Hayrunnisa Gül, a nova primeira-dama da Turquia, é uma mulher que preferia não ser notada, mas não se salvou das críticas dos setores laicos mais radicais em seu país, devido ao véu, o ‘hiyab’, que usa na cabeça.

A mulher do presidente recém-eleito, Abdulah Gül, tem 42 anos e não abandona o tradicional véu islâmico. Os críticos vêem nele um símbolo do islã político; ela retruca dizendo que faz parte de uma escolha pessoal

A recusa a ver a primeira-dama do país usar no palácio presidencial, ex-residência do fundador da Turquia moderna e laica, Mustafa Kemal Atatürk, um véu islâmico banido dos prédios públicos e das universidades, foi um dos principais argumentos da oposição à candidatura de Gül à presidência.

Esta situação provocou uma grave crise política no país de abril a maio, entre o partido no poder, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, islâmico moderado) e o exército, que se atribui a faculdade de ser guardião do caráter laico do Estado.

A oposição fez do véu de Hayrunnisa o eixo central do discurso. Os críticos consideram uma afronta à República laica uma mulher usar o véu no palácio presidencial.

O atual presidente, Ahmet Necdet Sezer, negou-se a convidar mulheres com o véu para as recepções no palácio, mesmo que fossem casadas com ministros.

Na qualidade de mulher do ministro de Relações Exteriores, Hayrunnisa viajou para dezenas de países e afirma que não teve problemas em usar o “hiyab” em nenhuma nação, exceto na Turquia.

A nova primeira-dama, que faz as cinco orações diárias obrigatórias dos mulçumanos, afirma que sua devoção não a impede de ser moderna e se diz indignada com as restrições impostas a mulheres em outros países mulçumanos.

“O véu cobre minha cabeça, não meu cérebro”, declarou.

“Tinha o costume de levar, de carro, meus filhos para a escola. Não posso imaginar a vida em um país onde as mulheres não podem dirigir”, disse.

Hayrunnisa ficou famosa em 2002, quando entrou com uma queixa na Corte Européia para os Direitos Humanos contra a Universidade de Ancara que recusou sua matrícula por causa do véu – o que atestaria, segundo a reitoria, sua militância islâmica.

Para não prejudicar o marido, ela retirou a queixa após a chegada ao poder do partido AKP no mesmo ano.

“Continuo desejando frequentar a universidade quando o problema se resolver, apesar de minha idade”, disse na época.

Kubre, de 22 anos, filha de Hayrunnisa, também usa o ‘hiyab’. Ela pode freqüentar a universidade, usando o truque de cobrir o véu com uma peruca, como muitas outras estudantes.

Para tentar apaziguar as angústicas dos meios defensores do laicismo, um estilista turco foi encarregado de desenhar um véu para a mulher de Gül, “combinando o glamour de Hollywood com a seriedade que sua posição exige”, segundo a imprensa local.

Hayrunnisa deixou a escola secundária aos 15 anos, para casar-se com Abdulah, um universitário de 31 anos na época. Eles se conheceram durante uma festa na cidade de Kayseri. O casal tem uma filha e dois filhos.

Fonte: EFE

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