Uma professora de Direito de Cingapura que deveria dar um curso de direitos humanos na Escola de Direito da Universidade de Nova York (NYU) neste outono se afastou depois que os alunos protestaram dizendo que ela tinha uma postura homofóbica.

A Dr. Thio Li-ann, professora da Universidade Nacional de Cingapura, que também é intregrante do Parlamento de seu país, havia se oposto à anulação de uma lei do código penal – conhecida como Seção 377A – que criminaliza o sexo entre homens.

Durante um debate parlamentar em outubro de 2007, Thio disse que “anular o 377A é o primeiro passo de um projeto político radical que iria subverter a moralidade social, o bem comum e enfraquecer as nossas liberdades”. Ela também disse que a homossexualidade era um “transtorno de identidade de gênero” e que o sexo anal era equivalente a “enfiar um canudo pelo nariz para beber”.

O discurso atraiu uma atenção considerável na época, assim como a oposição à sua nomeação na NYU, de acordo com um artigo de 10 de julho do The Straits Times, jornal de língua inglesa de Cingapura.

Numa declaração divulgada na noite de quarta-feira, Richard L. Revesz, reitor da escola de direito da NYU, disse que Thio havia mudado de ideia sobre lecionar por causa da “atmosfera de hostilidade por parte de alguns membros de nossa comunidade em relação às suas ideias e por causa do pouco número de matriculados em suas disciplinas”. Como resultado, “a escola de direito irá portanto cancelar o curso de ‘Direitos Humanos na Ásia’ e o seminário sobre ‘Constitucionalismo na Ásia’, que ela deveria ensinar.”

Thio havia sido nomeada como professora de direito visitante. Uma mensagem de e-mail enviada para o seu escritório em Cingapura retornou na quarta-feira com uma resposta automática de ausência.

Nas últimas semanas, um grupo de estudantes e alunos formados enviou mensagens de e-mail para funcionários da NYU, pedindo que a nomeação de Thio fosse anulada. Uma petição online assinada por 748 pessoas, incluindo estudantes e alunos formados, disse que “ao trazer a Dr. Thio para a NYU, a escola de direito está agindo de forma contrária à sua própria política de não discriminação e enfraquecendo seu compromisso com o avanço dos direitos humanos no mundo.”

Ryan Golden, que é homossexual e entrará para o segundo ano de direito no outono, disse na quarta-feira numa entrevista: “Muitos estudantes escolhem a NYU porque ela tem uma reputação de ser simpática aos homossexuais e fortemente comprometida com os direitos humanos, e este é um movimento na direção errada.”

Golden disse que ele havia trocado mensagens de e-mail com Thio nas últimas duas semanas, e que ela havia defendido seus comentários sobre a homossexualidade e o acusou de interpretar erroneamente e distorcer suas ideias.

Numa declaração de 9 de julho, Revesz disse que apesar de a escola rejeitar o ponto de vista expresso por Thio, “acreditamos que a liberdade acadêmica exige que a discordância se expresse através de um vigoroso debate civil, e não através da tentativa de suprimir essas visões”.

Thio descreveu a si mesma numa entrevista ao The Straits Times em novembro de 2007 como uma ex-ateia que se converteu ao cristianismo aos 19 anos quando estudava na Universidade de Oxford. Ela disse que havia recebido e-mails violentos depois de falar contra a anulação da Seção 377A.

“Este é o meu batismo de fogo”, disse ela, segundo o jornal. “Há oito meses, eu era uma acadêmica feliz, tranquila, escrevendo meus pequenos artigos que ninguém nunca lia, exceto os 200 pobres alunos que precisam fazer as minhas provas. E talvez três acadêmicos fora do país.”

Fonte: The New York Times

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