universidades têm horas separadas para homens e mulheres. As mulheres são proibidas de fazerem discursos fúnebres nos velórios. Em uma cerimônia de premiação do Ministério da Saúde, as pesquisadoras que estavam sendo homenageadas não tiveram permissão de subirem ao palco. O vice-ministro da saúde é ultra ortodoxo.

Agora, há campanhas contra a chamada haredização da vida pública. As mulheres estão cantando nas ruas e se recusando a se sentar na parte de trás dos ônibus. Milhares de pessoas participaram de uma manifestação contra os radicais de Beit Shemesh. Ainda assim, é improvável que tudo isso reverta a tendência.

Ferida aberta desde o estabelecimento do país
O que está em questão é uma guerra cultural que era uma ferida aberta desde o estabelecimento do país, porque até hoje não está claro o que Israel deve ser: uma teocracia para judeus? Ou um Estado soberano democrático? Os ortodoxos parece estar em vias de vencer essa batalha fundamental de princípios.

Apesar de serem uma minoria, com apenas 10% da população, seu índice de natalidade é quase três vezes maior do que o dos judeus seculares. Se isso continuar, os “haredins” serão um terço da população em menos de 50 anos. Um quarto das crianças judias do ensino fundamental já são ultraortodoxas. Eles também constituem 40% dos membros do parlamento no governo de coalizão, assim como 40% dos novos soldados e oficiais nas unidades de combate. Isso dá a eles uma quantidade desproporcional de influência, da qual se utilizam.

Até o exército já está se adequando, e as mulheres hoje são menos frequentemente enviadas para unidades com soldados ultraortodoxos.

Poucos meses atrás, candidatos religiosos a oficiais deixaram uma festa onde as mulheres estavam cantando, dizendo que isso levaria a pensamentos impuros. Um rabino influente disse depois que preferiria ficar diante de um esquadrão de fuzilamento a ouvir uma mulher cantando.

Desde então, membros do Parlamento, generais e rabinos estão discutindo a questão das mulheres cantando. O principal rabino de Israel emitiu uma opinião religiosa de oito páginas, na qual ele argumenta que o exército deve proibir as mulheres de cantar quando estudantes religiosos estão ouvindo. Um legislador do “Partido dos Guardiães Sefardis da Torá”, ou Shas, propôs que, no futuro, os soldados religiosos recebessem tapa ouvidos.

O Shas é chefiado pelo rabino de 91 anos Ovadia Josef, conhecido por marcar seus comentários com tapas na cara. Seu filho, também rabino, acredita seriamente que as mulheres não devem ter permissão para dirigir. Longe de ser um estranho, Josef é um dos homens mais poderosos de Israel, e seu partido e faz parte de quase todos os governos nas últimas duas décadas, inclusive o atual. Os primeiros ministros acatam sua opinião quando pedem aprovação para decisões envolvendo guerra e paz.

[b]Independente do governo
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De muitas formas, Israel já se parece mais com o Irã do que com a Europa. É um país ande não há casamento civil e onde os rabinos mandam nos casamentos e divórcios. Também é um país em que as crianças ultra ortodoxas não aprendem matemática ou inglês, onde cada jardim de infância e cada batalhão militar tem um rabino e onde o ministro da infraestrutura quer submeter as usinas nucleares à supervisão dos rabinos, para que até a eletricidade esteja de acordo com as leis de pureza religiosas.

Todas essas coisas existem há décadas, mas agora os radicais ortodoxos estão cada vez mais ocupando posições importantes e, assim, impondo sua marca sobre a maioria secular.

Por muito tempo, os políticos nada fizeram. Eles estavam constantemente dando aos seus parceiros religiosos de coalizão mais dinheiro e moradias para sua clientela ultra ortodoxa. De outra forma, deixavam os ortodoxos e paz -junto aos extremistas.

É por isso que homens como Joelisch Kraus, 38, hoje estão estabelecendo o tom das coisas. Kraus é um dos que tem ódio de Israel, do Neturei Karta, grupo antissionista ultra ortodoxo. Ele mora em Me’ah She’arim, no meio de Jerusalém -e ainda faz parte de uma sociedade paralela do século 19. Ele nunca assistiu televisão, não tem carteira de identidade e fala ídiche. Ele só pega ônibus que não sejam operados pela empresa de transportes do governo, a Egged. O lixo tornou-se um problema para Kraus, mas ele resolveu a questão usando a lixeira do vizinho. Tudo isso o torna independente do governo, e o governo independente dele. Lentamente, ele está minando o governo, recusando-se a participar da sociedade. Ele acredita que esta é a forma que deve ser, porque, como diz, os judeus não devem governar a terra santa até que Deus envie o Messias.

No início da noite, Kraus retorna das lições de Torá. Seu filho pula em seu colo e puxa seus cachimbos. Sua esposa está varrendo o apartamento de dois cômodos com uma enorme vassoura. Eles têm treze filhos. Sete deles dormem na cama dos pais, dois no assento próxima à janela e o resto, no chão.

[b]Pedras nos ônibus
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Quais são as tarefas da mulher? Ele parece intrigado. “Bem, ela deve estar em casa e fazer todas as coisas que têm que ser feitas, como ter filhos, criá-los e lavar a roupa. Esse é o papel delas”, explica Kraus com o jeito gentilmente amigável de uma pessoa que comete crimes por convicção. “Isso é tudo”.

Para que assim seja, Kraus está liderando uma cruzada contra a era moderna, para que as mulheres não queiram educação e empregos, tirando o mundo ultraortodoxo de seu equilíbrio. Não é coincidência que e a guerra cultural esteja sendo travada agora, quando cada vez mais judeus religiosos participam da vida militar e do mercado de trabalho, apesar das proibições dos rabinos.

Me’ah She’arim hoje parece uma aldeia gaulesa que está se defendendo contra os romanos, e Joelisch Kraus é Asterix. Os romanos são os representantes do Estado e os seculares. Kraus e seus colegas ultra ortodoxos dividem as ruas durante os festivais religiosos, com um lado para as mulheres e outro para os homens. Se as coisas fossem do jeito que eles querem, essa separação também se aplicaria à vida diária.

Eles jogaram pedras nos ônibus não segregados que passa pela região até que a Egged suspendeu seu serviço pelo bairro por mais de um ano. Agora, os ônibus voltaram a operar, mas com uma escolta policial.

“Os judeus não religiosos perderam Jerusalém há muito tempo. Eles podem ter um prefeito secular, mas eles só imaginam que estão no comando”, Kraus ri. Ele conhece os índices de natalidade e sabe que o tempo está do lado dele. “Nós dirigimos Jerusalém”, diz ele.

[b]Fonte: Der Spiegel[/b]

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