A fé como caminho para superar a dor. A família de Hugo Ronca Cavalcanti, 12 anos, tem buscado na religião forças para amenizar o sofrimento. Numa triste coincidência, a semana prometia ser de festejos na casa do estudante, que morreu sábado, após ser baleado na cabeça, no Leblon, dia 1º.

Ontem, foi a festa de formatura do Ensino Médio do irmão mais velho. Hoje, a mãe, Sandra Cavalcanti, completa 45 anos.

“Muda tudo na sua vida, muda o jeito de ver as coisas.Nesses momentos, você busca força na fé, na esperança. Sem querer, você acaba descobrindo que é mais forte do que pensava. Uma corrente positiva se formou. Cheguei a ver um guarda chorando por causa do meu filho”, contou Sandra.

A tragédia trouxe lições e aproximou realidades diferentes. Na mesma unidade pediátrica do Hospital Miguel Couto, no Leblon, onde Hugo ficou internado durante uma semana, crianças convalesciam sem assistência familiar. “Vi crianças no CTI que não recebiam visitas porque os pais não tinham dinheiro para pagar passagem”, afirmou Sandra, emocionada.

Filho de classe média, Hugo era um aluno exemplar. O pai, orgulhoso, guarda o boletim que foi entregue na semana antes da tragédia. “Ele chegou eufórico e disse: Pai, minha menor média foi 8,5”. Brinquei: “Só isso, filho. Depois, rimos”, lembrou o analista de sistemas José Augusto Cavalcanti.

O laudo de balística do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) foi divulgado ontem e revelou que o projétil que matou Hugo seria de chumbo revestido de metal amarelo, de pistola calibre 45. O laudo aponta que a bala entrou pelo alto da cabeça e ficou alojada no tronco cerebral, atrás da orelha. Segundo fontes da polícia, o fato de a bala não ter atravessado o crânio e de as testemunhas não terem ouvido o disparo são fortes indícios de que o tiro partiu do Morro Chácara do Céu.

A polícia, no entanto, não descarta nenhuma hipótese, inclusive a de que o tiro tenha vindo de prédio próximo ao Clube Federal, no Alto Leblon, onde ele foi atingido. O calibre 45 é de uso exclusivo das Forças Armadas e tem alcance de até 1.500 metros.

A mãe de Hugo Ronca Cavalcanti não descarta a possibilidade de se engajar num projeto de cunho social por causa da tragédia na família. “Sigo o meu coração. Tenho coisas na minha mente. Vou decidir qual será o momento. Não quero ter um compromisso e depois não cumprir”, comentou Sandra Cavalcanti.

O estudante foi baleado no intervalo de um jogo de futebol, em que comemorava o aniversário de um amigo. “Ele deu um drible maravilhoso. Falei com ele, um amigo meu também o elogiou. Depois, acontece aquilo. Não dá para acreditar”, disse o pai, José Augusto Cavalcanti.

Na semana que vem, peritos do ICCE e especialistas vão se reunir para fazer o laudo conclusivo do caso. Juntos, eles vão analisar todo o material reunido para tentar apontar a origem e a trajetória do disparo, além da posição do menino.

A reunião que aconteceria ontem foi adiada porque a informação vazou para a imprensa. Os colaboradores que participarão da junta que realizará o laudo temem se expor. De acordo com a diretora do ICCE, Marta de Souza, ainda faltam elementos para a conclusão. Ela não descartou a hipótese de voltar ao local do crime para colher mais dados.

Fonte: O Dia

Comentários