Em entrevista para a Folha de São Paulo, padre Marcelo Rossi (foto) criticou o incentivo às comunidades eclesiais de base e a nomeação do pastor Marco Feliciano na Comissão de Direitos Humanos da Câmara.

Padre católico mais pop do Brasil, Marcelo Rossi, 45, prega a separação da religião e da política.

Ele se diz contra o incentivo da igreja às comunidades eclesiais de base. – que tiveram seu auge nos anos 1980 combinando princípios cristãos a uma visão social de esquerda – porque apresentam o risco de estimular a “tentação à política”.

“O PT surgiu da CEB. Então, que não se politize”, diz o padre.

Marcelo Rossi também se mostrou contra a nomeação do pastor Marco Feliciano na Comissão de Direitos Humanos da Câmara e o acusa de criar « guerrilha ».

Leia trechos da entrevista concedida à Folha:

[b]A igreja indicou que quer incentivar as Comunidades Eclesiais de Base para recuperar espaço em áreas pobres. Deve ser esse o caminho?
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Aí eu questiono. Acho as CEBs importantes, mas hoje nosso povo precisa de grandes espaços. Vejo nas missas do Santuário. Uma vela ilumina? E dez? E 20 mil? O Palmeiras estava sem 13 titulares, mas a torcida foi e eles se classificaram na Libertadores. Faz diferença. Os evangélicos erguem grandes locais, porque reúnem as pessoas. Se ficar fechado na CEB, esquecer a oração, ficar só na política… Se olhar os que estão no governo, a maioria surgiu da CEB.

[b]A CEB está na origem do PT.
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O PT surgiu da CEB. Então, que não politize. O perigo é este: cair na política.

[b]Acha que a igreja serviu de trampolim para integrantes do governo ou do PT?
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Não poderia julgar. A Igreja Católica é apartidária, pelo menos deve ser. Os evangélicos, às vezes, determinam em quem votar. Estamos voltando à Idade Média, o período mais terrível e negro da igreja.
Mas na campanha do ano passado houve episódios polêmicos envolvendo a Igreja Católica, como a declaração de dom Odilo contra a campanha de Celso Russomanno.
E dom Fernando depois se manifestou [disse que Russomanno era católico]. Russomanno saiu de encontro de casais. Fiz o casamento dele, batizei os filhos. Ele é católico. É fácil hoje você destruir uma pessoa. Veja o [deputado Gabriel] Chalita [acusado de receber favores de empresas quando era secretário estadual da Educação].

[b]Como avalia as denúncias contra ele, que é seu amigo?
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Fico perplexo. Estou esperando ele se manifestar. Nossa função é ficar quietinho, porque é um amigo que me ajudou muito. Quero ver o que vai ser provado. Se algo está errado, você vai falar [denunciar] depois de dez anos? É para destruir a pessoa.

[b]Acredita na inocência dele?
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Parto do princípio da confiança. Mas não sou cego. Se eu vejo alguma coisa que está errada… Por isso estou esperando que ele se coloque.

[b]Qual sua opinião a respeito do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) à frente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara?
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Ele tentou até me provocar [disse, em uma entrevista, que “padre Marcelo pede dinheiro e nunca se falou nada”]. Eu nunca pedi dinheiro. Pelo contrário. O jogo deles é criar guerrilha. A melhor coisa é ficar quieto. A Justiça do mundo pode tardar, mas chega. E credibilidade não se compra. Em 2010, a Folha fez uma pesquisa sobre em quem o brasileiro mais confiava, com 27 personalidades. Estava o Edir Macedo, que ficou lá em 20º [foi o 26º]. Fiquei em terceiro lugar. Eram Lula, William Bonner e eu.

[b]Ele deveria renunciar?
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Ele nem deveria estar lá, na minha opinião. A partir do momento em que se diz um pastor, não dá para ser ao mesmo tempo um líder político. Acho importante ter uma bancada católica, como existe a evangélica. Mas não acho correto padre, bispo, pastor se candidatarem, porque aí estou transformando um púlpito num palanque.

[b]Fonte: Folha de São Paulo e Tribuna Hoje[/b]

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