A Justiça da Argentina condenou nesta terça-feira, 9 de outubro, a prisão perpétua, o padre Christian Von Wernich (foto), 68 anos, o primeiro religioso condenado por crimes contra a humanidade durante a ditadura militar (1976-1983).

O ex-capelão da Polícia da província de Buenos Aires, de 68 anos, foi sentenciado à pena máxima prevista pelas leis locais por participar de sete homicídios qualificados, 31 casos de tortura e 42 privações ilegais de liberdade.

A condenação foi imposta pelo mesmo tribunal que, em 2006, condenou a prisão perpétua um ex-policial, no primeiro julgamento oral e público por violação a direitos humanos realizado após a anulação das “leis do perdão”, que tinham livrado mais de mil repressores da cadeia.

“Todos os fatos mencionados são crimes contra a humanidade no âmbito do genocídio”, afirmou o presidente do tribunal, Carlos Rozanski, após enumerar os casos pelos quais o padre foi condenado.

A decisão histórica foi realizada em meio a integrantes de organismos humanitários que se encontravam tanto dentro quanto fora da sede do tribunal e que receberam a notícia com aplausos e gritos de euforia.

Antes de saber o veredicto, Von Wernich rompeu o silêncio que manteve durante grande parte do processo e, recorrendo a passagens bíblicas, aludiu à necessidade de “reconciliação”.

“O fim não justifica os meios. Se queremos chegar à verdade, temos que fazê-lo com paz e reconciliação, porque um coração cheio de mágoa é um coração que não entende o que Deus quer e o que o homem precisa: reconciliar-se”, declarou.

Horas antes, o advogado de Von Wernich havia solicitado ao Tribunal Federal da cidade de La Plata que absolvesse o sacerdote, argumentando que durante o julgamento ficaram “mais dúvidas que certezas”.

“Talvez tudo esteja preparado antes de começar” para condenar a Von Wernich, ressaltou seu advogado, Juan Cerolini. Ele alegou que o processo “violou o princípio de igualdade perante a lei, como foram violados os julgamentos de Nuremberg e Tóquio”.

Cerolini assegurou que o religioso só “oferecia serviços sacramentais” às pessoas detidas pela ditadura”.

Durente as audiências, muitas testemunhas declararam que Christian Von Wernich colaborou com a ditadura, ao exercer o papel de “agente de inteligência”, um dos advogados de acusação.

As testemunhas disseram que o sacerdote se oferecia para ouvir as confissões de presos ilegais em centros clandestinos da ditadura para conseguir informações e que ele participou de sessões de tortura.

Durante o processo, que começou no dia 5 de julho, mais de 70 pessoas, dentre elas sobreviventes da repressão, parentes de desaparecidos e testemunhas de seqüestros depuseram contra o padre.

Também foram realizadas inspeções em quatro centros de detenção clandestinos, onde as testemunhas reconheceram os lugares por onde o padre circulava.

Entidades de direitos humanos vêm reivindicando com insistência que a hierarquia da Igreja Católica argentina se pronuncie sobre as ações de Von Wernich durante o regime militar.

Até o momento, só alguns bispos e sacerdotes questionaram “o silêncio” de parte da Igreja na chamada “guerra suja”, que deixou cerca de 30.000 desaparecidos, de acordo com números de entidades humanitárias.

Condenação de religioso foi “decisão histórica”, diz Governo argentino

O Governo da Argentina e organizações de direitos humanos destacaram a “decisão histórica” que condenou à prisão perpétua hoje o sacerdote católico Christian Von Wernich, o primeiro religioso sentenciado por crimes de lesa-humanidade cometidos durante a última ditadura militar no país.

O secretário de Direitos Humanos da Argentina, Eduardo Luis Duhalde, considerou que se trata de “uma decisão histórica” e disse que agora espera “que todos os responsáveis” por crimes cometidos durante o regime sejam punidos.

O secretário de Política Criminal e Assuntos Penitenciários da Argentina, Alejandro Slokar, declarou que a de hoje é a segunda decisão condenatória emitida por um tribunal do país por “delito de lesa-humanidade no marco do genocídio” perpetrado entre 1976 e 1983 no território argentino.

Christian Von Wernich, ex-capelão da Polícia da província de Buenos Aires, de 68 anos, foi condenado à prisão perpétua por participar de sete homicídios qualificados, 31 casos de tortura e 42 de privações ilegais de liberdade.

Às portas do tribunal da cidade de La Plata (60 quilômetros ao sul de Buenos Aires), onde foi realizado o julgamento, Mabel “Tati” Almeida, da organização Mães da Praça de Maio-Linha Fundadora, disse, entre lágrimas, estar “muito satisfeita” com a sentença.

Destacou o fato de o tribunal ter condenado Von Wernich pelo assassinato de María del Carmen Morettini.

“É algo muito forte, histórico e faz-se justiça após 30 anos. É hora de a Igreja se pronunciar, já que jamais o fez”, enfatizou Mabel.

A advogada Miriam Bregman, representante da organização “Justiça Já” – querelante no julgamento -, assegurou que ficou “provado que Von Wernich foi uma peça-chave do genocídio e que atuava nos centros de repressão”.

“Tínhamos de ganhar a batalha. Conseguimos mostrar a verdade e queremos seguir brigando para que se reconheça que são genocidas e que se merecem a prisão”, disse.

Bregman, que representa familiares das vítimas e organizações de direitos humanos, afirmou que agora trabalhará para que o ex-capelão “não obtenha privilégios” na hora de cumprir com sua pena, em um centro penitenciário da província de Buenos Aires.

Fonte: EFE e Último Segundo

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