Dez anos atrás, elas praticamente não existiam em Campina Grande. Os seguidores da chamada linha evangélica ocupavam apenas os assentos das igrejas tradicionais, trazidas para o Brasil no início do século XIX, como a Luterana, Congregacional, Metodista, Batista e Presbiteriana.

Passada uma década, os mais de 60 mil evangélicos campinenses seguem doutrinas e linhas com lastros semelhantes, mas divergentes em costumes e pontos secundaristas, adotados pelas mais de 50 denominações diferentes que existem na cidade. As ‘pequenas igrejas’, segundo dados da comunidade evangélica tradicional, somam aproximadamente 150 em Campina Grande.

Os nomes são os mais diversos e algumas respeitam em suas novas designações os nomes das denominações originárias, um exemplo, é a Ministério da Madureira, no bairro do São José, que é uma disseminação da Assembléia de Deus, considerada uma das pentecostais de maior difusão em todo o Brasil. Outras como Evangelho Pleno, Tabernáculo, Evangelho Quadrangular, Betesda, Jesus Cristo é o Maior – Igreja Viva 24 Horas, Sara Nossa Terra, Doutrina Primitiva, Casa de Oração Congregação Cristã no Brasil e inúmeras denominações diferentes estão espalhadas pela cidade. Conhecidas também como ‘igrejas independentes’, elas geralmente surgem de outras ramificações e ocupam cada vez mais espaços nos bairros, sobretudo nas periferias, conquistando adeptos logo que surgem.

Para o presidente da Vinac (Visão Nacional para Consciência Cristã), pastor Euder Fáber, que promove anualmente o Encontro para a Consciência Cristã, a conquista de adeptos faz parte de um processo social fácil de se explicar. “As pessoas são carentes de espiritualidade e estão sempre em busca de Deus, por isso, seguir uma doutrina evangélica, seja qual for a denominação, e mesmo nova, é algo atraente”, declara.
Seguir uma igreja recém-criada, porém, não é para o pastor, uma atitude contrária à ideologia evangélica. Isso, porque como frisa, não há na lei brasileira qualquer artigo que disponha contra a criação de novas denominações nem novos templos religiosos, já que é assegurado ao cidadão brasileiro, respeito à religiosidade, seja ela qual for. Esse direito tem garantido a formação de novas tendências religiosas dentro do próprio segmento protestante, erradicado na Alemanha no século XVI, por Martim Lutero, que ganhou o mundo inteiro e hoje conta com milhões de seguidores em todo o Brasil. Na opinião do presidente da Vinac, não importa que igreja evangélica – pelo menos das consideradas realmente da linhagem – a pessoa siga. ‘O mais importante mesmo é que as pessoas aceitem os ensinamentos que pregam a Cristo como Senhor’.

Professor diz que problemas são políticos

Para o professor e doutor em Teologia da Universidade Estadual da Paraíba, Eli Brandão, a formação de novas igrejas é o reflexo de inúmeros fatores, relacionados tanto a problemas de ordem política como teológicos dentro das próprias igrejas. Brandão esclarece, no entanto, que é preciso saber qual igreja realmente foi criada com o intuito de evangelizar. Há, na sua opinião, casos em que uma denominação é criada unicamente para fins mercadológicos, onde a obtenção de lucros consiste no objetivo geral.

Eli Brandão destaca que a pluralidade de grupos dentro de um mesmo segmento doutrinário denota um sincretismo religioso, no qual idéias divergentes se misturam, mas não são aceitas por todos. A criação de uma nova designação religiosa está quase sempre relacionada à divergência de pensamentos e idéias dentro das próprias igrejas. “Isso também acontece no Catolicismo”, lembra o teólogo, reforçando que a intenção mercadológica sempre está ligada ao fator político.

De acordo com o pastor Euder Fáber, as novas ramificações religiosas, que são milhares em todo o Brasil, surgem quando um pastor, um diácono ou presbítero, discorda de certos ensinamentos ou tradições praticadas pelas denominações religiosas seguidas e decidem criar uma nova designação, na qual possa disseminar suas crenças.

Mesmo baseados na Bíblia, como a maioria dos criadores fazem, ou dizem o fazer, os ensinamentos que são disseminados pelas novas igrejas podem estar envoltos, de forma sutil, de conceitos humanos com o objetivo de manipular a fé dos seguidores, segundo advertem os especialistas.

Estrutura é precária para acomodação

O maior problema, conforme ressalta o presidente da Vinac, é quanto aos locais onde as novas igrejas estão instaladas. Muitas delas, praticamente sem estrutura nenhuma, não oferecem qualquer comodidade aos freqüentadores e ainda podem oferecer riscos de incidentes. Espaços como garagens, onde mal cabem 20 pessoas, são usados como templos, sem a menor capacidade de acolher as pessoas. É intenção da Vinac iniciar ainda este ano um levantamento do número exato de igrejas evangélicas no município.

Pequenas casas, locais onde funcionavam mercearias ou outros estabelecimentos comerciais, entre outros imóveis inadequados funcionam como templos evangélicos na cidade. O maior número, conforme declara Eli Brandão, está concentrado na periferia, embora a classe média hoje em dia, esteja muito suscetível a seguir novas doutrinas e pensamentos religiosos.

O pastor Sebastião Tavares, da Primeira Igreja Batista de Campina Grande, a segunda evangélica mais antiga da cidade, com 84 anos, diz que o alastramento das pequenas igrejas está ligado a diversos fatores, sendo o maior, a facilidade de locomoção oferecida aos evangélicos. Essas igrejas, segundo o pastor, estão sempre localizadas nos bairros e os seguidores são moradores da própria área.

Fonte: Jornal da Paraíba

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