Grupos militantes na Faixa de Gaza estão se armando e se preparando para uma possível retomada da violência, segundo evidências obtidas pela BBC.

programa de treinamento para homens e mulheres-bomba que está sendo oferecido pela organização militante Jihad Islâmico.

Wood conversou com uma palestina de 18 anos que atende pelo pseudônimo de Oum Anas. Ela está recebendo treinamento em um lugar secreto no norte da Faixa de Gaza.

O correspondente viu oficiais do Jihad Islâmico amarrarem uma faixa de mártir islâmica na cabeça de Anas e posicionarem um cinto com explosivos em uma mesa, ao lado de dois fuzis kalashnikov e da bandeira preta do grupo.

Segundo o correspondente, Anas, recém-casada, falou com firmeza e clareza a respeito da decisão de se tornar uma mulher-bomba – ou mártir, termo usado pelos militantes.

“Decidi me tornar uma mártir porque esse é o sonho de todo menino e menina palestino vivendo nessa situação”, disse Anas. “Tomei minha decisão há um ano”.

“Nós vemos a forma como os palestinos vivem, vemos o que a ocupação (por Israel) está fazendo conosco. Eles matam nossas crianças, nossas mulheres idosas, eles jogam bombas em nossas mesquitas mesmo quando estamos dentro, rezando”, prosseguiu.

“É por isso que nos tornamos mártires, para defender nosso país”.

O correspondente sugeriu que há outras formas de combater os israelenses e perguntou por que Anas havia escolhido aquela em particular.

“Tenho certeza de que este é o único caminho e é o caminho que amamos. Fomos criados para nos tornar mártires de Deus”, explicou. “Todos os palestinos foram criados para lutar em nome de Deus”.

“Claro que se apenas atirarmos pedras nos judeus eles vão ficar com medo, mas imagine o que acontece quando os pedaços de corpos voarem sobre eles”.

Wood comentou que Anas havia se casado há pouco tem

po e perguntou o que seu marido pensava de sua decisão de se tornar uma mulher-bomba.

“Quando meu marido se casou comigo ele sabia do meu modo de pensar. Ele sabe exatamente quem eu sou e dicidiu se casar comigo baseado nisso. O casamento não representa um obstáculo de maneira alguma”.

“Isto (a minha decisão) é uma inspiração que vem de Deus e você está certo do que está fazendo, escolheu seu caminho e não se arrepende”.

Ao ser indagada sobre o que seus pais e irmãos pensam de sua decisão, Anas explicou que a família não sabe.

“Mártires, homens ou mulheres, tem de trabalhar em segredo, ninguém pode saber. Você tem de tomar muito cuidado para não dar nenhum sinal do que está prestes a fazer.

“Às vezes eles sentem ou vêem os sinais do martírio no seu rosto, sentem que há algo diferente mas não sabem ao certo”.

O correspondente da BBC perguntou se Anas mudaria de idéia caso ficasse grávida.

“Eu teria o bebê, o criaria por algum tempo e depois o entregaria aos meus sogros para que eles tomassem conta dele. O bebê ficaria, como um pedaço de mim”.

Quanto ao tipo de alvo que estaria preparada para atingir, Anas não faz distinções entre civis e militares, mulheres e crianças.

“(Eu mataria) soldados israelenses e civis também, porque ambos tomaram nossa terra”, disse.

“Crianças são civis mas crescem e se tornam soldados. São todos iguais, todos foram educados para nos odiar”.

“Eles precisam saber que a Palestina é apenas para os palestinos”.

“A idéia (de que minha morte é iminente) está sempre na minha mente. Tomo cuidado a cada passo que dou porque sei que vou me sacrificar”, disse Anas. “Tento não cometer erros para que possa estar pronta para o martírio”.

Para o correspondente da BBC, a motivação por trás da decisão de Anas é religiosa e não nacionalista.

Durante muito tempo, a lei islâmica proibia que mulheres fossem usadas em operações militares, mas a lei foi alterada por clérigos islâmicos em Gaza há alguns anos.

Fonte: BBC Brasil

Comentários