Um líder chinês afirmou esta semana que os católicos do país devem funcionar “independentemente” de forças exteriores e promover o socialismo e patriotismo através da religião, num sinal de distanciamento entre Pequim e o Vaticano.

Yu Zhengsheng, um dos membros do Comitê Permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês (PCC), a cúpula do poder no país, falava no final da nona conferência dos católicos da China que reuniu em Pequim, durante três dias, o clero da Associação Patriótica Chinesa, a igreja católica aprovada pelo Estado e independente do Vaticano.

Yu apelou às igrejas católicas do país para aderirem ao “socialismo com características chinesas”.

O termo descreve o modelo de desenvolvimento chinês, assente na liberalização da economia e manutenção de um Estado totalitário.

O PCC, que governa o país desde 1949, proíbe os seus membros – mais de 80 milhões – e os funcionários públicos de seguir qualquer religião.

Citado pela imprensa estatal, Yu Zhengsheng disse que os católicos chineses devem seguir “a direção correta de desenvolvimento”.

Na China, as manifestações católicas são apenas permitidas no âmbito da igreja “oficial”.

Pequim e a Santa Sé, que não têm relações diplomáticas, divergem sobretudo na nomeação dos bispos, com cada lado a reclamar para si esse direito.

Muitos dos cerca de 12 milhões de católicos chineses optam por celebrar a sua fé em igrejas clandestinas, que juram lealdade a Roma, arriscando represálias das autoridades.

No início deste ano, o papa Francisco disse que Pequim e o Vaticano formaram grupos de trabalho, para abordar a questão da nomeação dos bispos, e que está “otimista” de que será encontrada uma solução.

Na semana passada, contudo, o Vaticano lamentou que a ordenação de dois bispos chineses tenha sido feita na presença de um bispo designado por Pequim e não reconhecido pelo papa.

Esta semana, Wang Zuoan, diretor da Administração Estatal para os Assuntos Religiosos, afirmou que Pequim espera que o Vaticano adote uma postura “flexível” e “pragmática” e medidas concretas que favoreçam a melhoria das relações.

Citado pela agência oficial Xinhua, o responsável não detalhou quais as medidas que Pequim espera do Vaticano.

A imprensa estatal informou também que o bispo Ma Yinglin foi reeleito presidente de um dos grupos que participaram na conferência.

Ma foi excomungado pelo papa, em 2006, depois de ter sido designado pela igreja chinesa bispo na província de Yunnan, sudoeste da China.

O portal de notícias AsiaNews, considerado próximo do Vaticano, citou na quinta-feira um padre do norte da China que acusou o encontro promovido por Pequim de ser “uma representação teatral”

“Tudo foi bem planeado: os papéis atribuídos, os discursos, a audiência bem escolhida, quem levantou a mão e aprovou as decisões, a cobertura noticiosa”, afirmou o padre, identificado apenas como Peter.

Em entrevista à agência Lusa, um padre europeu radicado há três anos na China afirmou também que apesar de existir um “diálogo” entre a China e a Santa Sé, “quem está no terreno não vê uma solução para já”.

“Conhecendo agora melhor a China, entendo porque fazem tanta questão de ser eles a escolher os bispos”, notou o sacerdote, que prefere não se identificar. “O cristianismo representa um poder exterior, que está a coordenar coisas na China”.

“Para eles, isso é algo impensável”, disse.

[b]Fonte: Portal Canal – Portugal[/b]

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